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‘Podemos ter 40 milhões de torcedores, mais que Corinthians e Flamengo’, diz dono do time de Kaká na MLS

Flávio Augusto da Silva pretende transformar o Orlando City em marca global

“Queremos que o Orlando City seja o segundo time de todo brasileiro. Um detalhe: a cor da camisa é roxa, bem aceita por todas as torcidas do Brasil”

“É possível transformar um clube de Orlando em uma marca global. O Manchester City, por exemplo, não era nada até outro dia.” O raciocínio é do carioca Flávio Augusto da Silva, empresário de 42 anos dono do Orlando City, time de futebol que disputará a Major League Soccer (equivalente à primeira divisão dos Estados Unidos), a partir de 2015 e terá Kaká como sua principal estrela. Dezenove anos depois de criar uma escola de inglês no centro do Rio, com base em estudos e em seu faro para negócios, Flávio Augusto da Silva acredita que o esporte criado na Inglaterra, antes visto com desconfiança pelo americano médio, é um dos mercados mais promissores do momento na terra de Tio Sam. Ele sonha transformar o Orlando City e a MLS em potências mundiais e ver o soccer se tornar o esporte mais popular dos Estados Unidos. “Podemos ser como os jesuítas e catequizar o torcedor americano, porque ele não tem time. Podemos ter 40 milhões de torcedores, mais que Corinthians e Flamengo.”

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Flávio cresceu no bairro do Jabour, periferia fluminense, próximo a Bangu, e em 1995 criou a escola de inglês WiseUp, que se tornaria uma rede de 500 unidades espalhadas pelo Brasil. Milionário, mudou com a família para os Estados Unidos e teve uma ideia ao acompanhar o filho em campeonatos de futebol. “Aquele ecossistema me chamou a atenção, jamais vi algo parecido no Brasil.” Ele então encomendou uma série de pesquisas e descobriu que nos EUA havia mais de 20 milhões de praticantes de futebol. Foi a chave para apostar suas fichas. “Essa realidade estava completamente fora do meu radar. Com as pesquisas, vi que existia uma ótima oportunidade de negócio no futebol.”

Em 2012, Flávio comprou o Orlando City, equipe que tinha apenas um ano de vida e disputava a USL Pro, uma espécie de terceira divisão do futebol local, e traçou planos ambiciosos, que passavam pela construção de um estádio e a entrada na Major League Soccer. Conquistou investidores e até o apoio do governo da Flórida, que se entusiasmou com a possibilidade de atrair ainda mais turistas à terra da Disney com o futebol. Em 2013, veio a confirmação da inclusão na MLS – a partir de 2015 – e no segundo semestre o clube anunciou a contratação de Kaká. Segundo o chefe, convencer o jogador, eleito melhor do mundo em 2007, a ir para os Estados Unidos não foi tarefa tão difícil. “O Kaká é um homem de visão. Ele até poderia conseguir contratos melhores, na China ou Turquia, lugares bem menos atrativos.” As regras da MLS estabelecem um teto salarial para cada atleta, que deve ser de 4 milhões de dólares anuais em 2015 (cerca de 9 milhões de reais), segundo Flávio. Há no entanto a possibilidade de cada equipe ter até três jogadores que podem ter salários bem acima deste valor, como é o caso de Kaká, Lampard, Villa, Henry, Dempsey e outros craques de nível internacional.

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Flávio fala com entusiasmo sobre a febre provocada pela última Copa do Mundo no país – em evento organizado por seu clube, cerca de 30.000 pessoas se reuniram em Orlando para assistir às quatro partidas da seleção americana. A seguir, os pensamentos do empresário para fazer do futebol o negócio mais promissor do momento:

Cultura do esporte – “Aqui nos EUA, é tradicional as crianças praticarem esportes e as famílias investirem nisso. Os pais começam a guardar dinheiro para os estudos dos filhos desde cedo, pois o ensino médio e fundamental são de graça e de boa qualidade, mas o superior é pago e caro. Os pais gastam entre 35.000 e 50.000 dólares por ano. Como as faculdades valorizam o esporte, se o menino tiver habilidade ganha bolsa, às vezes de até 100%. Ou seja, investir em esporte vale a pena nos EUA. É por isso que os americanos ganham tantas medalhas olímpicas, não tem nada a ver com apoio do governo.”

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“Temos três estratégias para atrair público, uma para os Estados Unidos, uma para o Brasil e outra para o mundo. Nos EUA, o torcedor ainda não tem time”

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Preferência por modalidade – “Os pais incentivam cada vez mais os filhos a praticar futebol. No futebol americano, os adolescentes levam pancadas na cabeça e podem ter problemas cognitivos. No basquete, se o menino não tem 2 metros de altura, é muito baixo para a NBA, existe a barreira genética. E a nova geração não gosta de beisebol, acha muito chato. Em compensação, o futebol vem crescendo muito, já é o segundo esporte preferido entre as pessoas de 24 anos, atrás só do futebol americano. Entre o público latino, é o primeiro. A tendência é que o futebol se consolide como o segundo esporte em dez anos, e em 20 anos, quem sabe, possa alcançar o futebol americano.”

