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Promessa ao avô e influência de Crespo: o novo (e melhorado) Pablo

Em entrevista a PLACAR, o atacante conta que a presença do técnico e a modificação no posicionamento o ajudaram a evoluir como camisa 9

O atacante Pablo, 28 anos, raramente assiste a jogos de futebol em casa, nos momentos de folga do São Paulo, mas lhe chamou atenção na televisão recentemente um jovem Hernán Crespo, seu atual técnico, em campo no estádio Lujniki, em Moscou, na Rússia, pela final da Copa Uefa (atual Liga Europa) entre Parma e Olympique de Marselha, em 12 de maio de 1999.

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Crespo, então com 23 anos, abriu caminho para a vitória por 3 a 0 dos italianos. O gol do argentino aconteceu após uma bola rifada, que ganhou força ao ser desviada de cabeça por Juan Sebastián Verón no meio de campo. Ele aproveitou uma tentativa de recuo do zagueiro Laurent Blanc, se antecipou e encobriu o goleiro Stéphane Porato. Puro oportunismo.

“Nesse gol, ele apostou em um erro. Ter o Crespo para poder lhe dar direções dentro de campo e conselhos vai facilitando para somar na carreira. Ele me pede muito isso, para não desistir nunca de uma jogada, de acreditar no erro e na falha de um jogador porque pode surgir uma oportunidade. São detalhes que vou absorvendo e novos movimentos que vou guardando no dia a dia”, disse, em entrevista a PLACAR.

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Contratado em 2019 por 7 milhões de euros (31 milhões de reais à época), maior investimento de toda a história do São Paulo, fama que precisa carregar e justificar desde então, Pablo viu em Hernán Crespo mais do que um técnico, mas um perfil a ser seguido. A nova face vivida desde a chegada do novo treinador já lhe rende a melhor média da carreira.

Com Crespo, Pablo está longe das lesões e já fez seis gols em 13 jogos, média de 0,46 por partida, a melhor de toda a sua carreira. No primeiro ano no clube, ele atuou apenas 30 vezes e marcou sete gols, quase o mesmo número alcançado com menos da metade de jogos. Na última temporada foram 12 gols em 53 jogos. Além disso, já são duas assistências para gols de companheiros.

Crespo e Pablo comemoram vitória do São Paulo no Paulista -
Crespo e Pablo comemoram vitória do São Paulo no Paulista – Rubens Chiri/São Paulo FC/Divulgação

A modificação de posicionamento mais sentida se dá pelo fato de precisar se deslocar menos da área, mesmo quando atua ao lado de Luciano, utilizado como típico camisa 9 por Diniz. Pablo virou a referência ofensiva de Crespo.

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“Com ele, não tenho essa obrigação de sair o tempo inteiro da área, como o Fernando [Diniz] me pedia. Para mim, aliás, são dois caras que entendem muito de futebol. O Diniz deixou uma herança enorme em termos de jogo, mas o Crespo quer que fique mais presente para o último toque. São características e visões dos treinadores, acredito”, explica.

“Tem também muitas coisas que conversamos em off, que vamos falando no dia a dia. Eu digo para ele que na posição, para mim, era um dos caras que mais gostei de ver jogar, referência. Lembro da época pelo Milan, Chelsea, Inter”, completa.

Logo na chegada ao São Paulo, PLACAR contou a história em que Crespo recebeu um chamado inesperado para uma conversa particular com Marcelo Bielsa, em Ezeiza, sede das instalações esportivas da Associação de Futebol da Argentina (AFA) na década de 1990. Quando avistou o treinador, Bielsa já o aguardava sentado e havia reproduzido em um papel, de forma improvisada, a grande área de um campo de futebol com uma espécie de loteamento divididos por setores: “A1, A2, B1, B2…”

“Onde você gosta de jogar mais?”, perguntou Bielsa, apontando para o desenho. “Na verdade, eu não sei”, respondeu Crespo. “Vou te explicar o que você pode ser, então”, emendou. O treinador passou a noite com Crespo mostrando onde atuou em cada um dos seus últimos jogos, lembrando com detalhes de partidas que fez ainda no começo de carreira, no River Plate, entre 1993 e 1996. A conversa mudou completamente sua percepção sobre posicionamento.

