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Racismo na Rússia: o que se sabe sobre o caso Malcom no Zenit

Faixa no estádio e histórico do clube de São Petersburgo levantaram denúncias de preconceito. Diretoria alegou que mensagem foi mal interpretada

Uma faixa exposta na Arena do Zenit, em São Petersburgo, no último sábado 3 levantou denúncias de racismo por parte da torcida do tradicional clube russo contra contra o atacante brasileiro Malcom, recém-contratado junto ao Barcelona. Nesta segunda-feira, 5, a direção do Zenit negou qualquer teor preconceituoso e acusou a imprensa ocidental de ter mal interpretado a mensagem exibida durante a partida contra o Krasnodar pelo Campeonato Russo. O caso gerou grande repercussão na Europa e no Brasil.

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“Obrigado aos diretores por respeitarem nossas tradições”, dizia a faixa atrás do gol. Jornais europeus, como o francês L’Équipe, consideraram a mensagem como uma ironia, levando em consideração o histórico racista de uma parte da torcida do Zenit, que é abertamente contra a contratação de estrangeiros.

Diante da repercussão do caso, o Zenit resolveu se manifestar. Primeiro, postou um vídeo do momento em que Malcom entrou em campo. “Veja você mesmo, não com a palavra de outros”, escreveu. Horas depois, divulgou um comunicado, disponível em inglês, no qual voltou a negar racismo.

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“O Zenit tem uma larga tradição de contratar os melhores jogadores de todo o mundo, independentemente de suas origens, etnia e nacionalidade”, apontou a nota, que ainda lamentou a atitude de “jornalistas e clubes de futebol”, ao noticiarem “acusações depreciativas”. O Corinthians, que revelou Malcom, foi um dos primeiros a manifestar apoio ao atacante nas redes sociais.

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Malcom, contratado por 40 milhões de euros (172,8 milhões de reais) junto ao Barcelona, fez sua estreia ao entrar aos 27 minutos do segundo tempo. Apesar do pouco tempo em campo, o jogador de 22 anos participou bastante do jogo. Em seu perfil no Instagram, o atacante disse que teve “ótimas sensações” durante a partida e não fez qualquer menção a racismo.E recebeu mensagens de apoio de centenas de torcedores russos.

Histórico de racismo em São Petersburgo

O atacante Ari, brasileiro naturalizado russo, estava em campo pelo lado do Krasnodar e afirmou não ter visto os atos racistas, “Não vi nada, estava concentrado na partida”, disse, em entrevista a VEJA. Ele está desde 2010 na Rússia e já defendeu a seleção europeia. O atacante fez ressalvas, contudo, ao comportamento dos torcedores de São Petersburgo. “Acho que é a única cidade da Rússia que ainda tem isso. Mas eu nunca mais vi. A última vez que isso aconteceu aqui foi comigo. De modo geral, melhorou muito.”

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A intolerância dos torcedores do Zenit com jogadores de outras etnias não é uma novidade. Está disponível na internet um “manifesto” de um grupo de torcedores radicais que desaprova a chegada de atletas negros e homossexuais, ou que simplesmente não façam parte “de nações irmãs eslavas, dos estados Bálticos e da Escandinávia”. “Temos a mesma mentalidade e passado histórico e cultural dessas nações”, diz o comunicado.

“Não somos racistas, mas para nós a ausência de futebolistas negros no plantel do Zenit é uma importante tradição que reforça a identidade do clube”, afirma o grupo, que acrescenta: “Somos a equipe mais ao norte das grandes cidades europeias e nunca tivemos vínculos com a África, a América Latina, Austrália ou Oceania. Não temos nada contra habitantes destes continentes, mas queremos que joguem no Zenit atletas afinados com a mentalidade e o espírito da equipe”.

O jogador Hulk do Zenit
Hulk foi vítima de racismo na Rússia Kirill Kudryavtsev/AFP/VEJA

O Zenit, atual campeão russo e frequentador constante das ligas europeias, teve como uma de suas referências o atacante brasileiro Hulk, que esteve por lá entre 2012 e 2016 e conviveu com idolatria e também com episódios de racismo, um problema que ainda atinge diversos clubes de toda a Europa.

Há alguns anos, o Zenit, clube bancado pela empresa estatal Gazprom e fortemente ligado ao presidente Vladimir Putin, mantém um discurso afinado sobre o tema. Diz ser vítima de uma campanha difamatória da imprensa europeia, especialmente a inglesa, devido a conflitos entre o governo de Moscou com o Reino Unido, e trata os casos de racismo como isolados, sem jamais combatê-los firmemente.

 

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