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Técnico do Bayern sugere ponto eletrônico — 20 anos após ousadia de Luxa

Julian Nagelsmann disse que o futebol deveria seguir exemplo da NFL e permitir comunicação entre treinador e atletas; relembre quando isso ocorreu no Brasil


Nagelsmann passa orientações a Müller; ao lado, Ricardinho com ponto eletrônico
Nagelsmann passa orientações a Müller; ao lado, Ricardinho com ponto eletrônico Getty Images e PLACAR/Reprodução

Vanderlei Luxemburgo costuma se autodefinir como um “treinador de vanguarda” e uma recente fala de Julian Nagelsmann, comandante do Bayern de Munique, parece lhe dar razão. O técnico alemão sugeriu, em entrevista jornal local TZ, que o futebol seguisse o exemplo do futebol americano e permitisse que atletas e comissão técnica pudessem se comunicar durante a partida por meio de um ponto eletrônico no ouvido. Há exatas duas décadas, conforme registrado em reportagens de PLACAR, Luxemburgo, então no Corinthians, não só sugeriu como colocou em prática a ideia — que, descoberta, acabaria proibida. 

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Segundo Nagelsmann, o avanço tecnológico poderia revolucionar o jogo. “O futebol americano é incrivelmente avançado em termos da tecnologia para comunicar com os jogadores. Por exemplo, o quarterback está sempre ouvindo o treinador no campo. É uma modalidade incrivelmente avançada em termos da especialização dos treinadores”, opinou. 

“Como treinador de futebol conseguimos retirar imensas coisas daí. É algo de que precisamos com toda a certeza no futebol. De preferência com a possibilidade de que o jogador possa falar com o treinador. É extremamente barulhento num estádio. Não há períodos de descontos, só temos o intervalo para discutir questões táticas com os jogadores. Fazemos tudo igual nos últimos 30 anos e não permitimos inovações. E o futebol ainda se esconde muitas vezes atrás da tradição e isso tem de ser quebrado”, completou o jovem técnico do Bayern. 

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Nagelsmann, que tem 34 anos e é 35 mais jovem que o técnico do Cruzeiro, não deve sequer imaginar que a tecnologia já foi utilizada em uma semifinal de Campeonato Paulista, entre Corinthians e Santos, em 2001. O palco dos dois jogos foi o Morumbi e o meia Ricardinho e o goleiro Maurício foram os escolhidos por Luxemburgo para entrar em campo com o ponto eletrônico. Foi com o aparelho no ouvido, aliás, que o meio-campista corintiano marcou o histórico gol da classificação, nos acréscimos da partida. Em entrevista a PLACAR em 2019, Luxemburgo citou aquela com a maior de suas várias ousadias.

“A coisa mais louca e genial que fiz foi adotar o ponto eletrônico, que usei no Paulistão de 2001, com o Ricardinho, do Corinthians. Ainda será usado no futuro. Há uma resistência desnecessária da Fifa, dá para fazer um ponto eletrônico seguro, de silicone, igual ao da TV. É preciso ter só um jogador com mais discernimento tático com quem se comunicar. Gostaria de usar dois pontos, com um jogador de linha e o goleiro, para orientar nas bolas paradas. Acho que usei em três jogos naquela época até descobrirem. Pediram para me prender, mas não era contra as regras.”

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Matéria de PLACAR de 19 de maio de 2001 destaca ponto eletrônico
Matéria de PLACAR de 19 de maio de 2001 destaca ponto eletrônico Reprodução/Placar

Outra reportagem de PLACAR, esta da época do ocorrido, escrita por Arnaldo Ribeiro, detalhou o fato. “O aparelho foi usado nas duas partidas contra o Santos (e não só na segunda, quando foi “descoberto”) e fez com que o clube da Vila entrasse com uma ação no tribunal da Federação Paulista pedindo a impugnação dos resultados. Em vão. Pelo fonezinho de 1.300 dólares, Maurício e Ricardinho puderam escutar instruções de Luxemburgo nas partidas”, escreveu Ribeiro na edição de 19 de maio de 2001, pouco depois do título do Corinthians.

“Quando Deivid foi substituído na primeira partida contra o Santos, Luxemburgo instruiu Ricardinho, via ouvido, a fazer o reposicionamento da equipe. Segundo ele, o ponto só foi descoberto porque caiu da orelha de Maurício na comemoração do gol. Alguém gritou: ‘Olha o ponto do Maurício’ e um repórter da Globo percebeu.” Vinte anos se passaram e o ponto eletrônico segue proibido, mas desejado por treinadores da nova e da velha geração.

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