Nenei, o parceiro brasileiro (dentro e fora de campo) de ‘Turco’ Mohamed
Definido pelo técnico do Atlético-MG como seu companheiro mais festeiro, o carioca Nildeson relembra carreira de sucesso nas Américas Central e do Norte
Antônio ‘Turco’ Mohamed, o treinador argentino recém-contratado pelo Atlético Mineiro, vem despertando a curiosidade dos torcedores do Galo com sua personalidade forte e carisma. Um ex-jogador carioca o conhece muito bem. Nildeson da Silva Melo, o popular Nenei, foi companheiro de Mohamed na década de 90, quando formavam dupla de ataque do Toros Neza, do México. Ídolo do futebol da América Central e do Norte, o brasileiro que defendeu a seleção de El Salvador falou a PLACAR sobre a amizade com o comandante atleticano e relembrou grandes momentos de sua incomum carreira.
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Em entrevista recente à emissora Tyc Sports, Turco Mohamed disse que um Nenei foi o companheiro mais “festeiro” que já teve. O brasileiro relembra com saudades aquela parceria. “Ele era craque, craque de bola. Tinha uma tendência de engordar, então, quem o via dentro de campo, com a barriguinha, achava que era enganador. Mas quando pegava a bola, dava para ver que era diferenciado. Achava passes que só ele via e me deixou na cara do gol várias vezes.”
Nildeson comentou a suposta fama de marrento do argentino que, segundo ele, não é verdadeira. “Eu só tenho que exaltar o nome dele. Sempre foi extrovertido, alegre, um companheiro nota 10. Quando cheguei ao Toros Neza, tinha um receio, porque falavam que ele tinha um ego muito grande. Mas logo que cheguei, conheci um amigo muito leal.” Nenei revelou ter enviado uma mensagem ao treinador, que o convidou para um visita a Belo Horizonte.
Entre 1996 e 1997, a dupla do Toros Neza se destacou não apenas pelos gols, mas também com visuais exóticos. “Ele era um líder. Fazia brincadeiras com a gente, de pintar o cabelo, raspar careca e entrar de máscara”, diverte-se. Nenei desejou boa sorte para o ‘Turco’, mas com um porém: “Desejo toda a sorte pra ele, apesar de eu ser flamenguista. Sucesso pra ele no Campeonato Mineiro, então. Porque ele vai sofrer com meu Flamengo no Brasileiro. Brincadeiras à parte, ele merece muito.”
Nenei, um ídolo em El Salvador
Nascido no Rio de Janeiro, dia 29 de outubro de 1968, Nildeson Silva de Melo tem uma trajetória um tanto peculiar. É irmão mais velho de atletas famosos, os também aposentados Nélio, ex-Flamengo, Gilberto, de passagens por Cruzeiro e seleção brasileira, Nilberto, ex-Bangu, e Edmilson, atleta por anos do Brasiliense, Nenei diz ter influenciado todos eles.
“Eu fui o pilar da família para o futebol, saí primeiro do Brasil. O Nélio ainda era júnior do Flamengo e, antes de eu ir embora, sempre ia ao Maracanã ver ele jogar nas preliminares. Eles também sempre iam me ver aqui na Vila Isabel, nos campeonatos entre os bairros, que eram muito competitivos.”, disse o ex-jogador.
Profissionalizado pelo Porto Alegre de Itaperuna, modesto clube carioca, Nildeson chegou a desistir do futebol antes de brilhar. Como já era pai e as oportunidades eram escassas, decidiu abandonar o sonho e ir trabalhar para um advogado e empresário, o Senhor Ari. Foi nesta escolha, mediado pelo patrão, que a chance de sair do Brasil chegou. O destino: o Club Deportivo Luis Ángel Firpo, em El Salvador.
“Ir embora não foi uma escolha, foi uma necessidade. Cheguei e não sabia nada, nem falar espanhol. O país tinha 12 anos de Guerra Civil, eu não sabia como era, vi uma destruição completa. Assustei. Era a primeira vez que eu estava fora do Brasil e foi muito difícil adaptar. Com dois dias, quis voltar, mas o presidente do clube não deixou. E eu fui ficando.”.
O país vivia um dos momentos mais delicados de sua história, uma guerra entre o exército local, apoiado pelos Estados Unidos, e a guerrilha, formada com resguarda de cubanos e venezuelanos. O jogador brasileiro, que passou momentos tensos no país, viu os conflitos respigaram sobre ele, pela cor da pele. Segundo Nenei, grande parte dos opositores ao governo salvadorenho era negra, assim, por também ser, foi abordado muitas vezes por autoridades e sentia as pessoas o olhando com medo.
Contudo, em meio às dificuldades, incluindo a falta de estrutura para a prática do esporte profissional, o atacante conseguiu brilhar nos campos. Nos primeiros anos no país, se tornou ídolo do Ángel Firpo e depois pelo Atlético Marte. Em seguida, foi almejado pelo Sport Club Herediano, de Costa Rica, local no qual diz ter sido “só love”, bola na rede e título. Sempre artilheiro por onde passou, Nenei deu mais um salto na carreira: a ida para o futebol mexicano.
O ex-jogador não nega que chegar ao Toluca foi especial, principalmente pela estrutura. Na mesma época, Nenei recebeu um convite especial para se naturalizar e defender a seleção de El Salvador. “Aceitei sem pensar duas vezes. A naturalização saiu rápido, porque eu já estava na região por cinco anos e tinha filhos. Deu tempo de jogar as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, mas infelizmente não classificamos. Em seis jogos pela seleção, fiz cinco gols.” Para Nenei, um dos momentos mais especiais de sua carreira foi estrear marcando com a camisa salvadorenha, contra o Canadá.
Antes de regressar à América Central, o brasileiro passou pelos mexicanos Correcaminos e Toros Neza, onde dividiu elenco com Antônio Mohamed. De volta ao Ángel Firpo, clube em que fez mais temporadas, seguiu fazendo história, que é retribuída nos dias de hoje, com homenagens e frequentes convites para visitar o país. Mais no fim de sua trajetória, ainda passou por clubes como Atlético Balboa e Águila, pelos quais sente muito carinho.
Atualmente, de volta ao Brasil, é casado com Lucilene da Costa e Silva, amiga da juventude, a quem reencontrou há quatro anos. Em suas redes sociais, Nildeson assume uma postura romântica, com diversas homenagens à esposa, à mãe Elenice Silva, aos irmãos e demais familiares. A partir de agora, ele dividirá a torcida pelo Flamengo com o Galo do amigo Turco.