Em entrevista a VEJA, o craque da seleção de 82 esclareceu saída da TV Globo e defendeu vinda de treinadores estrangeiros ao futebol brasileiro
É de autoria de Paulo Roberto Falcão a frase de que o “o jogador de futebol morre duas vezes”. Compreensível para quem dedicou toda a sua vida à modalidade, seja como atleta, comentarista ou técnico. Falcão, de 65 anos, encantou o mundo como volante da seleção brasileira de 1982, na Copa da Espanha, e ainda preza pelo futebol bem jogado. “O esporte ainda me emociona”, contou, em entrevista à Páginas Amarelas de VEJA.com, na qual explicou sua saída da Rede Globo, onde fazia parte do primeiro time de comentaristas e trabalhava ao lado do locutor Galvão Bueno.
“O Galvão me incentivava (a voltar ao cargo de técnico) quando íamos jantar depois dos jogos, mas o Cléber Machado dizia: ‘você está louco’. Eu falei ao Cléber que o futebol, o esporte de modo geral, me emociona – quando bem jogado. Por exemplo, o Roger Federer é um cara que me emociona. Claro que o Rafael Nadal e o Novak Djokovic são extraordinários, tem vários tenistas de muita consistência, mas o Federer é o diferente, para mim. Aí eu me lembro do basquete do Oscar (Schmidt), da seleção brasileira (de vôlei) de Bernardinho ou Zé Roberto Guimarães. Então, as coisas tem que me emocionar e o futebol ainda faz isso”, comentou Falcão.
Campeão italiano com a Roma em 1983 e tricampeão brasileiro com o Internacional, Falcão rechaça o discurso de que a seleção é a melhor equipe do mundo, mas ressalta a tradição do Brasil, maior campeão de Copas do Mundo, com cinco taças. “Nós, brasileiros, temos uma humildade em tudo. Temos compositores maravilhosos, cantores extraordinários e praias lindas, mas não temos arrogância de falar isso. No futebol, somos arrogantes. Não somos mais os melhores do mundo e todos sabem disso. Se perguntarmos, porém, quem será o favorito na Copa de 2034, certamente direi que são Brasil, Argentina, Alemanha e Itália, porque têm tradição, história. Não sei se a Bélgica vai estar, apesar de jogar um ótimo futebol nos últimos anos”.
Falcão iniciou a carreira como técnico na seleção brasileira ainda em 1990, após a eliminação para a Argentina nas oitavas de final do Mundial, por 1 a 0, mas deixou o cargo no ano seguinte. No futebol brasileiro, venceu o Campeonato Gaúcho com o Inter, em 2011, e o Baiano com o Bahia, em 2012, mas sem conseguir uma longa sequência de trabalho. O ex-volante não treina um clube desde 2016, mas é ‘rigorosamente a favor’ da vinda de técnicos estrangeiros ao Brasil e crítico de reserva de mercado.
“Sou um dos dirigentes da Federação Brasileira de Treinadores, mas sou contra a reserva de mercado. O que tem de valer é a competência, a qualidade. Não é porque não temos brasileiros trabalhando em equipes de prestígio na Europa, que não podemos ter estrangeiros aqui. Se tiver condições de trazê-los, sou rigorosamente a favor. Isso pode dar aos treinadores um pouco mais de experiência e os estrangeiros também podem aprender com eles aqui”, explicou.