Renascimento: como a Itália voltou a ser uma potência 4 anos após vexame
Técnico Roberto Mancini assumiu um time destroçado após ficar fora da Copa. Agora, ‘Azzurra’ está há 33 jogos sem perder e a um passo da glória em Wembley
San Siro, 13 de novembro de 2017. Um empate em 0 a 0 com a Suécia em pleno estádio em Milão deixou a Itália fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez desde 1958. Era o fundo do poço, o capítulo final de uma crise que já durava muitos anos, mas também uma oportunidade de se reinventar. Menos de quatro anos depois, a Azzurra voltou a brilhar e pode coroar seu renascimento no próximo domingo, 11, na final da Eurocopa em Wembley, diante da anfitriã Inglaterra, que também passou por processo semelhante.
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A má fase do futebol italiano teve início após o título mundial de 2006. Uma geração já um pouco envelhecida, sem peças de reposição para o futuro, viu a dominância se perder no futebol de seleções. Antes do fracasso em 2017, a Itália já havia caído na primeira fase nos Mundiais de 2010 e 2014. Concomitantemente, os tradicionais clubes da Itália atravessaram anos de decadência e a dominância da Juventus não significou uma formação de atletas do mais alto nível. Foi também a época de consagração de Pep Guardiola, o técnico que elevou a valorização da posse de bola a um novo patamar.
Estava claro, portanto, que uma mudança precisava ser feita e passava não só pela busca por novos talentos por uma mudança de estilo. Enquanto a seleção nacional acumulava fracassos, nasciam, na Serie A, algumas tendências, como os projetos de Atalanta e Sassuolo, dois times pouco tradicionais que passaram a jogar futebol vistoso e moderno, e impulsionaram o surgimento de jovens jogadores. A formação de atletas na Itália mudou de patamar e, ano após ano, revela nomes com bom futuro.
Já fora da Copa do Mundo de 2018, a Federação Italiana apostou no treinador Roberto Mancini para comandar a reconstrução da tetracampeã mundial. Pra isso, precisaria aliar bons resultados com a remontagem de um elenco. Em 36 jogos, 63 jogadores foram utilizados. Entre eles, algumas peças destaques, como os veteranos zagueiros Giorgio Chiellini e Leonardo Bonucci, e os jovens destaques o goleiro Gianluiggi Donnarumma (22 anos) os meias Manuel Locatelli (23) e Nicolo Barella (24) e o atacante Federico Chiesa (23)
Os talentosos goleadores Lorenzo Insigne (30) e Ciro Immobille (31), que sofreram para desabrochar suas carreiras no futebol europeu, ganharam confiança e se tornaram peças fundamentais no elenco. Há também três brasileiros naturalizados: o zagueiro Rafael Tolói e o lateral Emerson Palmieri, que compõe o elenco, e o meio-campista Jorginho, um dos destaques do time e também Chelsea, campeão europeu.
Ainda no fim de 2019, em entrevista coletiva, Mancini já demonstrava confiança no que estava por vir. “Estamos felizes por dar uma identidade à equipe, que joga um futebol ofensivo e ao mesmo tempo defende relativamente bem. Nós temos quase um ano antes da Euro, temos que melhorar, mas o objetivo é vencer.”
É fato: o time encaixou. Sem perder há 33 jogos (27 vitórias e 6 empates), a Itália joga um futebol diferente do tradicional ‘catenaccio’. A Azzurra de Mancini propõe jogo, sufoca o adversário e cria muito; é um estilo proativo, que encanta muitos. Em números, o modelo de jogar pode ser traduzido. Na atual fase invicta, o time italiano marcou 86 gols e sofreu apenas 10. Além disso, nesta Eurocopa, segudo o SofaScore, a seleção italiana tem o segundo melhor ataque, média de posse de bola maior que 50% e é o segundo time que mais finalizou.
“Estamos muito felizes, o mérito é todo dos jogadores, que sempre acreditaram. Agora nos falta o último passo, e temos que nos recuperar, porque hoje foi um jogo muito exigente”, afirmou Mancini após a vitória sobre a Espanha na semifinal.
A trajetória é bonita e encanta. A primeira coroação do trabalho pode chegar no mítico Wembley, o bicampeonato europeu após 53 anos. Independentemente do resultado, a reconstrução do Calcio já gera resultados e a tendência é chegar forte em Catar, no ano que vem.