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Mohamed Salah é o maior jogador africano de todos os tempos?

PLACAR levantou dados e ouviu jornalistas brasileiros e estrangeiros sobre a posição que o artilheiro do Liverpool ocupa na história de seu continente

Mohamed Salah fez história no último domingo, 24, em Old Trafford. Com os três gols marcados diante do rival Manchester United na goleada por 5 a 0, o “Rei Egípcio” do Liverpool chegou a dez jogos consecutivos balançando as redes, igualou uma marca de Ronaldo Fenômeno que durava 17 anos (o brasileiro, então no Real Madrid, fora o último a anotar um hat-trick como visitante no mítico estádio), e, mais importante que isso: superou o marfinense Didier Drogba, ídolo do Chelsea, como maior artilheiro africano da história da Premier League, com 107 tentos, em apenas 167 jogos.

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Em seus quatro anos em Anfield, o habilidoso atacante canhoto tornou-se um mito. Chegou a duas finais de Liga dos Campeões (perdeu em 2018 e venceu em 2019), ergueu o Mundial de Clubes e a tão sonhada Premier League encerrando um jejum de 30 anos. Também foi duas vezes artilheiro da liga. A mais nova façanha na casa do United reafirmou não apenas a sua candidatura à Bola de Ouro da temporada como também abriu margem para um debate interessante: aos 29 anos, e ainda com muita lenha para queimar, Salah já pode ser considerado o maior jogador africano em todos os tempos? PLACAR levantou dados e ouviu jornalistas do Brasil e de diversas partes do mundo sobre o tema.

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Salah tem concorrentes de peso. George Weah, ídolo do Milan e atual presidente de seu país, a Libéria, é, até hoje, o único africano a ter vencido a Bola de Ouro, em 1995. O camaronês Samuel Eto’o, por sua vez, conquistou mais títulos e por mais clubes. O Marfinense Didier Drogba tem mais gols na carreira e ajudou a elevar o patamar do Chelsea. Os critérios de cada eleitor variam e outros nomes foram citados, como o camaronês Roger Milla, o africano de maior brilho em Copas do Mundo, os senegaleses Sadio Mané e Yaya Touré, vitoriosos na Premier, entre outros.

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George Weah
Liberiano George Weah, então no Milan, recebe a Bola de Ouro da revista France Football em 1995

No quesito gols marcados, Eto’o, que se aposentou em 2019 aos 38 anos, leva ampla vantagem: 418 bolas na rede, contra 365 de Drogba e 215 de Weah. Único ainda em atividade, Salah, que demorou a deslanchar como artilheiro, com números bem inferiores por Basel, Chelsea, Fiorentina e Roma, já tem 269. Eto’o também lidera na lista de premiações de Melhor Jogador Africano do Ano, com quatro troféus, empatado com Yaya Touré; Weah e o ganês Abedi Pelé têm três, e Salah e Drogba têm dois cada um. Um dos quesitos citados por jornalistas africanos que pesa contra Salah é a falta de títulos por sua seleção, algo que os principais concorrentes já obtiveram.

O debate, como todos envolvendo os melhores da história, é saboroso. Confira, abaixo, o veredicto de 14 jornalistas ouvidos por PLACAR:

Amr Nageeb Fahmy, jornalista egípcio da emissora BeIn Sports – SIM

Quando falamos de recordes, penso que Salah é o melhor jogador africano da historia. Mas devemos ter outras coisas em mente, como títulos com a a seleção, o talento puro, a época em que jogavam. Nem todos vimos George Weah no auge. Ao falar de talento puro, posso dizer que jogadores como Teóphile Abega (Camarões), Jay Jay Okocha (Nigéria), Aziz Bouderbala (Marrocos), Mohamed Abuotrika (Egito) teriam méritos para estar na discussão. É certo que Salah guiou o Egito à Copa do Mundo depois 28 anos de fracassos, mas ele não teve no Mundial uma prestação histórica como Roger Milla por Camarões em 1990. Também não ganhou a Copa das Nações Africanas como Samuel Eto’o, por Camarões, ou Aboutrika, pelo Egito, não ganhou uma medalha olímpica. Mas se falamos dos recordes gerais, ele é o melhor jogador africano da historia, sem dúvidas.

