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Nunes: ‘O Flamengo está caminhando para se tornar uma potência mundial’

Camisa 9 na conquista do Mundial de 1981 exalta o trabalho fora de campo, não vê dependência de Jorge Jesus e reclama do nível atual dos atacantes no Brasil

O Flamengo disputa a semifinal do Mundial de Clubes nesta terça-feira 17 contra o Al-Hilal, da Arábia Saudita. Na opinião de Nunes, o herói da primeira conquista do time na competição em 1981, o destino em 2019 será o mesmo e o rubro-negro sairá de Doha, no Catar, com mais um título no ano. Para o ex-jogador, o futuro será ainda mais brilhante. “O Flamengo está caminhando para se tornar uma potência mundial”, profetiza, em entrevista exclusiva. Nesta tarde, Nunes fará os comentários da narração em tempo real da partida em VEJA.com.

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“É pelo planejamento que está fazendo, de ter os melhores funcionários para cada setor, seja na base, no futebol profissional. O Flamengo hoje tem os melhores profissionais do mercado. A administração fez o clube chegar a esse ponto. Precisa manter a filosofia de trabalho e fortalecer cada vez mais”, explica Nunes.

Nem uma eventual saída de Jorge Jesus influenciaria no sucesso do Flamengo. E isso vale para o técnico e para os jogadores. “Se tem um diamante, lapidar e ele se tornar uma potência mundial, todo mundo vai querer ter. Aí é difícil de segurar. Você tem de ter uma filosofia de trabalho e uma administração que saiba buscar novos diamantes. E como você descobre? Na base, que é onde você tem de trabalhar e desenvolver. Por isso que o clube usa o slogan: craque o Flamengo faz em casa.”

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O “artilheiro das grandes decisões”, apelido que recebeu por causa dos gols importantes marcados em várias conquistas do Flamengo, colocou duas bolas nas redes do Liverpool nos 3 a 0 na final do Mundial de 38 anos atrás. O ex-atacante, hoje com 65 anos, tem um palpite mais econômico para uma eventual decisão entre os campeões da Libertadores e da Liga dos Campeões. “Vai ser 1 a 0. Com gol do Gabigol”, aposta o antigo dono da camisa 9.

O supertime montado nesta temporada pelo português Jorge Jesus tenta repetir a história que o esquadrão formado por Zico, Adílio, Andrade, Júnior e o próprio Nunes escreveu nos anos 1980. Mesmo com o domínio no futebol brasileiro e sul-americano nesta temporada, Nunes não vê nenhum jogador em condições de substituir um dos 11 titulares daquela equipe. “Jamais tiraria um companheiro meu daquele time. Eles provaram para o mundo que eram verdadeiros jogadores de futebol.”

Para ele, os jogadores daquela época tinham um dom natural e os que jogam hoje em dia são “fabricados”. Num hipotético duelo entre o time de master do Flamengo e o atual, Nunes acredita que o jogo seria disputado. “A nação iria vibrar. Se a gente com 60 anos fizesse um amistoso contra o time de hoje, a gente se garante”, brinca o ex-atacante, que vai virar youtuber.

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https://www.instagram.com/p/B6JcCTEJdLJ/

Confira a entrevista completa de Nunes:

Dá para comparar esse Flamengo do Jorge Jesus com o de vocês? Não. Em primeiro lugar, não tem as mínimas condições de fazer essas comparações. São anos diferentes, jogadores diferentes. Na nossa época, não existia jogador fabricado. O jogador já nascia com o dom do futebol. Hoje nosso futebol é muito veloz, muito corrido. Prevalece mais o condicionamento físico do que a técnica, a malandragem do jogador brasileiro. Mas não estou tirando o mérito desse novo estilo de futebol. Por isso é complicado fazer esse tipo de comparação.