Concorrência – “A ideia não é concorrer com os outros esportes, mas coexistir. Queremos que o torcedor vá aos jogos de basquete e futebol também, inclusive o ginásio do Orlando Magic, da NBA, é ao lado do nosso estádio. Os valores em torno do futebol se tornarão astronômicos em breve e quando isso acontecer os maiores contratos de jogadores não acontecerão mais na Europa, mas nos Estados Unidos. Imagino que isso comece a acontecer em 2022, quando será feito o novo contrato de direitos de transmissão.”

Torcida – “Temos três estratégias para atrair público, uma para os Estados Unidos, uma para o Brasil e outra para o mundo. Nos EUA, podemos ser como jesuítas e catequizar o torcedor, porque ele não tem time. Nós podemos ter 40 milhões de torcedores, mais que Corinthians e Flamengo, só depende de nós. Para isso, teremos de contratar grandes jogadores.”

Brasil em Orlando – “Sou o dono do clube e sou brasileiro, o Kaká é brasileiro e tem chances até de voltar à seleção, o que ajudaria nossa estratégia. Além disso, o clube fica em Orlando, a cidade mais visitada por brasileiros no mundo. Nossa abordagem é essa: queremos que o Orlando City seja o segundo time de todo brasileiro. Um detalhe: a cor da camisa é roxa, porque é uma cor neutra no Brasil. Como não existe nenhum clube com essa cor no Brasil, é bem aceita em todas as torcidas.”

Negócio global – “É possível transformar um clube de Orlando em uma marca global. O Manchester City, por exemplo, não era nada até pouco tempo. Manchester, inclusive, é uma cidade pequena, ao contrário de Orlando, que exporta cultura através da Disney e recebe mais de 60 milhões de turistas por ano. A cidade tem vocação para receber turistas e queremos incluir nosso estádio neste circuito.”

O brasileiro Kaká deixou o Milan para reforçar o Orlando City
O brasileiro Kaká deixou o Milan para reforçar o Orlando City VEJA

Kaká – “Não foi tão difícil trazê-lo, porque ele é um sujeito de visão. Mostramos que a MLS é o mercado do futuro e que ele poderia ter retorno semelhante ao do David Beckham por sua imagem. Além disso, terá a chance de participar da construção do futebol no país, assim como Pelé e Beckham já deram suas contribuições no passado. No momento, ele pode ser o grande nome do esporte nessa região. Pesou também o fato de Orlando ser um lugar bastante agradável para uma pessoa com filhos pequenos. Ele até poderia conseguir contratos melhores, mas na China ou Turquia, lugares bem menos atrativos.”

Craques – “O que define a contratação de jogadores é o mercado e qualquer coisa fora disso é aventura. Não vamos pagar 100 milhões de dólares em um jogador, como o Real Madrid fez com James Rodríguez. Quem faz isso é porque recebe 500 milhões de euros por ano em direitos de TV. O perfil de jogadores da MLS hoje é semelhante ao dos grandes times da América do Sul. Nos próximos anos, pagaremos mais que eles, e isso deve atrair outro tipo de jogadores.”

Investimento em jogador – “Um mercado muito interessante no momento é o de jogadores jovens, de 18, 19 anos, que jogaram nas categorias de base da seleção mas ainda não tiveram espaço em seus clubes. Em breve vamos anunciar jogadores brasileiros com esse perfil. Não estamos preocupados com a etiqueta, mas com a qualidade dos jogadores.”

“Com oito meses de antecedência, já vendemos mais de 160.000 ingressos para a temporada de 2015. Foram 8.000 pacotes para a temporada. Os ingressos variam entre 1.020 reais até 3.400 reais pela temporada que tem vinte jogos em casa”

Acesso – “Chegar à MLS não depende apenas de colocar a bola dentro do gol, infelizmente. Além de um projeto de futebol consistente, que naturalmente passa pela conquista em campo, é preciso um plano de negócio consistente, que justifique para os donos da MLS ter um novo sócio. É preciso agregar algo importante à liga. É um processo de aquisição, pois os donos dos clubes são também os donos da MLS, esse é o modelo. No ano passado, consegui convencer a MLS de que valia a pena ter o Orlando como membro e eu como sócio.”

Público para 2015 – “Com oito meses de antecedência, já vendemos mais de 160.000 ingressos para a temporada de 2015. Foram 8.000 pacotes para a temporada. Os ingressos variam entre 450 dólares (cerca de 1.020 reais) até 1.500 dólares (cerca de 3.400 reais) pela temporada regular, que tem vinte jogos em casa. Até a estreia, pretendemos vender cerca de 20.000 season tickets (para toda a temporada), o que já nos garantiria público bem melhor do que a média do Campeonato Brasileiro.”

Libertadores – “É inviável unificar a Libertadores com a Liga dos Campeões da Concacaf, não pensamos nisso. É muito mais interessante jogar o torneio da Concacaf, que também dá vaga para o Mundial de Clubes. As distâncias para a América do Sul são muito grandes. Os mexicanos estão mais perto, por isso jogam, mas há equipes em Montreal e Toronto, por exemplo, que estão tão distantes do Brasil quanto a Europa. Não dá pra fazer 10 horas de viagem para jogar a 3.000 metros de altitude na Bolívia.”

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