Plano para combater selvageria no futebol não sai do papel
Desde que o governo anunciou propostas, mais treze torcedores foram mortos
“Muitas vezes a punição é aplicada e o torcedor, por falta de controle, acaba conseguindo entrar nos estádios nos dias do jogo”, diz o ministro Aldo Rebelo
Quase um ano depois de os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do Esporte, Aldo Rebelo, terem anunciado nove propostas que prometiam combater a violência no futebol brasileiro, pouca coisa saiu do papel – e, de lá para cá, mais treze pessoas morreram por causa de brigas de torcidas no país. A última vítima foi o palmeirense Leonardo da Mata Santos, de 21 anos, atropelado enquanto participava de uma emboscada a torcedores santistas na rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), no último domingo. Uma briga generalizada entre torcedores de Atlético Paranaense e Vasco, na Arena Joinville, em Joinville (SC), durante a última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013, foi o que levou o governo a prometer ações mais rigorosas contra o banditismo no futebol. Os principais itens da lista de propostas, no entanto, ainda não avançaram.
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Não foram criadas, por exemplo, delegacias especiais para os torcedores. Também não foi concluído o Cadastro Nacional de Torcedores, que seria utilizado para impedir a entrada nos estádios de pessoas com histórico de brigas. A promessa era de que esse projeto ficaria pronto antes da Copa do Mundo. Outra ideia que não avançou é a instalação de novos sistemas de segurança, semelhantes aos que foram usados durante o Mundial, em mais estádios. Chegou a ser levantada também a hipótese de aumentar a responsabilidade dos clubes cujos torcedores se envolvessem em brigas. Em casos considerados graves, os times seriam punidos até com perda de pontos nos campeonatos. Isso não aconteceu.
De concreto, por enquanto, o Ministério da Justiça articulou, junto com o Ministério do Esporte, apenas a efetivação da Comissão Nacional de Prevenção da Violência e Segurança nos Espetáculos Esportivos. O órgão é composto por representantes dos ministérios, do Conselho Nacional de Defesa Civil, da área de segurança pública, de torcidas organizadas e de pesquisadores. A comissão possui cinco câmaras técnicas: Prevenção à Violência nos Estádios, Educação e Cultura pela Paz nos Espetáculos Desportivos, Adequação e Melhoria nos Estádios, Organização e Associação de Torcedores e Câmara de Integração Geral. Esses grupos de estudo têm se reunido para avaliar como serão implantadas as ações dos nove pontos da proposta inicial. Até agora, portanto, o combate à selvageria dos torcedores ficou só na conversa – literalmente.
Impunidade – Segundo o ministro do Esporte, Aldo Rabelo, já foi encaminhada a orientação aos tribunais estaduais de Justiça para a criação de varas especializadas para o futebol. Ele se reuniu com o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, para tratar do assunto. “Estamos avançando no sentido de fazer com que o torcedor violento seja punido e responsabilizado pela prática de seus atos, pois eu vejo que o que mais estimula a violência é a impunidade”, disse Rebelo. Ainda sem a criação do Cadastro Nacional de Torcedores, o ministro vê como alternativa para impedir o acesso aos estádios daqueles que se envolvem em brigas o uso de tornozeleiras eletrônicas. “Alguns Estados, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais, cogitam adotar o controle de torcedores punidos por prática de violência com a aplicação da tornozeleira. Muitas vezes a punição é aplicada e o torcedor, por falta de controle, acaba conseguindo entrar nos estádios nos dias do jogo”. Em São Paulo, a proposta ainda não avançou.
(Com Estadão Conteúdo)