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Os detalhes da tocha

O Brasil está em contagem regressiva para receber a chama carregada de simbolismo que se acenderá amanhã em Olímpia, na Grécia, e percorrerá o país por meio de 12 000 archotes especialmente projetados para os Jogos do Rio.

Olímpia, na Grécia, é um povoado tão minúsculo que seu prefeito foi eleito com 194 votos. Na próxima quinta-feira, 21, a população de menos de 1 000 habitantes vai se multiplicar com a presença de turistas, atraídos por uma cerimônia que se tornou praticamente a razão de ser da cidade-ber­ço da Olimpíada: o acender da chama olímpica. Neste ano, em que o Rio de Janeiro será a sede dos Jogos, o Brasil pela primeira vez fará parte do ritual, com uma delegação de cinquenta pessoas. Presença anunciada com fanfarra nos bons tempos, Dilma Rousseff declinou do convite recentemente, para evitar que seu vice, e adversário, se sente na cadeira presidencial. A cerimônia será o primeiro ato de um extenso espetáculo em que, transportada em 12 000 tochas que se revezam de mão em mão, a chama percorrerá uma distância equivalente a quase uma volta ao mundo até iluminar a pira olímpica no Estádio do Maracanã, em 5 de agosto, data da abertura dos Jogos.

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Tudo no roteiro da chama olímpica carrega tradição, sistemática e simbolismo, a começar pelo local em que é acesa, as ruínas do templo de Hera, a mulher de Zeus. Lá, atrizes vestidas de sacerdotisas, entre danças e gestos teatrais, recolhem em um recipiente o fogo produzido por raios de sol refletidos em um espelho, o mesmo princípio da Antiguidade. Pouca gente assistirá à encenação ao vivo. A imensa maioria dos 400 convidados só verá a cena de perto no ensaio da véspera. Encerrada a cerimônia de quarenta minutos, a chama inicia seu périplo em tochas. Na Grécia serão exatamente 483. Para se ter uma ideia da logística envolvida, todas elas foram acesas e testadas, uma a uma, por cinco minutos, antes de embarcar da Espanha, onde são fabricadas, rumo a Olímpia.

No estádio de Atenas, a chama será entregue formalmente ao Rio de Janeiro. O primeiro brasileiro a erguê-la já está definido, o ex-jogador de vôlei e medalhista olímpico Giovane Gávio. E o fogo seguirá viagem. Transportado para a Suíça, passará pela sede da ONU, em Genebra, e pelo Museu Olímpico, em Lausanne, antes de embarcar para seu destino final, o Brasil. Chegará em 3 de maio rondado por um mistério que costuma alvoroçar o mundo olímpico: a quem caberá, no ponto alto da abertura dos Jogos, pôr a última tocha em contato com a pira fincada no Maracanã? VEJA apurou que Pelé é uma possibilidade. Ele deverá estar pelo menos no pelotão do revezamento final das tochas que conduzirá o fogo até o estádio. O Comitê Helênico, no comando do enredo da chama, sonhava ver o craque abrilhantando o templo de Hera, nesta semana, mas o Comitê Organizador preferiu poupá-lo como trunfo para o espetáculo no Brasil.

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O fogo olímpico é cercado de cuidados para que dure os 100 dias previstos na agenda, tudo milimetricamente planejado. O truque da chama que não se apaga é acender com as labaredas produzidas em Olímpia quatro lanternas de vidro e ferro hermeticamente fechadas. Quando viajam de avião, elas ocupam duas poltronas, acondicionadas em uma base firme e envolvidas pelo cinto de segurança. A seu lado sentam-se dois guardiões, como são chamados os acompanhantes das lanternas. Mas será que o fogo olímpico nunca se apaga mesmo? Na célebre abertura dos Jogos de Barcelona, em 1992, a flecha do arqueiro encarregado de levar a chama à pira errou o alvo. Ele disse que era parte do show e que fora o calor da ponta incendiada que acendera a pira. Os céticos dizem que a organização, arriscando-se a provocar a fúria dos deuses gregos, apelou para o plano B: um mecanismo fez o fogo brotar a distância.

O périplo da tocha por várias cidades revezando-se de mão em mão tem sua origem nos Jogos de 1936, em Berlim, durante o regime nazista. A história olímpica registra até hoje 27 modelos de tocha, incluindo a atual. A tocha do Rio é considerada por especialistas a mais tecnológica da série por adotar um mecanismo que movimenta a estrutura, construída para lembrar a paisagem carioca (veja a pág. 85).

O revezamento da tocha no Brasil passará por 335 cidades de norte a sul. A primeira será Brasília, um dos 83 locais onde a chama olímpica vai pernoitar em quartos de hotel, escoltada pelos tais guardiões. Toda manhã, uma tocha se alimentará do fogo original, iniciando o revezamento do dia. A cada 200 metros, a chama passa para outra tocha. Em caso de falha, apela-se para uma das lanternas iluminadas pelo fogo de Olímpia. A escolta da chama mobilizará oitenta pessoas. “São três níveis: os guardiões, que cuidam dela desde a Grécia, a Força Nacional e tropas locais”, explica Leonardo Caetano, diretor de cerimônias do Comitê Rio 2016.

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Tudo pronto e resolvido? Não. Falta definir o endereço exato da pira olímpica, aquela que queimará continuamente à vista de todos enquanto durarem os Jogos. Em geral, as sedes constroem um mesmo estádio para abrigar as festas de abertura e encerramento e as provas de atletismo. Ocorre que no Rio as cerimônias serão no Maracanã e as competições, no Engenhão, separadas por 7 quilômetros. Para resolver o enrosco, entre uma festa e outra a pira ficará na revitalizada zona portuária. Diante do fogo que veio de Olímpia, com a Baía de Guanabara ao fundo, quem não há de parar e tirar uma selfie?

A chama não se apaga
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