Pode isso, Arnaldo? Jogador é diagnosticado com coronavírus pela 4ª vez
Inusitado caso do argentino Paulo Dybala, da Juventus, reacende debate sobre longevidade do vírus e possibilidades de reincidência
Ainda não há certeza sobre quanto tempo o coronavírus pode permanecer no organismo e nem mesmo se existe a possibilidade de se contrair Covid-19 mais de uma vez. Uma notícia vinda da Europa nesta quarta-feira, 29, contribuiu para o debate. Segundo informações da emissora espanhola Mega, o atacante Paulo Dybala, da seleção argentina e da Juventus, testou positivo pela quarta vez, 39 dias depois de receber seu primeiro diagnóstico.
O jogador, que cumpre a quarentena, assintomático, em sua casa em Turim, não comentou sobre a notícia até o momento. Ao jornal Gazzetta Dello Sport, seu estafe se limitou a dizer que Dybala aguarda o resultado de novos exames. A VEJA, a Juventus afirmou que “quando Dybala testar negativo, avisaremos, como fizemos com Rugani e Matuidi”, citando os outros atletas do time que foram infectados e já estão oficialmente curados.
Dybala testou positivo em 21 de março, assim como sua namorada, Oriana Sabatini. Nas redes sociais, o atleta argentino de 26 anos disse ter sentido sintomas pesados da doença, como dores no corpo e dificuldade para respirar nos primeiros dias, enquanto sua companheira permaneceu sempre assintomática. No último dia 4, Oriana contou que, depois de terem testado negativo, os dois voltaram a receber um diagnóstico positivo.
“Em 21 de março, meu namorado e eu fizemos um teste e o resultado foi positivo. Três dias atrás fizemos outro teste, que deu negativo. Agora, pela manhã, fizemos outro, que deu positivo: portanto, ainda estamos com a Covid-19″, disse, em suas redes sociais. “Não sei como funciona e por que foi negativo e depois positivo. Ouvi dizer que pode ser um ‘falso negativo’. Isso prova o quão pouco sabemos sobre o vírus”, completou Oriana.
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O médico Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que a média de tempo que um paciente fica contaminado com o novo coronavírus é 14 dias. Ele explicou que o caso de Dybala poderia representar uma “revolução” no que se sabe sobre o vírus. “Com o conhecimento que temos atualmente da doença, não existe nenhum caso de um paciente que tenha ficado com o vírus por tanto tempo”, disse Grinbaum.
Não foi divulgado qual o tipo de teste foi feito no casal para detectar o coronavírus e, por isso, não há como definir se Dybala e Oriana foram reinfectados e são portadores da doença ou se foram encontrados apenas anticorpos. Apesar de os dados serem insuficientes, Grinbaum acredita que tenha havido uma nova contaminação. “Existe a possibilidade de se contaminar novamente, ainda que muito pequena, perto de 6%. Ainda não está comprovada, porque tudo é muito novo, mas pode ser possível. Parece que foi o que aconteceu com eles”, afirmou.
A pessoa que se contaminar pela segunda vez deve tomar os mesmos cuidados de qualquer outro paciente, pois não existe comprovação de que esteja imune à doença e não possa infectar outras pessoas. “O fato de detectar reinfectações mostra que ter a doença não imuniza. Se você está esperando a chamada “imunidade de rebanho ” pode tirar o cavalo da chuva”, afirma Luís Fernando Waib, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
“Imunidade de rebanho” se dá quando a maior parte da população se infecta e, com isso, adquire anticorpos e se torna mais resistentes ao vírus devido à memória imunológica adquirida. Desta forma, chegaria um momento em que o patógeno pararia de se disseminar por falta de hospedeiros suscetíveis. O método, no entanto, apresenta melhores resultados quando feito de forma controlada, com o uso de vacinas.
Há uma semana, autoridades de saúde da Coreia do Sul abordaram a possibilidade de uma segunda contaminação e seus efeitos. Segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC), pacientes que tiveram um segundo diagnóstico positivo de Covid-19 depois de se recuperarem têm “pouca ou nenhuma infecciosidade”.
Mais de 180 casos com segundo teste positivo após um negativo já foram relatados no país até então, mas não se conhece nenhum caso em que os “reincidentes” tenham infectado outras pessoas. Casos semelhantes foram reportados na China, no Japão e da Itália nas últimas semanas. Em todos eles, os pacientes permaneceram assintomáticos ou apresentaram problemas menos graves.
O mais provável, segundo médicos e cientistas, é que essas pessoas ainda tivessem o vírus em seus organismos, mas tenham tido “falsos negativos” ao realizar os exames enquanto seus sistemas imunológicos combatiam o inimigo. A tese de reativação do vírus, no entanto, é cada vez mais aceita entre os especialistas.