Breno Lopes e os outros heróis do título do Palmeiras na Libertadores
Com gol do título, nos acréscimos, atacante reserva entrou no grupo de destaques da conquista alviverde

O Palmeiras venceu o Santos na tarde deste sábado, 30, no Maracanã, por 1 a 0, e conquistou o título da Copa Libertadores de 2020. O jogo teve um herói improvável: Breno Lopes, que entrou no segundo tempo e, de cabeça, aos 55 minutos do segundo tempo, marcou o gol do triunfo e entrou para sempre no grupo dos heróis da campanha.
BRENO LOPES
O herói improvável

“No começo do ano o Breno estava na segunda divisão, era um cara até improvável de estar aqui. Se isso não for Deus, não entendo o que é”. A frase do goleiro Weverton resume um roteiro quase de filme vivido pelo atacante Breno Lopes, 25 anos. Vice-artilheiro da Série B do Campeonato Brasileiro com o Juventude, chegou sem pompa (e cercado por desconfianças) ao Palmeiras. Vivia ainda um início tímido, com apenas um gol em 16 jogos, feito justamente quatro dias antes da decisão, no empate em 1 a 1 com o Vasco. Era um prenúncio da cabeçada perfeita que acertou o canto oposto do gol defendido por John, aos 53 minutos da decisão. Para chegar até aqui, o artilheiro ainda passou por Joinville, Juventus Jaraguá, Juventude, Figueirense e Athletico-PR. Valeu a pena, Breno Lopes já está eternizado para os palmeirenses.
GUSTAVO GÓMEZ
A firmeza do El Capitán

Não é raro, na Libertadores, que os zagueiros se transformem em nomes de destaque dos times campeões, como muralhas na defesa e também artilheiros – e convém sempre lembrar dos cinco gols de Júnior Baiano no título continental do Verdão em 1999. Agora na temporada de 2020/2021, o paraguaio Gustavo Gómez pareceu encarnar a perfeição o refrão “defesa que ninguém passa, linha atacante de raça”. O Palmeiras chegou à final com apenas seis gols tomados porque tinha o elegante xerife à frente da área, pelo lado direto. E quando foi preciso empurrar a bola para dentro do gol adversário, lá estava Gómez – “El Capitán” marcou de cabeça contra o Tigre, no último jogo da fase de grupos (6 a 0), e contra o Libertad, no empate em 1 a 1, em Assunção, pelas quartas. Aos 27 anos, fez história, levando o time ao bicampeonato. Um modo de enxergar sua importância foi o susto, o silêncio e o medo ao vê-lo no chão, aos 43 minutos do primeiro tempo, depois de sentir uma lesão na virilha esquerda, na épica noite contra o River, no Allianz, em que o Palmeiras segurou a derrota de 2 a 0 para chegar à final. Gómez merece um busto.
WEVERTON
O santo herdeiro de Marcos

Para o goleiro Weverton Pereira da Silva, voltar ao Maracanã e de lá sair com a Taça da Libertadores foi como uma viagem ao tempo a caminho de uma outra jornada de glória, daquela vez com o estádio cheio: a medalha de ouro na Olimpíada de 2016. Com mais de 150 jogos pelo Palmeiras, o jogador acreano de 33 anos, fez uma Libertadores perfeita, impecável. Disse ter se inspirado no Marcos de 1999. Era sempre dele o discurso de encerramento das preleções, antes de subir para o gramado. Foi Weverton, na mão e no grito, firme e forte, quem conseguiu fazer com que o Verdão passasse pelo River no complicado, e hoje histórico, jogo de volta da semifinal. Ele tem a terceira menor média de gols sofridos na história do clube, de escassos 0,6 por jogo. Os únicos à sua frente, os paraguaios Benítez e Gato Fernández, atuaram bem menos. Enfim, louvemos São Weverton. –
GABRIEL MENINO
Com futebol e jeito de adulto