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Francisco Jauregui, jornalista argentino, autor do livro Fútbol Africano: crónicas, historias e investigación (2020) – SIM

Considero que Salah está a caminho de se tornar o maior de todos os tempos. Nomes como Milla, Weah, Drogba e Eto’o poderiam sentar na mesma mesa sem nenhum problema, mas Salah está em um nível tremendo e desde sua chegada o Liverpool tem se mantido na elite do futebol mundial. Pode pesar contra ele a falta de títulos pela seleção, mas Salah levou sua seleção à final da Copa Africana em 2017 e para a Copa de 2018. Em 2019, a terra das pirâmides foi sede da Copa Africana e foi surpreendida nas oitavas pela África do Sul. Estive nestes dias no Cairo e, apesar da eliminação, todas as ruas tinham o rosto de Salah, em bandeiras, pinturas na parede, bebidas e doces. Para além do esporte, sua imagem é motivo de orgulho para todos os egípcios e árabes como um todo, e isso também conta a seu favor. Com 29 anos, já superou em número de gols a outro mito como Drogba no futebol inglês e pode chegar ainda mais longe. Diferentemente de outras épocas, hoje a África tem diversos expoentes, como o senegalês Mané e o guineano Naby Keita, também no Liverpool, o argelino Mahrez, no City, e o gabonês Aubameyang, no Arsenal, mas Salah é não apenas o melhor de seu continente, mas um dos melhores do mundo na atualidade.

Paulo Vinicius Coelho, jornalista do Grupo Globo – NÃO

Não acho Salah o melhor. Acho Samuel Eto’o o mais talentoso dos africanos e também versátil, rápido, goleador. Também acho Drogba mais forte. Salah está num momento brilhante e pode ultrapassá-los.

Omna Tadele, jornalista etíope do portal Soccer Ethiopia – NÃO

Não vejo Salah como o maior, pois ainda precisa repetir com sua seleção a impressionante forma que mostra por clubes. Sua carreira começou a desabrochar quando chegou à Fiorentina, depois Roma até se consagrar no Liverpool. Mas, para ser o maior da África, creio que precise pelo menos vencer a Copa das Nações Africanas, algo que Eto’o e Drogba conseguiram. Eu creio que Eto’o seja, com sobras, o maior de todos os tempos. Ele era preciso de frente para o gol, foi parte importante do sucesso do Barcelona e ganhou muitos troféus coletivos e individuais. Fez o mesmo na Inter de Milão e ainda é campeão olímpico em Sidney-2000 e bicampeão africano (2000 e 2002) por Camarões.

Mohamed Salah recebe prêmio de melhor jogador da temporada, após partida entre Liverpool e Brighton - 13/05/2018
Mohamed Salah recebe prêmio de melhor jogador da Premier em 2018

Celso Unzelte, jornalista da TV Cultura e ESPN, e professor universitário – NÃO

Em termos de repercussão por um grande clube, só vejo George Weah como um rival à altura de Salah. No nível de seleção e de Copa do Mundo, tem o fantástico Roger Milla, que já foi eleito muitas vezes como o maior africano do século pelo que fez por Camarões. Eto’o também foi muito grande, assim como Drogba e o próprio Mané, mas pelo padrão atual, em que os clubes são mais relevantes, vejo Salah e Weah destacados, com o liberiano ainda um pouco à frente, mas com o egípcio ainda em condições de superá-lo.