Pablo é responsável direto pela boa campanha do São Paulo em 2021 -
Pablo é responsável direto pela boa campanha do São Paulo em 2021 – Rubens Chiri/São Paulo FC/Divulgação

“Não tivemos nada assim, tão próximo, mas ele vai me dando retornos. Me fala no treino de finalização para fazer de um determinado jeito, mas é um cara que deixa o jogador muito à vontade em campo para fazer os seus próprios movimentos. Tem coisas que são de momento, que não tem como treinar, que você só acredita e vai. Vamos conversando no dia a dia, falando sobre possibilidades para dentro de campo e treinando”, conta.

Crespo é adepto do perfil de forjar goleadores. No Defensa y Justicia, transformou Braian Romero, de temporadas modestas por Independiente e Athletico Paranaense, no artífice da campanha vitoriosa na Copa Sul-Americana, com dez gols marcados. Era um jogador esquecido, com uma séria lesão. O jogador disse que Crespo o ajudou a encontrar o seu lugar dentro de campo.

O treinador também gosta de trabalhos emocionais para estimular jogadores, condição essa já externada pelo preparador físico Alejandro Kohan. “Trabalhamos durante a semana com sessões de coaching individuais e coletivas, ferramentas que são úteis para a estabilidade emocional para superar momentos competitivos de estresse e para o autocontrole de emoções”, disse em Kohan em entrevista ao Infobae, explicando sobre o trabalho realizado no Defensa.

A posição de Pablo, por sinal, era uma das preferidas para ser reforçada. O clube foi atrás de Rafael Santos Borré, do River Plate, e ainda tentou Gilberto, do Bahia, e Eduardo Sasha, do Atlético-MG. A busca esfriou pelo bom desempenho.

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Pablo sofreu logo em seu início no São Paulo devido a lesões. No último ano, passou mais de três meses sem marcar gols, sendo alvejado por parte da torcida em redes sociais. “Na vida você precisa buscar melhorar sempre, em qualquer seguimento: para um advogado, atleta, professor. É preciso buscar o melhor e o melhor para ajudar as pessoas ao redor. Tive uma lesão grave na coluna, são coisas que acontecem com um jogador de futebol. Óbvio que procuro estar em meu melhor nível, mas precisamos de tempo para nos recuperarmos, é algo que é do corpo, por exemplo, não depende só de querer”, explica.

“Falando de críticas, eu não fico vendo muita coisa. Não vejo nem muito futebol, só os jogos mais importantes, procuro dar atenção a família e ver outros esportes. Então, raramente isso chega a mim. Ler, eu não leio. Dou a vida para o meu trabalho, bons e maus momentos são consequências. Muitas coisas se passam e poucos sabem, de fato, o que acontece. Precisamos saber absorver”, acrescenta o camisa 9.

Crespo já falou publicamente sobre características que espera e tem enxergado em Pablo. “Ele não se destaca só pelos gols e assistências, mas pela atitude e pela luta, também. Se hoje temos uma equipe que está marcando muito é, também, pelo trabalho do Pablo e do Luciano. É pelo que todos fazem na hora de defender. Os defensores estão contentes porque não sofrem gols, e os atacantes estão contentes porque marcam”, analisou.

Em matéria publicada pela Folha, sobre a tese apresentada no trabalho de conclusão de curso para diploma da Uefa Pro, Crespo apontou como uma das necessidades de um técnico a formação de jogadores capazes de serem protagonistas em diferentes contextos ao longo da carreira. “Na época da globalização, é necessário formar um jogador global”, afirma no texto acadêmico.

Em nome do avô

Além da ajuda do treinador, o atacante também usa a boa fase para prestar homenagem ao avô materno Francisco, que faleceu há algumas semanas. Ele era são-paulino e um de seus maiores incentivadores no futebol. Enquanto estava internado na UTI, Pablo pediu a diretoria para jogar com o nome do avô na camisa e homenageá-lo em vida.

“Sempre fui muito ligado aos meus avôs. Então tudo isso aqui, estar no São Paulo, representa muito para a minha família. Chegar ao clube deixou ele com um sentimento de orgulho. Era o maior sonho dele eu poder chegar aqui”, relata.

De volta a melhor fase, ele agora quer o título para cravar de vez o nome na história do São Paulo. A equipe enfrenta o Palmeiras nesta quinta-feira, 20, no Allianz Parque, pelo primeiro jogo da decisão do Campeonato Paulista.

“Me perguntam se o São Paulo está pronto para ser campeão. Digo que o São Paulo sempre está pronto. Olha a história desse clube. Não podemos ficar tanto tempo sem vencer, temos que nos sacrificar. Eu quero muito. Fiz uma promessa para o meu avô de ser campeão e preciso cumprir”, conclui.

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