Parece uma eternidade, mas Gabriel Menino tem apenas um ano no time profissional do Palmeiras. E que ano! O meia virou adulto de verdade na espetacular atuação contra o River Plate, em Buenos, na vitória por 3 a 0. O treinador Abel Ferreira, corajoso, e na contramão das críticas, decidiu colocá-lo mais aberto, à frente, pelo lado direito. Funcionou, e como funcionou. Foi talvez a mais espetacular apresentação individual de um jogador do Palmeiras na temporada. O ex-zagueiro Ricardo Rocha compara a versatilidade do atleta à de Cafu, campeão do mundo pela Seleção em 1994 e 2002, que chegou a ir para o meio no tempo de Telê Santana no São Paulo. Menino, enfim, de apenas 20 anos, já é adulto – será inevitável, infelizmente, vê-lo na Europa.
RONY
O perigo do lado esquerdo

Quando chegou ao Palmeiras, vindo do Athletico Paranaense, Ronielson da Silva Barbosa, de 25 anos, foi celebrado como grande contratação – mas no início, fracassou. Não marcava gols, foi para o banco. Mas nada como o tempo para recontar uma trajetória – e o ponta-esquerda tem nítida noção do que é esperar. Foi preterido pelo Cruzeiro treinador por Mano Menezes, em 2015, contratado do Remo. Beirou o ostracismo, mas a Libertadores o fez grande. O atacante participou de 12 dos 32 gols da equipe no torneio. Marcou cinco vezes até a finalíssima. Ninguém mais duvida de Rony e do perigo que ele representa para os adversários.
LUIZ ADRIANO
A glória do carrasco

Quando Valdivia deixou o Palmeiras, em 2015, deu-se um vácuo: faltava um camisa 10 de brilho, que mantivesse viva a lenda de Ademir da Guia, o Divino. Luiz Adriano, de 33 anos, com 1m83, e o 10 às costas, ocupou esse espaço – com sobras. A inteligência tática e a movimentação do centroavante vindo do Spartak Moscou ajudaram o Palmeiras a fazer de 2020 e o início de 2021 uma temporada de excelência. Na Libertadores, marcou cinco vezes. E, a caminho do título do continente, numa linha paralela, foi construindo sua trajetória com requintes de crueldade contra o principal rival do Verdão, o Corinthians, no Paulista e no Brasileirão: Luiz Adriano foi o primeiro jogador do Palmeiras a fazer gols em três Dérbis consecutivos. São marcas inesquecíveis de um grande campeão.
MATÍAS VIÑA
Da arte de defender e atacar

A lateral esquerda foi um problema para o Palmeiras em 2019 – o uruguaio Matías Viña, de 23 anos, contratado do Nacional por 16,5 milhões de reais, tratou de resolvê-la em 2020 e 2021. Além dos desarmes precisos e as interceptações com rara noção de tempo de bola, ele ainda foi ao ataque. Fez dois gols – um contra o Bolívar, na vitória por 5 a 0, ainda na fase de grupos, e outro na noite inesquecível de Buenos Aires, no 3 a 0 contra o River Plate. E aquele gol, de falta, não foi um qualquer. Aos 16 minutos do segundo tempo, depois de correr para fingir que receberia o passe, Gustavo Scarpa voltou à bola parada e a cruzou para Matías Viña marcar de cabeça. Foi uma jogada ensaiada de time europeu.
TÉCNICO
ABEL FERREIRA
E o Brasil descobriu outro português…

Convém anotar na agenda: 30 de outubro de 2020. O dia em que o Palmeiras confirmou a contratação do treinador português Abel Fernando Meira Ferreira, de apenas 42 anos, para ocupar o lugar de Wanderley Luxemburgo. Ex-lateral direito apenas razoável, ele trabalha como técnico da equipe grega PAOK. No verdão, com meia dúzia de jogos e poucos jogos, mostrou ao que veio, ao acertar o time. Agressivo na defesa, com pressão permanente ao adversário com a bola e linhas adiantadas o suficiente para acionar os atacantes, em contra-ataques matadores. Deu muito certo. E, depois de Jorge Jesus, campeão da Libertadores pelo Flamengo em 2019, o Brasil descobriu um outro lusitano de primeiríssima. E Luiz Felipe Scolari, o adorado treinador campeão da Liberadores em 1999, tem agora um jovem a dividir com o gaúcho a primazia de ter levado o Verdão ao cume.