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Sem Dilma e sob pressão, Fifa abre seu Congresso em SP

A presidente, que tinha presença confirmada, não irá ao evento, que começa nesta terça. Suspeitas sobre Catar-2022 e rebelião europeia elevam a tensão

O governo não revelou o motivo da desistência da presidente, que recebeu Blatter na semana passada, em Brasília – quando Dilma posou para fotos segurando a taça e prometendo, de novo, que o Brasil fará a “Copa das Copas”

Os problemas dos países-sede não são a única dor de cabeça da cúpula da Fifa a dois dias do início da Copa do Mundo no Brasil. A entidade também enfrenta um momento difícil em seu âmbito interno – e nesta terça-feira, no primeiro dia de seu Congresso, em São Paulo, as eventuais falhas de organização do evento deste ano deverão ficar em segundo plano diante de outras questões espinhosas para os cartolas. A começar pelos escândalos que cercam a realização do Mundial de 2022 no Catar. Diante de indícios cada vez mais claros de que houve irregularidades no processo de escolha do país – que derrotou as candidaturas dos Estados Unidos, Austrália, Japão e Coreia do Sul -, a pressão sobre Joseph Blatter, presidente da entidade, é cada vez maior. O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, é um dos suspeitos de envolvimento no esquema corrupto que teria garantido a vitória do Catar. Para completar o cenário negativo, o evento desta terça, que reúne dirigentes de todas as federações e confederações, não terá mais a presença da presidente Dilma Rousseff, que cancelou sua participação.

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Além de Ricardo Teixeira, outro cartola que teve seu nome relacionado à suspeita de venda de votos para eleger o Catar é Michel Platini, presidente da Uefa – e ele também ameaça fazer barulho no Congresso, que acontece no Hotel Transamérica, na Zona Sul da capital paulista. É possível que os representantes da federação europeia realizem um protesto durante a reunião – eles pretendiam se negar a aplaudir o pronunciamento do cartola suíço na abertura do evento. Os europeus condenam a nova tentativa de reeleição de Blatter, que está no cargo desde 1998 e, depois de prometer que este seria seu último mandato, resolveu permanecer no poder. Platini costurava sua própria candidatura à presidência da Fifa, mas sabe que não deverá ser capaz de desbancar Blatter, que construiu sua base eleitoral principalmente entre as federações africanas e asiáticas. Se a luta pelo poder no comando da entidade é o principal motivo de atrito dentro do Congresso, fora dele a questão mais delicada e controversa é mesmo o Catar-2022.

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No fim de semana, a imprensa britânica noticiou que alguns dos principais patrocinadores da Copa do Mundo – as gigantes Adidas, Sony e Visa – estão cada vez mais preocupadas com a repercussão negativa da escolha do país-sede. As três divulgaram comunicados oficiais dizendo que aguardam esclarecimentos sobre o processo de votação na Fifa. O contrato da Fifa com a Adidas vale cerca de 780 milhões de reais; o da Visa vale 375 milhões. Mesmo que a entidade rebata todas as críticas – dos países derrotados no processo e de ONGs que denunciam condições de trabalho degradante no Catar, por exemplo -, a cobrança dos parceiros comerciais deve agravar a situação. Na quinta-feira, uma entrevista coletiva depois da reunião do Comitê Organizador, num hotel paulistano, acabou colocando Blatter na linha de fogo, ainda que o diretor de comunicação da Fifa, Walter de Gregório, tenha iniciado a sessão de perguntas ao cartola avisando que ele não poderia falar sobre a Copa de 2022. A imprensa europeia insistiu e fez repetidos questionamentos ao suíço sobre o escândalo do Catar.

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Governo – Outra notícia desconfortável para Joseph Blatter foi o cancelamento da presença de Dilma na sessão de abertura do Congresso. O governo não revelou o motivo da desistência da presidente, que recebeu o cartola na semana passada, em Brasília – quando Dilma posou para fotos segurando a taça e prometendo, de novo, que o Brasil fará a “Copa das Copas”. A relação entre os dois, entretanto, é conflituosa: em uma conversa recente com jornalistas brasileiros, a presidente disse que Blatter era “um peso” para a organização do evento; antes, Blatter revelara ter enviado uma carta reclamando da ausência de Dilma na final da Copa das Confederações, no ano passado. Vaiada na cerimônia de abertura do torneio de 2013, ela desistiu de discursar no primeiro jogo da Copa, na quinta, em São Paulo. Seu pronunciamento no Congresso da Fifa, portanto, passou a ser considerado o discurso oficial da chefe de Estado do país anfitrião.

Na segunda, a Fifa foi pega de surpresa pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo ao ser questionada sobre a ausência de Dilma. Walter de Gregório não sabia que a presidente havia desistido de comparecer ao Congresso. Em seguida, a entidade divulgou um comunicado dizendo que o ministro Aldo Rebelo representaria o governo, e que outros convidados seriam o ex-craque Ronaldo e a modelo Fernanda Lima, que viraram figurinhas fáceis nos eventos ligados à Copa. Dilma, por sua vez, permanecerá em Brasília até a quinta, quando assistirá à partida entre Brasil e Croácia na tribuna de honra do Itaquerão. A previsão era de que ela declarasse abertos os jogos da Copa, mas esse protocolo não está totalmente definido – afinal, mesmo essa breve declaração poderia ser seguida de vaias. Além da estreia do Brasil, Dilma deverá acompanhar mais dois jogos do Mundial: um duelo entre Alemanha e Portugal, em Salvador, ainda na primeira fase, e a grande final, no Maracanã.

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