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“Medo era palavra que não fazia parte do vocabulário de Florence Arthaud”, diz Amyr Klink

Ela morreu no acidente de helicóptero em La Rioja, na Argentina, nesta segunda-feira

“A namoradinha do Atlântico” era o carinhoso apelido de Florence Arthaud na França. A alcunha lhe foi colada depois da espetacular travessia do Atlântico Norte, em agosto de 1990, a bordo de um veleiro, o trimaran Pierre 1° da Sérvia. Florence bateu o recorde anterior em 2 dias – saiu do farol Ambrose, em Nova York, e chegou ao Cabo Lizard, na Cornualha inglesa, exatos 9 dias, 21 horas e 42 minutos depois. A acompanhá-la, apenas o barco e doses extraordinárias de coragem de quem, aos 17 anos, depois de um acidente de carro, permaneceu seis meses em coma no hospital. Naquele mesmo 1990 que a transformou em mito na França de François Mitterrand, Florence venceu a Rota do Rum, entre Saint Malo, na Bretanha, e Point-a-Pitre, em Guadalupe, numa viagem heroica de 14 dias e algumas horas. Há um modo didático, do ponto de vista brasileiro, de entender o tamanho de Florence Arthaud – ela atraiu o interesse e a fascínio de Amyr Klink em seus gloriosos dias de solidão. Florence e Amyr eram irmãos gêmeos dentro dos barcos a vela.

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O brasileiro faz uma ressalva na comparação. “Ela era totalmente destemida”, diz. “Não queria apenas chegar ao destino, por mais difícil que fosse. Queria chegar na frente, não na frente das mulheres, mas na frente de todo mundo, deixando para trás alguns dos mais competentes velejadores do mundo”. Amyr lembra com a emoção de quem sabe que a resposta está no vento, da travessia do Atlântico em 1990. “Trata-se de uma viagem complicada, de vento contrário, e a Florence não hesitava em fazê-la do modo mais improvável, com pano máximo, sempre com o risco de arrebentar a vela”, afirma Amyr. Audácia era a tônica da francesa. “Medo era palavra que não fazia parte de seu vocabulário”, lembra o navegador de Parati. Em 1986, ela mudou sua trajetória na Rota do Rum para dar assistência ao compatriota Loïc Caradec – ela encontrou o barco, mas não o navegador, que morreu. Florence definitivamente se transformara na “namoradinha do Atlântico.”

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Amyr Klink
Amyr Klink VEJA

O contato inicial de Amyr com Florence se deu por meio dos livros de aventuras marítimas publicados pela editora do pai da navegadora, as Éditions Arthaud, uma entidade tipicamente francesa. Todo adolescente interessado por marés tinha uma coleção de volumes da Arthaud. “Talvez tenha estudado literatura francesa, durante muitos anos, influenciado pela Arthaud”, revela Amyr. “Primeiro vieram os livros editados pelo pai, depois a ambição destemida e solitária de Florence. Ela era um ídolo para mim”.

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Dúvidas a respeito desse entusiasmo de Amyr com Florence? Em um de seus livros, Entre Dois Polos, relato da aventura de 642 dias, ida e volta, entre a Antártica e o Ártico, ele revelou seu carinho pela francesa, ao nomear um objeto fundamental de controle do Paratii na invernagem com o nome da navegadora francesa. Escreveu Amyr: “A 11 de janeiro, com vento de sudoeste e mar não muito acolhedor, resolvi dar férias ao “piloto pardo”, meu eficiente piloto eletrônico, e substituí-lo por um sistema mecânico de governo automático, o leme de vento. Uma encantadora peça de fina e precisa engenharia que mantém o rumo em função de um ângulo com o vento, corrigindo o leme principal por meio de um servo-pêndulo logo atrás. Meio complicado de se descrever, mas muito atraente de se observar em funcionamento, o meu leme de vento ganhou, não sei por que, o nome de Florence. Talvez por sua elegância e sensibilidade ao conduzir o barco. E me deu grandes alegrias ao mostrar que, mesmo com mar muito forte ou em quase calmadas, nunca perdia o controle.”

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