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Petroeuros Futebol Clube

O dinheiro de mecenas das Arábias opõe as agremiações de novos ricos contra times mais tradicionais, mas empobrecidos

Quem gosta de bom futebol já pode transformar o home office em arquibancada: a Champions League da temporada de 2021 e 2022, que começa em 14 de setembro, tem tudo para ser espetacular, dada a movimentação de grandes nomes, com Lionel Messi agora no PSG, Jack Grealish no Manchester City, Romelu Lukaku no Chelsea e Cristiano Ronaldo no Manchester United (veja no quadro abaixo). Será também o marco definitivo de um tempo peculiar: o da força do dinheiro das companhias de petróleo recontando a história do mais popular dos esportes. Circula nas redes sociais um jocoso apelido para o torneio: PetroChampions. Nada chama mais atenção, na fase inicial, do que um clássico dos tempos modernos: o PSG do empresário do Catar Nasser bin Ghanim Al-Khelaifi contra o Manchester City do xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes. Em 66 anos da competição, nenhuma das duas equipes ergueu a cobiçada taça europeia. Não têm, portanto, o “peso da camisa” de clubes tradicionais como o Barcelona e os italianos Inter de Milão e a Juventus (dez títulos somados), atropelados por desmandos financeiros e pela crise multiplicada pela pandemia.

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A nova ordem tem uma cara: os clubes usam o futebol ancorado no ouro negro como plataforma para outros negócios, sobretudo atrelados às redes sociais e a empresas de comunicação. As cinco maiores ligas (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França) movimentaram 3 bilhões de euros nesta janela de transferências de olho em voos mais longos fora de campo. “Times como o Milan, apesar de terem dinheiro chinês, ainda dependem em demasia do antigo modelo, calcado em bons resultados dentro de campo”, diz Bruno Maia, da agência 14, especializada em negócios na indústria do esporte. A riqueza, é natural, produz gols e lances espetaculares, uma festa para os olhos. Mas há imenso risco embutido: o desequilíbrio, com os troféus circulando sempre pelas mesmas mãos. O torcedor não gosta disso. Há evidente prazer em ter seu time fortalecido, transformado em seleção, mas a graça do futebol é o permanente vaivém. Provocou imensa grita, portanto, no início do ano, a ideia da formação de uma Superliga na Europa, que mal nasceu e foi enterrada viva.

arte futebol

O campeonato da elite propunha que os quinze clubes fundadores tivessem lugar cativo — outras cinco vagas seriam disputadas. Não colou. “Criada pelos pobres, roubada pelos ricos”, dizia um dos cartazes expostos por fãs do Manchester United, ao criticar a liga da nata da nata. E então foi tudo para a gaveta, até segunda ordem. Ressalte-se, contudo, que a desistência foi vitória de Pirro para quem briga contra a exagerada riqueza. O dinheiro manda. Não há nada de muito errado, nada de desonesto, é apenas a regra do jogo. Não por acaso, a Copa do Mundo de 2022 será no Catar, porque é bom negócio, tão bom que a Fifa fechou os olhos para as acusações de trabalho análogo ao de escravo na construção dos estádios.

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Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754

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