Neuer: pé esquerdo é mesmo sinônimo de azar
Lesões seguidas colocam a participação do melhor goleiro do mundo em xeque na busca pelo bicampeonato mundial
O goleiro Sven Ulreich, do Bayern de Munique, da Alemanha, recebe uma bola recuada, faz menção de dominá-la com as mãos, percebe que seria uma infração e, já deitado, tenta o chute. Em vão. Uma furada lastimável permite ao atacante Benzema, do espanhol Real Madrid, tocar para o gol vazio. Lance crucial no empate em 2 a 2 que eliminou o time da Baviera das semifinais da Liga dos Campeões, no último 1º de maio. Ulreich falhou no quesito mais exigido dos goleiros modernos, saber jogar com os pés, especialidade de quem substituía, Manuel Neuer. Em entrevista pós-jogo, o zagueiro Hummels lamentou a desclassificação sem meias palavras: “Jogamos a temporada inteira sem o melhor goleiro do mundo”.
Neuer vive uma situação curiosa — e dramática — há cerca de um ano. Em 30 de março de 2017, submeteu-se a uma “pequena cirurgia” para corrigir uma lesão no pé esquerdo, sofrida dias antes em um treinamento. O procedimento fora pouco invasivo para deixá-lo apto a enfrentar o Real Madrid nas quartas de final da Liga dos Campeões, duas semanas depois. Na partida de volta, em 19 de abril, fraturou o mesmo pé. Eliminado do torneio continental e com o título alemão da temporada 2016/2017 bem encaminhado, o Bayern decidiu não submetê-lo a nova cirurgia. Em setembro, quatro jogos após seu retorno, fraturou o mesmo pé esquerdo. Dessa vez, uma intervenção nada conservadora, com a colocação de placa.
Outro golpe de azar atingiu Neuer em 2017. Quatro vezes seguidas eleito pela Fifa para a seleção do ano (2013 a 2016), viu a entidade criar o prêmio específico de melhor goleiro do mundo justamente quando estava fora de combate. Ainda foi finalista, pelo pouco tempo que atuou, mas o italiano Buffon levou merecidamente. Vale lembrar que o alemão foi apenas o segundo goleiro a disputar o topo dos futebolistas, em 2014 — um intruso entre Messi e Cristiano Ronaldo. Antes dele, seu compatriota Oliver Kahn, em 2002.
A volta aos treinamentos só aconteceu sete meses depois, numa recuperação mais demorada do que o previsto. Insegurança e cautela justificadas: a proximidade da Copa do Mundo. Titular nas duas últimas edições e capitão da seleção alemã, Neuer pode não ser insubstituível (Ter Stegen, do Barcelona, da Espanha, fez bom papel em sua ausência), mas é único. Revolucionou a posição de goleiro, por trocar passes com os zagueiros e sair de sua área para cortar contra-ataques. Estilo incentivado pelo técnico Pep Guardiola, que o treinou por três temporadas no Bayern.
O técnico da Alemanha, Joachim Löw, conta com Neuer. A falta de ritmo de jogo preocupa, mas o treinador sabe o tamanho da importância de seu capitão. Na apresentação da equipe para os amistosos contra Espanha e Brasil, no último mês de março, o goleiro visitou os colegas e recebeu o agasalho oficial — um claro recado de pertencimento.
O mais reticente é o próprio Neuer, que já conta 32 anos — nascido em 27 de março de 1986, em Gelsenkirchen). “Preciso ser honesto comigo mesmo. Posso voltar a ser o que era depois de tanto tempo parado? Ou devo dizer que não estou pronto ainda?”, disse à revista alemã Sport Bild, no final de abril. O goleiro ganhou o apoio do treinador do Bayern, Jupp Heynckes, que não precipitou sua volta, afirmando que ele não poderia correr nenhum risco. Os torcedores alemães agradecem.