Opinião: Messi, um luxo para uma seleção medíocre
Pela obsessão de ganhar um título pelo vestindo as cores da Argentina, o craque passa pelo calvário das críticas e comparações com Maradona
BELO HORIZONTE – Lionel Messi continua um gênio. Ser sinônimo da excelência do esporte aos 31 anos é algo que pouquíssimos conseguiram na história. É geralmente nessa idade em que os craques começam a curva descendente de suas carreiras. Foi assim com Pelé, Maradona e outros grandes astros do futebol. Nesse quesito, Messi é exceção à regra, o que o torna ainda maior. Sua temporada pelo Barcelona, coroada com uma média elevada de gols (51 em 50 jogos), mostra que o argentino ainda se apresenta em altíssimo nível técnico. Portanto, é flagrante o desperdício de tamanha genialidade em uma equipe tão medíocre quanto a seleção argentina, que faz uma campanha pífia na presente Copa América.
Tabela completa da Copa América 2019
Muito se fala sobre as atuações do camisa 10 com a camisa alviceleste, que nem de longe emulam a eficácia e maestria exibidas em terras catalãs. Mas de quem é a culpa? Certamente não é de Messi. Pode colocar nesta conta a bagunça da Federação Argentina de Futebol, que há anos se vê encalacrada em escândalos de corrupção e péssima gestão. Soma-se a isso a alta rotatividade de treinadores da seleção nos últimos anos (foram seis nos últimos dez anos) e a pouca qualidade dos companheiros em campo dão o tom do caos que é o time. Em suma, é uma seleção que não merece o craque que tem.
Mesmo assim, não vemos o gênio argentino desistir – embora sua convicção tenha fraquejado em alguns momentos. Em nome de um sonho, Messi se sujeita a passar pela constante cobrança. “Quero ganhar um título pela Argentina antes de me aposentar”, repetiu algumas vezes em entrevistas recentes, antes do início da Copa América. Messi nasceu em um período ingrato. Que culpa tem o argentino pelo jejum de 26 anos que sua seleção passa sem conquistar uma taça de grande expressão? Em 2014, na Copa realizada no Brasil, ele carregou praticamente sozinho uma equipe desacreditada. Chegou à final do Mundial e por um capricho (e desleixo de Higuaín) não levantou o troféu.
Nas últimas duas edições de Copa América, também chegou a decisão. O pênalti perdido contra o Chile em 2016 foi motivo para reacender o debate sobre sua dedicação à nação. Pura bobagem. Desde que tornou-se um profissional, conta-se nos dedos das mãos as vezes que o craque comemorou seu aniversário – ele fará 32 anos na próxima segunda, 24 de junho. Nesse período, Messi esteve mais concentrado com a sua seleção do que com sua família. Quer maior demonstração de vontade que essa? O fato de morar desde os 13 anos na Espanha faz dele menos argentino que os demais? Para quem tem dúvidas, olhe o mais recente post de Messi em sua conta no Instagram:
Messi não é Maradona. Ele não tem (e nunca terá) o carisma do ídolo maior dos argentinos. Porém, dentro de campo, o aprendiz já superou o mestre de lavada. Só quem alimenta uma nostalgia exacerbada acredita que o antigo camisa 10 da seleção jogou mais bola do que o atual. Dizem que Maradona conquistou um título de Copa do Mundo para a Argentina sozinho em 1986. A realidade é que ele teve um grupo de jogadores à altura de seu potencial. Messi nunca teve algo parecido.