Nova geração de elétricos: expansão lá fora e preço alto no Brasil
Com as restrições à venda de veículos poluentes e o incentivo de subsídios, os fabricantes desenvolvem uma nova geração de modelos 100% movidos a eletricidade

Nos primeiros anos da indústria automobilística, quando o petróleo não era abundante, boa parte dos modelos era movida a eletricidade, utilizando baterias de níquel e chumbo. Dos 4 000 veículos de passeio que circulavam na cidade de Nova York em 1903, 20% eram elétricos. Com o tempo, ficou evidente a supremacia dos motores a combustão. A principal barreira tecnológica sempre foi fabricar baterias capazes de dar aos carros autonomia para viagens mais longas. A reinvenção do carro elétrico ganhou ímpeto, nos últimos anos, em decorrência da pressão internacional pela redução das emissões de gás carbônico. Atualmente, todas as grandes montadoras possuem ao menos um modelo híbrido ou 100% elétrico.

Mesmo contando com subsídios em diversos países, esses carros ainda não se popularizaram. Os híbridos são responsáveis por cerca de 2% das vendas globais, e a parcela dos elétricos é de um ínfimo 0,02% do mercado. O bom-mocismo ambiental não tem sido suficiente para alavancar o interesse dos compradores. Além de os elétricos apresentarem preço até 30% acima do cobrado nos modelos similares a combustão, suas baterias (que respondem por mais de um terço do valor final do veículo) dificilmente permitem viagens superiores a 150 quilômetros. O abastecimento em tomadas convencionais pode durar dez horas, e os pontos especiais de reabastecimento, nos quais se pode fazer uma carga rápida, ainda são raros. Resultado: modelos encalhados nas concessionárias, a despeito dos descontos, e vendas abaixo das estimadas inicialmente.
Seriam os sinais de uma segunda derrocada dos elétricos? A resposta é não, segundo os especialistas. Em alguns mercados, esses carros conquistaram adeptos fiéis. Na Noruega, o líder de vendas entre os veículos de passeio é o Leaf, da Nissan. O país possui a maior frota de veículos elétricos per capita do mundo. Lá eles representam 10% das novas vendas, graças não apenas ao apelo ambiental, mas aos subsídios generosos do governo. Os elétricos podem trafegar em faixas exclusivas para fugir do trânsito, são isentos das taxas de licenciamento, não pagam pedágio e estacionam de graça. Na Califórnia, os subsídios também contribuem para as vendas. Existem à disposição populares como o Fiat 500E elétrico. O campeão de vendas, no entanto, é o esportivo Tesla, o favorito de celebridades californianas e empreendedores do Vale do Silício. A versão de entrada não sai por menos de 60 000 dólares, e existem filas de espera pelo carro criado por Elon Musk, deixando para trás os modelos da Porsche, Jaguar e Land Rover.

Até 2025, na Califórnia, em Nova York e em outros seis estados americanos 15% das vendas devem ser de carros não poluentes. São exigências desse tipo que empurraram as montadoras a se lançar em uma corrida tecnológica para aprimorar os elétricos e torná-los viáveis comercialmente. A Volkswagen anunciou as versões elétricas do Golf e do compacto Up!, previstas para 2014. O projeto mais ambicioso é de outra alemã, a BMW. A marca investiu 400 milhões de euros na construção de uma fábrica totalmente sustentável em Leipzig, no leste da Alemanha, para produzir exclusivamente a linha i, de carros 100% elétricos. O primeiro a sair da linha de montagem é o i3, que chegará às lojas europeias ainda neste ano. Em 2014, o modelo será lançado nos Estados Unidos e também no Brasil. Se o cronograma se confirmar, será o primeiro 100% elétrico a ser vendido no mercado brasileiro. Para ser mais leve, o carro tem sua estrutura de fibra de carbono. Assim, o i3 ficou 20% mais leve que o Leaf, e seu motor é 40% mais potente.
No Brasil, país que possui no etanol uma alternativa excelente aos combustíveis fósseis, os elétricos não são tratados como prioritários pelo governo. Para os fabricantes e também na opinião de especialistas, no entanto, essa estratégia é um erro, porque pode deixar o país atrasado no desenvolvimento de uma tecnologia que, no futuro, poderá ganhar importância. “A tendência é de uma disseminação de alternativas aos combustíveis derivados do petróleo e também ao etanol”, afirma Roberto Marx, professor da USP e coordenador do setor de pesquisa sobre carros elétricos e híbridos da Agenda Tecnológica Setorial, um grupo de trabalho do governo. Considerando-se todos os impostos, o Leaf, que custa 28 000 dólares lá fora, chegaria ao Brasil por até 100 000 reais. Já o i3, da BMW, que será lançado por 35 000 euros na Alemanha, custará acima de 200 000 reais aqui. Representantes do setor afirmam que o governo deverá anunciar, em breve, se concederá algum tipo de benefício aos híbridos e elétricos.

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