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Sete é conta de mentiroso

O título de país do futebol, que fizemos por merecer, não nos cabe mais. Estamos dilapidando um patrimônio de prestígio que parecia eterno Não, os sete gols que os jogadores alemães meteram na seleção brasileira com facilidade constrangedora – até para eles – não mentiram. Foram o oposto de uma falsidade: um chamado à vida […]

O título de país do futebol, que fizemos por merecer, não nos cabe mais. Estamos dilapidando um patrimônio de prestígio que parecia eterno

Não, os sete gols que os jogadores alemães meteram na seleção brasileira com facilidade constrangedora – até para eles – não mentiram. Foram o oposto de uma falsidade: um chamado à vida real que soou brutalmente verdadeiro. Mentiroso era o nosso time, e isso não é constatação pós-desastre. Depois da partida contra o Chile, que merecíamos perder, escrevi aqui: “Emocionalmente descontrolada, taticamente confusa e, o mais espantoso, tecnicamente deficitária, tudo indica que a jovem equipe de amarelo – vamos falar claro – está amarelando sob a pressão de disputar uma Copa em casa”.

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Devemos concluir então que o pânico de uma equipe imatura, mal escalada e mal treinada, posta diante da obrigação de vencer a qualquer preço, explica toda a catástrofe do Mineirão? Não, mas sem ele qualquer explicação fica capenga. Perder da forte Alemanha era normal, mas a desonra do placar ridículo só pode ser compreendida se jogarmos na mesa a carta do desmoronamento psicológico de nossos jogadores.

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Quem vai dizer agora que aquele chororô todo não tinha importância? O debate acabou desvirtuado, como costuma ocorrer entre nós, e logo estávamos mais perdidos que Dante e Fernandinho diante de Müller e Kroos, num bate-boca sobre machismo, sensibilidade masculina e amor à camisa. Nunca foi essa a questão. A propensão de nossos atletas ao pranto convulsivo só tinha valor como sintoma. Era um sintoma de desequilíbrio, de despreparo, de medo. O time sempre soube que era fraco, embora estivesse na obrigação de jamais admitir isso nem para si mesmo. A tensão, insuportável, se aliviava com lágrimas e soluços.

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Nada disso seria pouco. No entanto, mesmo se deixássemos de lado os problemas que poderiam ter sido evitados por uma convocação mais lúcida, uma preparação menos preguiçosa e um esquema tático mais inteligente – ou seja, por uma comissão técnica minimamente antenada com o século XXI -, ainda assim sobraria outra mentira no futebol do Brasil. Uma mentira que está na base de todas e que é mais difícil de reconhecer e consertar.

O título de país do futebol, que fizemos por merecer, não nos cabe mais. Estamos dilapidando um patrimônio de prestígio que parecia eterno. Continuamos a produzir talentos por inércia (até quando?), mas faz tempo que estamos em decadência. Nosso estilo é feio, faltoso, provinciano e dependente do estalo de craques esporádicos – por cuja formação, aliás, não se faz quase nada. Confundimos técnica apurada com a habilidade para fazer firulas. Somos obcecados pela “destruição” e quase ineptos para a criação. Fornecedores de mão de obra para os países onde se joga bom futebol, ficamos nos enganando com campeonatos domésticos bisonhos disputados por clubes falidos em estádios vazios, num cenário administrativo de politicagem, corrupção e descaso. Aí vem uma Copa do Mundo e entra em cena o pensamento mágico: “Com brasileiro não há quem possa!”.

A maior lição que podemos tirar do inominável 8 de julho, com seus inesquecíveis sete gols, é o desmentido categórico dessa farsa. Se já não temos competência para ser o país do futebol, que se acabe de uma vez por todas com a obrigação inegociável de vencer, mesmo que seja apenas na base da “emoção”, porque isso é até maldade com os jogadores. E, se queremos voltar a vencer com calma e autoridade, está na hora de arregaçar as mangas e trabalhar para retomar a linha evolutiva do futebol que já foi o mais respeitado do mundo.

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Em 2018, juro que vou ficar feliz se formos eliminados nas quartas de final, numa partida bem disputada e jogando o fino da bola, como fez certa equipe comandada por Telê Santana. Foi em 1982 que começamos a perder o fio, não foi? Com tanta gordura para queimar, tantos títulos na bagagem, acho que o hexa pode tranquilamente esperar oito ou doze anos: temos tarefas mais urgentes diante de nós.

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