Paulistas confirmam fama, mas estendem a mão à seleção
Atuação pouco inspirada e vitória magra sobre a Sérvia despertaram críticas. Mas, apesar das vaias, o retorno à cidade da estreia até teve seu lado positivo
O técnico afirmou que pretendia mudar a história e fazer de São Paulo a casa da seleção. Seu desejo não foi plenamente realizado, mas o saldo foi positivo em relação ao último encontro
Numa sexta-feira completamente caótica, com greve no metrô, chuva forte e trânsito confuso em São Paulo, o público paulista deixou os problemas para trás e lotou o Morumbi para apoiar a seleção brasileira a seis dias da estreia na Copa do Mundo. Os mais de 67.000 torcedores presentes demonstraram boa vontade com a equipe dirigida por Luiz Felipe Scolari. No entanto, a atuação inconstante diante da Sérvia não escapou da histórica exigência do público paulista. Nos momentos de menor inspiração dos atletas, a maior parte do estádio vaiou a seleção, como em marcantes casos do passado. Seria injusto, porém, afirmar que o público jogou contra. Bastaram algumas jogadas de efeito e o gol solitário de Fred para que os torcedores demonstrassem afeto pela seleção. Neymar não brilhou, mas teve muita iniciativa e fez as pazes com o Morumbi. Felipão pode até não ter aprovado o comportamento de seus jogadores, mas não teve motivos para reclamar da torcida – e, de fato, ele não se queixou do público depois do jogo.
Na quinta-feira, o técnico afirmou que pretendia mudar a história e fazer de São Paulo a casa da seleção. Seu desejo não foi plenamente realizado, mas o saldo foi positivo em relação ao último encontro. Em setembro de 2012, a seleção foi reprovada no Morumbi e Neymar viveu uma das experiências mais traumáticas de sua carreira. Substituído no fim da partida, ele foi fortemente vaiado ao deixar o gramado na vitória por 1 a 0 contra a África do Sul. A rejeição diante da própria torcida era algo inédito na carreira do jovem, que acusou o golpe. Dois anos mais velho, dono absoluto da camisa 10 do Brasil e titular do Barcelona, Neymar recebeu tratamento bem diferente. Na entrada para o campo, a seleção brasileira foi recebida de forma calorosa, com gritos e aplausos, especialmente para Neymar e os outros paulistas, como Paulinho e David Luiz. Logo no primeiro toque na bola, Neymar recebeu uma entrada dura. A torcida, então, repreendeu a truculência sérvia e se agitou a cada toque na bola do brasileiro.
Cena curiosa – Empurrado pelas arquibancadas, o jogador do Barcelona arriscou uma sequência de jogadas individuais e tentou incendiar a partida, como fez em Goiânia contra o Panamá. Assim como Neymar, a torcida tentou fazer sua parte na primeira etapa. A cada ataque ou jogada de efeito, aplausos e gritos de “Brasil” foram ouvidos. O apoio foi maior, inclusive, do que o recebido em Goiânia, na última terça. A paciência do torcedor paulista, porém, durou apenas 45 minutos. Após uma atuação fraca na primeira etapa, a seleção deixou o campo vaiada por quase todo o estádio. No segundo tempo, a seleção demorou a engrenar e os protestos rapidamente recomeçaram. Em uma cena curiosa, a torcida gritou o nome de Luis Fabiano, artilheiro do São Paulo, o dono do estádio. Ironicamente, o protesto aconteceu minutos antes de Fred marcar o gol da vitória e enfim aliviar a tensão. O gol alegrou os fãs, que ainda comemoram o gol de Hulk, erroneamente anulado.
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Os perigosos ataques da Sérvia preocuparam a torcida, que teve reação inesperada ao apito final: nem muitos aplausos, muito menos vaias. Ao ser saudada pelos atletas, a torcida mostrou que pretende estar ao lado da equipe no Mundial. Para isso, porém, espera a retribuição dos jogadores em campo. �Durante a entrevista coletiva, Felipão elogiou a postura da torcida em sua estreia na cidade como técnico da seleção. “As vaias são normais, isso aconteceu também em Goiânia e em outros locais onde não jogamos bem. Isso não foi problema para nossos jogadores, pois eles sabem que quando não se joga bem, haverá discordância. Mas acho que no fim do jogo, dos 67.000 presentes, uns 65.000 saíram satisfeitos”. Para Scolari, a torcida paulista deve apoiar ainda mais a seleção na partida inaugural diante da Croácia. “Temos que agradecer o torcedor por ter sido paciente em determinados momentos. Acho que tivemos um cartão de visitas legal de São Paulo e acredito que na estreia vamos ter o apoio da torcida, como tivemos hoje.”
A exigência dos paulistas com equipe nacional é bastante antiga. Em 1970, o técnico Zagallo deixou Pelé no banco no empate em 0 a 0 contra a Bulgária e o Morumbi inteiro chiou. Em 2000, as críticas foram ainda mais impiedosas: inconformados com a má atuação do time contra a Colômbia, os torcedores atiraram suas bandeiras no gramado em forma de protesto. No fim, o Brasil venceu por 1 a 0 com gol de Roque Júnior, mas a cena que ficou para a história foi a “chuva de bandeiras” no Morumbi. �A equipe voltará a campo na cidade em apenas seis dias, desta vez no Itaquerão. A seleção estreia na Copa do Mundo, diante da Croácia, na próxima quinta-feira. O time ainda pode disputar a semifinal do torneio na cidade, mas essa é uma hipótese que não agrada muito à seleção – afinal, isso só ocorreria caso o Brasil avançasse à segunda fase como segundo colocado do Grupo A, um cenário que significaria, evidentemente, uma trajetória muito atribulada e muito nervosismo logo nos três primeiros jogos.