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Regata dirá se Rio conseguiu isolar veleiros da poluição

Despoluição da Baía de Guanabara é objetivo distante, mas Estado e município fizeram mutirão para evitar que lixo flutuante cruze o caminho das embarcações que participam do primeiro evento-teste da Olimpíada de 2016

A partir deste sábado, dia 2, e durante a semana seguinte, 324 velejadores de todo o mundo estarão singrando a Baía de Guanabara na Regata Internacional de Vela, uma das maiores competições do mundo na categoria e o primeiro – e importantíssimo – evento-teste da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Em volta, terão o conhecido cenário de tirar o fôlego: Pão de Açúcar logo ao lado, Cristo Redentor mais ao longe, Aterro do Flamengo, ponte Rio-Niterói. Na água, porém, mora o perigo na forma de bichos mortos, colchões, eletrodomésticos e todo tipo de plástico que, vira e mexe, aparecem boiando na baía, ainda uma lixeira a céu aberto. Num esforço para impedir o encontro de veleiros com resíduos mal cheirosos – e a transmissão dessa imagem para o mundo, pesadelo número 1 da organização da Olimpíada -, a Secretaria do Meio Ambiente do estado e companhia de água e esgoto da região metropolitana uniram-se em mutirão nos últimos meses para tentar garantir a limpeza, pelo menos, dos trechos onde a regata vai acontecer. “Nosso trabalho era dar condições de navegação aos veleiros, e isso nós fizemos. Há metas mais ambiciosas para 2016, que também serão alcançadas”, afirma o secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, referindo-se ao compromisso do governo de que, quando a Olimpíada começar, 80% do esgoto que deságua na baía será tratado.

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No esforço conjunto, os órgãos municipais cuidaram de ampliar o tratamento do esgoto procedente da cidade do Rio (52% hoje) e de Niterói (90%). Ao mesmo tempo, reformaram e reativaram quatro estações de captação de lixo subaproveitadas. A isso se juntou a compra, pela Secretaria do Meio Ambiente, de dez “ecobarcos”, coletores do lixo que boia na água, especialmente para o evento-teste de agora. Eles entraram em ação a partir de janeiro e, na semana da regata, serão reforçados por outras dez embarcações do gênero cedidas pela Petrobras e outras empresas. Essas medidas dariam conta, em teoria, de boa parte da limpeza (pelo menos da cosmética) da Baía de Guanabara, não fosse o fato de que só cuidam da metade dela que vai da ponte Rio-Niterói até o mar aberto. Na outra metade, a que banha a Baixada Fluminense e São Gonçalo, a maior parte do esgoto não é tratada. Pior: sequer há rede de esgoto abrangente. O resultado é uma montanha de lixo perenemente acumulada ao norte da baía. Os percursos da regata da semana que vem não passam por lá, mas a sujeira se move; e dependendo das marés e dos ventos, pode se mover justamente na direção dos veleiros – e das câmeras de TV.

A limpeza da Baía de Guanabara nesta regata é ponto de honra para a organização da Olimpíada porque é exatamente lá, nesta mesma época do ano, que a vela vai disputar medalha em 2016. A reputação do local não favorece uma boa impressão. Em junho, o New York Times publicou longa reportagem sobre o lixo flutuante. Na semana passada, o australiano Matthew Belcher, medalha de ouro em Londres, num treino para a regata tirou foto de um cachorro morto boiando ao lado do seu veleiro. Há um ano, em uma competição pré-olímpica, um pedaço de plástico grudou no casco e prejudicou o desempenho de um barco. Velejadores brasileiros que conhecem bem a área frequentemente reclamam da sujeira e do esgoto que, tratado ou não, continua a ser lançado nela. “Como morador do Rio e coordenador técnico da equipe olímpica, espero que seja feito o possível para melhorar de fato o local de prova. As autoridades falam muito e fazem pouco”, dispara Torben Grael, brasileiro recordista de medalhas na vela.

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Com belas praias interditadas aos banhistas há meio século, os projetos de limpeza efetiva da baía têm sido um sorvedouro de dinheiro público sem resultado visível – como o ambicioso Programa de Despoluição da Baia de Guanabara (PDBG), de 1994, que consumiu 1 bilhão de dólares antes de ser descartado por sua ineficiência. Com ou sem tratamento, nela se deposita o esgoto de 9 milhões de pessoas, um despejo dez vezes maior do que seu próprio volume. Diante da enormidade do problema, as medidas tomadas para a Olimpíada são um começo, mas não passam disso. Despoluir de verdade requer, além da remoção do lixo visível, tratar 100% do esgoto despejado em estações de alto grau de eficiência (nem todas são atualmente) ou desviá-lo para alto mar, dar fim ao lodo impregnado de poluentes e, feito isso, fiscalizar para que a sujeira não volte. Antes que isso aconteça, muita água (suja) ainda vai rolar.

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