Técnica e eficiência: Toni Kroos, o típico craque alemão
Contra a Suécia, camisa 8 exibiu qualidade e liderança dignas de Beckenbauer ou Matthäus e ainda foi decisivo como Gerd Müller ou Rummenigge
SOCHI – O Brasil teve Pelé, Garrincha, Romário, Ronaldo e tantos outros. A Argentina produziu gênios como Di Stéfano, Maradona e agora Messi. A França nos machucou com os craques Platini e Zidane. Portugal se orgulha de Eusébio e Cristiano Ronaldo. O holandês Cruyff e o húngaro Puskás também já representaram o jogo mais vistoso do planeta. Mas quem é o maior craque da história da Alemanha, país que chegou a mais finais de Copa do Mundo (8) e conquistou quatro títulos? A resposta costuma apontar para Franz Beckenbauer. Jogador de rara técnica e liderança, o Kaiser (lmperador) não chamava atenção por dribles ou gols, mas por sua eficiência. Quatro décadas depois, a Alemanha parece ter mais um líder à altura, Toni Kroos, o típico craque alemão.
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Kroos, de 28 anos, já é um velho conhecido dos brasileiros: marcou dois gols e foi o destaque do massacre do 7 a 1 há quatro anos, no Mineirão. Mas na ocasião ainda era um aprendiz no time que tinha Bastian Swcheinsteiger e Miroslav Klose como comandantes. Depois do título no Maracanã, foi para a Espanha ser peça indiscutível no Real Madrid tricampeão europeu, sempre como titular e com regularidade absoluta. Menos brilhante que seu parceiro croata Luka Modric, “o Cruyff dos Balcãs”, mais rápido, driblador e protagonista, um craque mais “óbvio”. Mas tão importante quanto.
“Kroos erra um passe a casa seis meses”, costuma repetir o nada econômico narrador Galvão Bueno sobre a principal qualidade do alemão. Contra a Suécia, neste sábado, em Sochi, Kroos errou alguns, um deles de forma grave, no lance que terminou no gol de Ola Toivonen que poderia ter tirado a atual campeã da Copa do Mundo da Rússia. Foi então que o meia formado no Bayern de Munique – com breve passagem pelo Bayer Leverkusen, onde foi companheiro do brasileiro Renato Augusto – exibiu uma das características dos grandes ídolos alemães: a resiliência, tão presente em Beckenbauer (que chegou a jogar uma semifinal de Copa de tipoia, com a clavícula deslocada) e Lothar Mathëus, o indestrutível capitão do tri em 1990 e único alemão a vencer o prêmio de melhor do mundo da Fifa.
Kroos não se abateu um minuto sequer com o erro e foi o dono do meio-campo, ditando o ritmo do jogo com passes longos e curtos e muita movimentação. Aliás, observando do plano aberto da arquibancada, é fácil desfazer um mito, o de que Kroos é um jogador lento. Ele, de fato, não é um velocista, dá poucos piques (no Real Madrid, essa função cabe ao brasileiro Casemiro), mas não caminha em campo jamais. Dá trotes curtos e está sempre disponível para receber o passe e distribuir o jogo. Foi o líder do time e, na ausência de Özil e em noite péssima de Thomas Müller, assumiu múltiplas responsabilidades. Lembrou Beckenbauer e Mathëus e ainda teve um momento de glória goleadora à la Gerd Muller ou Rummenigge.
Kroos já vinha fazendo uma partida notável, mas terminaria como o vilão da história não fosse aquele repente de inspiração e coragem aos 95 minutos de jogo. Em jogada ensaiada, auxiliado pelo toque de Marco Reus, enxergou o único espaço em que poderia surpreender o goleiro Olsen, desde que encontrasse a força e a curva exatas. Boom. Sua chuteira branca – um detalhe, aliás: Kroos usa o mesmo modelo desde 2013, contrariando até sua patrocinadora pessoal, por considerá-la a melhor e mais bela – acertou a bola no ponto exato e fez explodir o estádio em Olímpico Fisht. Manteve a Alemanha em boas condições de avançar e tirou um peso que Kroos nem pareceu carregar.
“Fiquei muito feliz por Kroos porque ele errou no gol sueco, uma infelicidade. Ele geralmente tem 100% de aproveitamento nos passes. Então muito fiquei feliz de ele marcar um gol vital para nós”, disse o técnico Joachim Löw ao final da partida. “Há duas formas de reagir a um erro como esse, se abalar ou seguir em frente. Eu segui tentando o tempo todo e, claro, estou muito feliz”, afirmou Kroos na zona mista. Com semblante tranquilo, sorriso tímido, frieza incomum minutos depois de um ato heroico. Um típico craque alemão.