Algum dos jogadores de hoje teria condições de jogar no Flamengo de 1981? Eu jamais tiraria um companheiro meu daquele time. Todos são e foram jogadores maravilhosos, que provaram pro mundo que eram verdadeiros jogadores de futebol. Antigamente, o Flamengo tinha seu maior ídolo e quatro, cinco, seis grandes jogadores. São Paulo, Corinthians, Internacional, Grêmio, Fluminense a mesma coisa. Enfim, os clubes brasileiros daquela época tinham seus ídolos e jogadores maravilhosos. Não fabricados, e sim aqueles que tinham um dom de nascença.

O que quer dizer com “jogadores fabricados”? Hoje o condicionamento é diferente. O futebol é corrido. Antigamente o futebol era mais técnico, mais estudado. Tinha mais toque de bola consciente, domínio consciente e finalização também mais consciente. Eu falo por mim. Como centroavante, eu sempre tive um condicionamento físico natural, mas não muito fabricado e um dom de nascença. Só que sempre treinei muito fundamento. Não perdia tanto gol como se perde hoje. A gente treinava mais fundamento e a pontaria dava de mil a zero na dos atacantes de hoje. Tenho que valorizar o futebol que eu vivi.

Falta isso aos jogadores de hoje? Sim. Acho que alguns treinam, mas ainda falta muito fundamento. Tem muitos jogadores aí que perdem muito gols com facilidade. Outros já sabem aproveitar. Naquela época, os clubes tinham seus camisas 10 e 9 que sempre sabiam fazer gols. E tinham outros. Fundamento hoje falta e muito no nosso futebol.

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Qual a sua opinião sobre o Gabigol? Está numa fase maravilhosa. Está sabendo aproveitar as chances. Sinto que às vezes ele sente um pouco de dificuldades na movimentação. Tem que saber sair mais um pouco da marcação. Saber levar os zagueiros para as laterais, para tirá-los de dentro da área. Era o que eu fazia com o Zico. Me inspirei em dois centroavantes que todos aplaudiam: o Vavá, pela raça, e o Tostão, pela movimentação, que era maravilhosa. Por isso gosto muito de ver o Fred e o Ricardo Oliveira. Estão surgindo outros bons jogadores, mas eles precisam treinar muito fundamento para poder se tornar grandes homens de referência dentro da área.

O Flamengo tem dois atacantes em grande fase. O senhor já chegou a dar algum conselho ou conversar com Bruno Henrique e Gabigol? Não, não. Eu realmente tenho observado muito esses dois jogadores. São dois garotos que têm um futuro brilhante e estão em uma fase maravilhosa. Eles vêm fazendo os gols que o Flamengo precisa. Tanto é que foram campeões brasileiros e da Libertadores. E a equipe tem vários outros jogadores que estão fazendo bonito com a camisa do Flamengo. O Everton Ribeiro é o cérebro do time, um cara que quando domina a bola sabe o que quer fazer. Tem habilidade e personalidade.

O Gabigol é o Nunes da nova geração? Ele está vestindo uma camisa que tem história. Um número que tem história. Hoje é um ídolo da torcida. Não é a toa que esse número dá sorte. E também tem competência. Está honrando essa camisa. Nós já somos história, fomos os primeiros. Eles estão caminhando para buscar o segundo Mundial. Por isso que a torcida canta que quer o mundo de novo.

Se encontrasse com o Gabigol, o que falaria para ele? Acho que ele que me perguntaria como eu fiz aqueles dois gols contra o Liverpool. Iria ensiná-lo o caminho.

Qual o seu palpite para o Mundial de Clubes? Acho que o Flamengo está no caminho certo. Só que tem que ter muito foco, pé no chão e jogar o que vem jogando. Ter simplicidade, ser objetivo. A nação está confiante, como nós estamos. Seria bom para o futebol brasileiro. Falei que ia ser 1 a 0 na Libertadores com um gol do Gabigol, mas ele fez dois. Vou continuar com esse palpite. Ele está preparado, focado no objetivo, então será 1 a 0 com um gol dele.

