Rio-2016: Wada também suspeitava de doping em atletas brasileiros
Órgão independente da entidade que pediu a suspensão do atletismo da Rússia revelou que laboratório brasileiro teve licença cancelada por suspeitas semelhantes.
A Agência Mundial Antidoping (Wada) suspeitou de atletas brasileiros na preparação para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016, revelou Richard Pound, presidente do órgão independente da entidade, o mesmo dirigente que pediu a suspensão do atletismo russo das próximas competições após divulgação de um escandaloso relatório na segunda-feira. Pound admitiu que a possibilidade de as equipes brasileiras usarem métodos ilegais para garantir bons resultados no maior evento já recebido pelo país preocupou a entidade.
“Sim, existia essa suspeita”, confirmou ao final de sua coletiva de imprensa, em Genebra, na Suíça. Segundo Pound, esse foi o motivo pelo qual o único laboratório credenciado no Brasil pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o Ladetec, foi suspenso. “Não havia confiança alguma”, indicou o dirigente canadense. O Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD/Ladetec) teve a licença cancelada em 2013, por não realizar as análises conforme os padrões internacionais. O local teve sua nova sede inaugurada em 2014 a um custo de 188 milhões de reais pagos pelo governo federal.
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Um novo caso de doping no atletismo
Para ele, os casos que foram identificados com atletas brasileiros mostravam que a preocupação era uma realidade. Pound aponta que esse foco no Brasil não aconteceu por acaso. “Se as entidades suspeitarem de algo, elas podem focar em determinados atletas”, contou. Ele, no entanto, não revelou qualquer tipo de irregularidade descoberta.
Desde 2001, o Brasil soma 30 casos de doping na natação e é superado apenas pelos 33 casos da China, segundo a Federação Internacional de Natação. Os russos vêm na terceira colocação, com 28 casos.
Na natação, o Brasil ainda tem metade dos casos que testaram positivo para diuréticos desde 2001, com oito incidências. Eles incluem Nicholas Santos e Henrique Barbosa em 2011, Evandro Vinicius Santos Silva em 2014, Pamela Alencar em 2012 e Daynara de Paula em 2010.
Entre 2008 e 2011, o ciclismo brasileiro ainda registrou 20 casos de doping. Em 2009, por exemplo, o Brasil somou no geral 33 casos de doping, entre eles Daiane dos Santos e outros 15 no atletismo.
Para Pound, a investigação russa é apenas “a ponta de um iceberg”. “Esse é apenas o começo da história e há muito mais”, disse. “A Rússia não é o único país e o atletismo não é o único esporte a ter essa realidade”, disse. Segundo ele, outro exemplo é do Quênia. “Se eles não resolverem a situação, outros virão para fazer o serviço”, ameaçou.
Pound acredita que a Wada tem sido “frouxa” demais com diversos países. “Temos o código antidoping por doze anos. Quem ainda não conseguiu implementá-lo é por falta de vontade. Todos os países precisam olhar para suas práticas e suas regras. Caso contrário, estarão ameaçados”, alertou.
Para ele, as revelações sobre os russos aprofunda o golpe na credibilidade dos esportes, já afetado com a corrupção na Fifa. “Esses são dois dos maiores esportes do mundo. Não podemos negar que a opinião pública terá cada vez mais a impressão de que tudo é corrupção. Se não pudermos mais acreditar nos resultados em campo, vivemos um sério golpe à credibilidade dos esportes”, concluiu.
Rússia – O Ministério dos Esportes russo se manifestou oficialmente nesta terça-feira sobre as acusações de participação do governo nos casos de doping no atletismo do país. O órgão prometeu colaborar com as investigações, mas afirmou que um possível banimento da Rússia nas competições de atletismo não teria cabimento.
“Pedimos à Wada que se baseie em fato e provas. Não acreditamos que a comissão tenha competência para decidir sobre as ações das organizações esportivas internacionais, das quais os representantes russos são membros de pleno direito”, diz comunicado.
“A comissão trabalhou muito e suas recomendações vão ajudar a Rússia e melhorar seu controle. O ministro Vitaly Mutko vai estudar as conclusões e os fatos em que foram baseadas para tomar as medidas apropriadas”, acrescentou. A Federação Internacional de Atletismo (IAAF) anunciou que a Federação Russa tem uma semana de prazo para se defender das acusações.
(com Estadão Conteúdo)