Rio 2016: Torben Grael diz que Eduardo Paes ‘não sabe o que fala’
Iatista critica o prefeito do Rio e diz que situação da Baía de Guanabara é cada vez mais preocupante
A poluição da Baía de Guanabara, sede das competições de vela das Olimpíadas 2016, é a principal preocupação do Rio de Janeiro, a menos de 500 dias do início do evento. Para Torben Grael, maior medalhista olímpico do país e diretor técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela), as recentes declarações do prefeito Eduardo Paes (PMDB) sobre o assunto devem ser desconsideradas.
De acordo com o prefeito, a poluição não prejudicará as competições, pois a Olimpíada está marcada para uma época de pouca chuva na cidade (agosto), a área de competição fica perto da saída para o mar e barcos podem ser empregados para retirar os resíduos sólidos. A tese de Paes irritou Torben Grael. “Ele não sabe nada do que fala, não tem conhecimento de causa algum para falar sobre a questão do lixo. Não serve como referência”, afirmou o velejador, durante a disputa do Mundial da classe Soto 40, em Florianópolis.
Leia também:
Rio-2016: ONG dos irmãos Grael rejeita fazer limpeza da Baía de Guanabara
Rio-2016: projeção coloca Brasil na 8ª posição do quadro de medalhas
Brasil já tem mais da metade das vagas garantidas
A 500 dias da Olimpíada, Rio acelera obras
Rio-2016 divulga calendário de eventos-teste dos Jogos
Paes costuma dizer que a responsabilidade de limpar a baía é do governo estadual, chefiado por Luiz Fernando Pezão (PMDB), e lamenta que a cidade esteja desperdiçando a oportunidade de utilizar os Jogos Olímpicos para limpar definitivamente um de seus cartões postais. O governo do Estado prometeu tratar 80% do esgoto na Baía de Guanabara até o início dos Jogos, mas, de acordo com Torben Grael, as condições da área no momento são desanimadoras.
“Não melhorou em nada. Pelo contrário, a situação tem piorado. A população no entorno da Baía de Guanabara vem crescendo e os investimentos são inexpressivos nesse sentido. O Brasil foi indicado como sede em 2009 e se passaram seis anos sem que fosse feita uma ação significativa na área. A qualidade da água não vai melhorar, mas em relação ao lixo muita coisa ainda pode ser feita. Está tudo muito devagar e a corda no pescoço aperta cada vez mais.”
Em março, o governo do Estado do Rio de Janeiro chegou a anunciar, em caráter de urgência e sem licitação, a contratação do Instituto Rumo Náutico, organização não governamental da família Grael, por um período de 18 meses ao custo de 20 milhões de reais para trabalhar na despoluição da Baía de Guanabara. O projeto foi elaborado sem custos por Axel Grael, vice-prefeito de Niterói e irmão mais velho de Torben. A ONG da família, no entanto, desistiu da empreitada em função do alto risco institucional envolvido e por discordar do modelo de contratação. “O projeto que elaboramos é excelente para enfrentar o problema do lixo, mas não é nosso instituto que deve implementá-lo. O fato de nada ter sido realizado até agora não justifica uma contratação sem licitação e de modo emergencial. Só ficou emergencial justamente porque nada foi feito”.
A vela é fundamental nos planos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de colocar o Brasil entre os dez melhores países no quadro de medalhas. Robert Scheidt (Laser), Martine Grael e Kahena Kunze (49er FX) e Jorginho Zarif (Finn) estão entre as esperanças do país. Torben é, ao lado do também iatista Robert Scheidt, o maior medalhista olímpico do Brasil, com cinco medalhas conquistadas – duas de ouro (Atlanta-1996 e Atenas-2004), uma de prata (Los Angeles-1984) e duas de bronze (Seul-1988 e Sydney-2000).
(Com Gazeta Press)