O Havaí é aqui
Bicampeonato mundial de Gabriel Medina, conquistado novamente nas ondas sagradas de Pipeline, prova que o paulista já é um dos grandes da história do surfe
Há algumas semanas, Simone, a mãe do surfista Gabriel Medina, teve um sonho premonitório. Nele, seu filho aparecia brilhando novamente sobre as ondas da Praia de Pipeline, no Havaí. O pressentimento foi tão forte, revelou, que ela decidiu abrir um espaço na sala de troféus que mantém na sede de seu instituto social em Maresias, no litoral paulista, antes de embarcar para a última etapa do circuito profissional. “Espaço reservado para o troféu do bicampeonato mundial”, dizia um bilhete sobre a estante. Na segunda-feira 17, Simone viu seu vaticínio se materializar graças ao talento do primogênito.
Só por chegar à final da etapa havaiana, Medina, de 25 anos recém-completados, já havia assegurado o posto de melhor surfista de 2018. Com a conquista do Pipe Masters, a nona vitória de um brasileiro nas onze competições do ano, ele foi mais longe: conseguiu o chamado “10 perfeito”, quando o surfista recebe a nota máxima dos cinco avaliadores da performance sobre a prancha. Na transmissão oficial do campeonato, feita via streaming pelo Facebook, até os comentaristas australianos, que costumam ser os mais críticos em relação ao desempenho dos brasileiros, se curvaram ao talento de Gabriel. “Ele pode surfar qualquer tipo de onda”, assegurou um dos narradores.
Mais do que o bicampeonato, a vitória em Pipeline traz a constatação de que Medina já merece um lugar entre os grandes nomes da história do esporte. Especialista na arte de domar os tubos, os enormes paredões de água que engolfam o surfista por alguns segundos para depois cuspi-lo metros mais à frente, o brasileiro também é um dos pioneiros a aplicar em seu repertório manobras aéreas, movimentos que se encaixam à perfeição, lindamente, em ondas de menor tamanho. Nesse ritmo, vai ficar pequena a sala de troféus em Maresias.
Publicado em VEJA de 26 de dezembro de 2018, edição nº 2614