Luiz Felipe Castro, editor de PLACAR – NÃO

Ainda não. Aos 29 anos, Salah parece estar vivendo o auge de sua carreira e pode ocupar essa vaga se mantiver este nível e o Liverpool voltar a conquistar grandes títulos. É craque e evoluiu muito nos últimos anos. No entanto, ainda vejo Samuel Eto’o à frente. São três títulos de Champions, marcando gols em duas finais, além de ser um jogador um pouco mais completo, técnico, forte, rápido e com enorme personalidade. A disputa é boa, mas, no par ou ímpar, eu ainda escolheria o camaronês para o meu time.

Sam Lee, jornalista britânico do The Athletic – NÃO

Yaya Touré sempre tem que estar na conversa quando se trata dos melhores jogadores africanos de todos os tempos. Ele ganhou a Liga dos Campeões com o Barcelona e foi uma das figuras mais importantes para transformar o Manchester City em um dos melhores clubes do mundo. Marcou os únicos gols na semifinal e na final da Copa da Inglaterra em 2011, o primeiro troféu do City da era moderna, e foi vital para a conquista da Premier League em 2012. Em 2013-14, ele fez uma das melhores campanhas individuais na história da Premier League, com o City conquistando o título novamente. Nesse período de sua carreira, ele venceu o futebolista africano do ano quatro vezes consecutivas entre 2011 e 2014, e depois a Copa das Nações Africanas com a Costa do Marfim em 2015. Também fez parte da seleção do ano da CAF sete vezes, enquanto jogava com o Barça e City. Seu jogo de meio-campo intenso, passes delicados e habilidade de marcar gols o colocam como um dos melhores de sua geração e um dos melhores jogadores de seu continente

Steven Lavon, jornalista togolês – NÃO

Para mim é cedo para cravar que Salah seja o maior. É um ótimo jogador, que vem fazendo um trabalho excelente na Premier League, mas não creio que seja o suficiente. O que ele está fazendo, Eto’o e Drogba já fizeram, apenas para citar alguns. Para mim, Salah precisa repetir esse sucesso com os Farós, por exemplo ganhando uma Copa Africana de Nações, para chegar ao topo. Hoje, porém, é sem dúvida um dos melhores jogadores do mundo, ao lado de Benzema e Lewandowski. Seus toques, seus gols, é tudo muito gostoso de assistir, além de ele ser uma pessoa incrível e que está sempre sorrindo.

Klaus Richmond, repórter de PLACAR – NÃO

Salah, sem dúvidas, já solidificou uma incrível história no Liverpool e com a seleção do Egito, mas, na corrida pelo título de maior africano de todos os tempos, ainda o vejo como um coadjuvante de luxo. George Weah, por exemplo, foi histórico. Venceu uma Bola de Ouro com concorrência pesada, foi ídolo do Milan, atuou em alto nível no futebol italiano (a Premier League da época). E tinha algo essencial: personificava, por ser negro e engajado politicamente, a África como ninguém. Poderíamos lembrar de muitos nomes como Abedi Pelé, Samuel Eto’o e Didier Drogba. Eto’o foi incrível e, por muitos anos, esteve no mais alto nível do futebol mundial, por Barcelona, Inter de Milão, Camarões. Drogba também merece menção, pois é o principal rosto de um Chelsea vitorioso. Acredito que Salah com sua perna esquerda letal ainda tem muito para acrescentar ao futebol, mas, momentaneamente, escolho George Weah.

Guilherme Azevedo, repórter de PLACAR – SIM

Atuando no contexto de futebol mais difícil da história, com poucos espaços e muita intensidade física, Salah consegue números impressionantes pela liga mais disputada do mundo. Desde que chegou ao Liverpool, o egípcio marcou 140 gols em 215 partidas, o que ajudou o clube a sair da fila no Campeonato Inglês e vencer uma Liga dos Campeões após mais de uma década.

