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Por trás da foto: a emocionante homenagem no ‘dérbi da Alemanha Oriental’

Union Berlim, clube ligado à classe trabalhadora, estreou na Bundesliga com derrota para o Red Bull Leipzig, seu ‘rival ideológico’

A primeira rodada da Bundesliga, a primeira divisão do futebol alemão, registrou um momento histórico: a estreia na elite do Union Berlim, clube cuja história é ligada à classe trabalhadora e ao combate ao autoritarismo. O duelo do domingo, 18, no pitoresco estádio An der Alten Försterei não poderia ser mais simbólico: o adversário foi o Red Bull Leipzig, único representante da antiga Alemanha Oriental até a chegada do Union Berlim e vítima de enorme rejeição dos rivais por seu modelo de negócio. A forte equipe gerida pela marca austríaca de bebidas energéticas venceu com tranquilidade – 4 a 0 –, mas o destaque do encontro foram as manifestações nas arquibancadas do time da casa.

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Antes da partida começar, fãs do Union Berlim estiraram cartazes com fotos em preto e branco. Eram imagens de torcedores que batalharam pelo desenvolvimento do clube e morreram antes de realizar o sonho de ver o time alvirrubro na primeira divisão.

Depois do emotivo tributo, o tom nas arquibancadas foi de protesto: a torcida berlinense, orgulhosa de ser uma das mais barulhentas e participativas do país, passou 15 minutos em silêncio absoluto. Era uma crítica irônica ao perfil do Red Bull Leipzig, apontado como o maior representante do “futebol moderno” e criticado por sua artificialidade. Graças ao aporte da patrocinadora, o Red Bull subiu da 5ª divisão para a Bundesliga em apenas sete anos e é hoje uma das equipes mais caras da Alemanha.

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Union Berlim, o time de metalúrgicos e punks

A história do FC Union Berlim, refundado com este nome apenas em 1966, remete ao início do século XX. A equipe surgiu em 1906 na região de Oberschöneweide, dominada por metalúrgicos, o que moldou sua condição de time símbolo da classe trabalhadora de Berlim. Suas maiores transformações, no entanto, ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Exército Vermelho soviético tomou o controle da região.

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O Union Berlim integrou a República Democrática Alemã (Alemanha Oriental ou socialista) durante a Guerra Fria e era proibida de enfrentar as potências da República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental), como Bayern de Munique, Borussia Dortmund e até o vizinho Hertha Berlim, que ficou do lado capitalista.

Disputando a Oberliga, a liga oriental de futebol, o clube alvirrubro começou a encher o estádio An der Alten Försterei e a incomodar o regime comunista, que apoiava abertamente o maior rival do Union, o Dynamo Berlim – fenômeno semelhante ocorria em Moscou, onde o governo apoiava o Dínamo, enquanto o Spartak se consolidou como o “time do povo”.

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O caráter contestador do Union Berlim foi ganhando força nas décadas de 60 e 70. “Nem todo torcedor do Union é inimigo do Estado, mas todos os inimigos do Estado são torcedores do Union”, foi uma frase estampada pela revista satírica Eulenspiegel, que ganhou fama na região. Ao longo dos anos, com o iminente enfraquecimento do regime comunista, a torcida do Union foi ganhando apoio de hippies e punks. “O muro vai cair” era um dos gritos nas arquibancadas.”

Em 27 de janeiro de 1990, já com o muro no chão e a Alemanha Unificada, veio o grande momento da equipe: um amistoso diante do Hertha para celebrar a união na capital, diante de mais de 50.000 torcedores no Estádio Olímpico de Berlim, o mesmo onde o americano Jesse Owens desafiou Adolf Hitler na Olimpíada de 1936.

Nina Hagen e festas de Natal

O Union Berlim, então, se acostumou a disputar as divisões de acesso à Bundesliga, mas sempre convivendo com dificuldades financeiras – e resistindo graças à solidariedade da comunidade. A cantora alemã Nina Hagen, ícone punk na década de 80, foi uma das pessoas que contribuíram nas campanhas de socorro ao Union Berlim, inclusive gravando o hino da equipe.

Em 2009, quando o time chegou à segunda divisão, o Estádio An der Alten Försterei precisou passar por uma ampliação para chegar à capacidade mínima de 20.000 espectadores exigida pela liga. Como o clube passava por dificuldades financeiras, cerca de 2.000 fãs dedicaram 140.000 horas de trabalho voluntário para finalizar o trabalho. O time ainda realizou campanhas de doação de sangue e de combate ao racismo, e torcedores compraram ações para evitar que a diretoria precisasse vender os naming rights do estádio.

Para reforçar os laços com a comunidade, a sede do clube recebe anualmente uma grande festa de Natal. Fatos como esse fazem do Union Berlim um dos símbolos da luta contra a intolerância na Alemanha, ao lado do St.Pauli e do Borussia Dortmund.

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