Quem é o craque do Flamengo de 2019? É o Everton Ribeiro. Ele é o cérebro e o pulmão desse time. Está numa fase maravilhosa. Ele sabe o que vai fazer, tem personalidade para segurar a bola, partir para cima, de não reclamar das faltas que recebe.

Já houve algum encontro entre o time de 1981 com atual? Nunca nos encontramos. Mas se a gente com 60 anos fizesse um amistoso contra o time de hoje, a gente se garante. Seria um 0 a 0 bem disputado. Aí a nação ia vibrar. É como o Zico fala, se a gente fizesse o jogo contra aquele time do Liverpool hoje, seria 1 a 0, porque estamos todos com 60 anos. Com gol do Nunes! Um pelo menos eu ia guardar. Nem se desse um cascudo no zagueiro central que ficava atrás de mim. Dizem que o goleiro sonha comigo até hoje.

Mas vocês costumam fazer jogos com o time de master do Flamengo, não é? Sim, estamos organizando um torneio de verão com os campeões do mundo. Será em janeiro. Flamengo, Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio e Internacional. Será um jogo de Fut7 ali no Maracanãzinho. Eu que estou organizando. O Flamengo já liberou o ginásio e já convidamos os jogadores de todos os clubes. Teremos vários jogadores que estiveram nessas conquistas. Também convidamos os mais antigos. Zé Maria, Basílio, Raí, Lugano. Do Flamengo estarei eu, Zico, Adílio, Andrade, Júnior… Vai ser bem legal.

Como avalia o trabalho do Jorge Jesus? Ele está fazendo um trabalho maravilhoso no Flamengo. Não tenha dúvida. Ninguém vai dizer que não. Está sendo super importante para fazer com que o time esteja nas condições que está hoje. Mas isso também depende muito do grupo. Os jogadores abraçaram o projeto, a ideia, a visão dele e ele está sendo decisivo como técnico. Bato palmas. Está buscando o sonho dele junto com os jogadores.

Acha que se ele não continuar no Flamengo no ano que vem, o time vai continuar com essa sequência de vitórias e conquistas? Não se pode mexer no trabalho que está dando certo. Tem de fortalecer para dar continuidade. Se está tudo maravilhoso, tem de investir para ficar melhor ainda. O Flamengo hoje está caminhando para se tornar uma potência mundial. O planejamento que está fazendo, de ter os melhores funcionários para cada setor, seja na base, no futebol profissional, está caminhando para isso. O Flamengo hoje tem os melhores profissionais do mercado. A administração está fazendo o Flamengo chegar a esse ponto. Precisa manter a filosofia de trabalho e fortalecer cada vez mais.

Mas e se algum desses profissionais acabar saindo, como o técnico Jorge Jesus por exemplo? Mas aí, meu amigo, não tem jeito. Você como administrador, se tem um diamante, lapidar e ele se tornar uma potência mundial, todo mundo vai querer ter. Aí é difícil de segurar. Você tem de ter uma filosofia de trabalho e uma administração que saiba buscar novos diamantes. E como você descobre? Na base, que é onde você tem que trabalhar e desenvolver. Como o time de 1981. Por isso que o clube usa o slogan: craque o Flamengo faz em casa. Tem de colocar olheiros pelo país todo para descobrir talentos e poder trazer.

O senhor vai lançar um canal no YouTube, como também faz o Zico? Já está sendo feito. Minha esposa, Cassandra, que está organizando. A ideia é criar o canal com vários vídeos, entrevistas, bate-papo. Juntar os ídolos, os jogadores atuais. Teremos comentários sobre o que está acontecendo no futebol brasileiro e principalmente no Flamengo. Os vídeos seriam uma vez por semana. Fizemos uma reformulação também na rede social. O Instagram @nunes9oficial já está no ar.

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