Bruno Formiga, jornalista do TNT Sports – NÃO

Em 2020, fiz um programa Polêmicas Vazias (assista abaixo) sobre quem era o melhor africano de todos os tempos, levando em conta quem ficou mais tempo no auge, técnica e características. Deu Eto’o. Acho que maior também ainda é complicado. Eto’o, Drogba e Weah quebraram várias paradigmas. Salah pode chegar lá, mas acho que ainda falta. Basicamente esse gigantismo dele se resume ao Liverpool de 2018/2019 pra cá. É pouco ainda, mas impressiona.

https://youtu.be/d8fV2qOoHSA

Fred Caldeira – Correspondente da TNT Sports na Inglaterra – NÃO

Salah já faz parte dos quatro maiores jogadores do continente africano de todos os tempos, mas acho que ainda é cedo para colocá-lo como o maior. Weah, Drogba e Eto’o têm mais títulos e prêmios individuais, o que os coloca acima do egípcio, mas alguns fatores podem elevar Salah à primeira posição. 1) Longevidade: aos 29 anos, Salah tem o melhor começo de temporada de toda a carreira. Nesse ritmo, pode inclusive bater a incrível primeira temporada pelo Liverpool, quando chegou aos 44 gols. Com a evolução da medicina esportiva e da preparação física, pode manter o alto nível por mais tempo que Droga, Eto’o e Weah. 2) Fim da era Messi e Ronaldo: o vácuo deixado pelos dois jogadores pode abrir espaço para Salah na Bola de Ouro. É claro que há outros nomes tão bons ou melhores que o egípcio (como Lewa, Haaland, Mbappé e outros), mas Salah tem condições de competir e fazer com que o continente africano seja representado mais uma vez na premiação. 3) Condição física: Salah teve apenas oito lesões em toda a carreira. Nenhuma delas o deixou afastado por mais de quatro jogos. Com a camisa do Liverpool, perdeu apenas um jogo por lesão (os outros dois foram por uma concussão e uma infecção do coronavírus). Dados que fomentam a ideia de longevidade do egípcio.

Mimmo Ferretti, jornalista italiano – NÃO

Quando esteve na Roma, Salah não era absolutamente o jogador que é hoje. Era muito bom, mas não extraordinário como se tornou na Inglaterra. Tanto que quando o Liverpool o comprou por 50 milhões de euros, parecia uma quantia justa. Hoje, certamente vemos que saiu muito barato para os ingleses, assim como Alisson. Sempre podia decidir, porque é velocíssimo, finaliza bem, mas não era um artilheiro como é hoje. Quem foi o melhor? É difícil. Weah fez coisas extraordinárias no Milan, venceu uma Bola de Ouro, o que pesa bastante. Eto’o também venceu tudo no Barcelona e na Inter de Milão, Drogba também. Vejo os três ainda um pouco à frente, com mais personalidade de protagonista. E ainda tem Roger Milla, que se transformou em um símbolo do futebol africano na Copa de 1990 aqui na Itália… Meu número 1 ficaria entre Eto’o e Weah.

Luca Castilho, repórter de  PLACAR – NÃO
Não. Entre as opções, votaria em Samuel Eto’o. Acredito que Salah ainda tem um caminho a percorrer para se equiparar a nomes como Samuel Eto’o, Didier Drogba e Yaya Touré, citando apenas nomes mais recentes do futebol internacional. Coloco o fato dele ainda estar atuando como um ponto complicado para a análise, todos os outros citados já se aposentaram. Atualmente, na minha visão, Salah ainda é um coadjuvante na comparação.

Martín Blotto, jornalista argentino do Diário OléNÃO

Salah é o melhor atacante africano há muitos anos, não resta dúvida. No entanto, só com o passar dos tempos poderemos determinar se o jogador do Liverpool pode ser considerado a maior estrela do continente em todos os tempos, pois tanto o cativante George Weah, figura do Milan em sua época, quanto Eto’o, campeão da Champions por Barcelona e Inter, e Drogba merecem um lugar no pódio.

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