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Magno Alves: Terceiro maior artilheiro do mundo aos 40 anos

Dentre os jogadores em atividade no mundo, apenas Cristiano Ronaldo e Messi marcaram mais gols, em clubes, do que ele. O menino, que saiu de casa já faz mais de 22 anos para se tornar jogador de futebol, ainda quer muito mais

No futebol atual não chega a ser muito raro jogadores próximos aos 40 anos de idade ainda reunirem condições para atuar em alto nível. No entanto, quando isso acontece, normalmente eles são goleiros, zagueiros ou, no máximo, volantes. Magno Alves surpreende por continuar sendo um atacante que impressiona pela vitalidade com que parte em direção às defesas adversárias, como se ainda fosse um juvenil em começo de carreira. 

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Para se ter uma ideia da sua importância para a atual equipe do Fluminense, no dia 12 de setembro, na partida frente ao Atlético-MG, ele entrou no intervalo, quando a equipe tricolor perdia por 1 a 0. Coube a ele dar assistência para três gols e ainda sofrer a falta que resultou em mais um tento da equipe carioca, que venceu por 4 a 2. Assim tem sido a carreira do Magnata, como os torcedores costumam chamá-lo, muita dedicação e, principalmente, gols, um exemplo de bom profissional dentro de campo e cuja história de vida, desde sua pequena Aporá, faz dele um exemplo a ser seguido por qualquer pessoa.

ENTREVISTA

PLACAR: Quarenta anos, terceiro maior artilheiro em atividade no futebol mundial e um dos maiores de todos os tempos, o que mais quer Magno Alves?

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M A: Pois é, até para mim isto tudo é surpreendente, ainda que tenha me dedicado tanto para ser um jogador de sucesso. Mas creio que o fato de estar fazendo o que mais amo, que é jogar futebol, é que tornou tudo isso possível. E é o que ainda espero continuar fazendo, jogar futebol e marcando gols.

PLACAR: Quando criança, o futebol já fazia parte dos seus sonhos?

M A: Na minha sim, mas não nos da minha mãe. Sou de uma cidade pequena, Aporá, que fica a quase 200 quilômetros de Salvador e costumava jogar bola na rua, na quadra, no terrão, aliás, onde houvesse uma bola e algum espaço, durante todo o dia, mas tinha que ir ao colégio para estudar. Minha mãe sempre colocou os estudos como prioridade lá em casa. Já eu, quando não estava no colégio ou jogando futebol, estava ouvindo jogos pelo rádio, principalmente o locutor José Carlos Araújo, o Garotinho.

PLACAR: Quais as suas maiores lembranças daquele futebol que você ouvia?

M A: Nossa, lembro sempre dos grandes craques, sobretudo do futebol carioca, que era o mais popular lá no Nordeste. Era muito jogador bom, Zico, Roberto Dinamite, Renato Gaúcho e tantos outros; e alguns deles, depois de alguns anos, viriam a jogar junto comigo.

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PLACAR: Você torcia para qual time?

M A: Na Bahia, para o Vitória; no Rio de Janeiro, o Flamengo, mas depois de ter uma história tão próxima com o Fluminense, não tinha como não virar Tricolor.

PLACAR: Como foi a sua primeira oportunidade no futebol?

M A: Tinha um pessoal de uma empresa de transportes na cidade de São Sebastião do Passé, cerca de 70 quilômetros da minha cidade, que tinha um time de futebol, o Ratrans, que disputava o campeonato baiano juvenil. Eles me viram jogar em um campinho perto de casa e me convidaram a ir para lá.

Vestindo a camisa do Ceará, o Magnata se tornou um dos maiores ídolos do futebol local – Revista Placar

PLACAR: E lá foi você…

M A: Que nada, minha mãe só me deixou sair de casa depois que eu terminasse o curso de contabilidade no final do ano. Sendo assim, apenas em janeiro de 1994, parti para São Sebastião de Passé, onde fiquei por quatro meses.

PLACAR: O que aconteceu? As coisas não deram certo?

M A: Na verdade, o time foi fazer uma excursão para a cidade de Valinhos (NR.: cerca de 80 quilômetros da cidade de São Paulo) e acabou fazendo uma parceria com o time de lá, e eu acabei ficando por lá.

PLACAR: Foi difícil esta adaptação tão longe de casa?

M A: Foi tranquilo, mesmo porque éramos 30 baianos e isso facilitou muito o convívio. A moçada era muito jovem e animada, e um acabava ajudando o outro. Era como se estivéssemos na Bahia. Foi tudo ótimo durante 1994, até que, ao acabar o ano, o time foi desfeito e foi todo mundo embora, menos eu.

PLACAR: Sério? O que te fez persistir neste sonho?

M A: Eu já tinha na minha cabeça que não ia voltar para Aporá sem antes me realizar como jogador; a nal, o que eu iafazer lá? Por isso, quando o pessoal decidiu voltar, eu falei para o dono do time que eu ia ficar e pedi para ele me mandar para alguma outra equipe que ele conhecesse, e foi aí que acabei indo para o Atlético Paranaense, para disputar um torneio em Londrina.

PLACAR: Foi tudo bem lá?

M A: Não muito, pois acabei não cando por lá e voltei para Valinhos. Em seguida, fui para o União São João, de Araras, onde fui melhor e o que resultou em uma chance de disputar o campeonato paulista juvenil e a Taça São Paulo de Juniores pelo São Paulo em 1996.

PLACAR: Seu primeiro tricolor…

M A: Verdade, lá eu joguei com o Edmilson (campeão mundial em 2002), Fabiano, Sidney e muitos outros caras bons de bola. O técnico era o uruguaio Dario Pereyra. Mas acabei me machucando ainda durante o paulista e acabei não ficando. Voltei para Valinhos.

Em 2011, Magno Alves passou por Belo Horizonte, onde atuou pelo Atlético Mineiro – Revista Placar

PLACAR: Com as portas se abrindo e fechando a todo momento, não chegou a desanimar e pensar em desistir?

M A: Jamais, sabia que as portas fechavam e que, por isso mesmo, precisava continuar, justamente para abri-las. E fui tentando, uma vez que sabia que um dia as coisas iam se acertar. Passei pelo Independente de Limeira, onde joguei na divisão B1 (atual Segunda Divisão) e fui muito bem. Apareceu a chance de eu ir jogar no Mogi Mirim, que tinha o Rivaldo, Valdo e Leto (NR.: o ‘Carrossel Caipira’ do técnico Vadão, que fez muito sucesso), mas acabei indo para o Louzano Paulista (NR.: atual Paulista), em Jundiaí, que tinha como um dos dirigentes o Eli Carlos, irmão do Silas (ex-jogador do São Paulo e da seleção brasileira), e o Giba como técnico. Naquele tempo, o Silas jogava no San Lorenzo da Argentina, e me mandaram para lá. Fiz os testes em novembro, fui aprovado e marcaram para que eu voltasse em janeiro, já para assinar meu contrato.

PLACAR: Como foi sua experiência em terras portenhas?

M A: Pois é. Cheguei lá no dia do meu aniversário, em 13 de janeiro de 1997, e o mesmo técnico argentino que tinha me aprovado me dispensou. Aquilo me arrebentou, ainda mais pelo fato de ser logo no meu aniversário.

PLACAR: Poxa… mas parecia que havia algo melhor sendo guardado para você, não?

M A: Sem dúvida. Fiquei em Jundiaí um tempo e logo fui jogar no Araçatuba, que estava na primeira divisão do campeonato paulista. Lá joguei com o Guga (NR.: ex-atacante que se destacou no Santos) e fui muito bem. Cheguei a ser negociado com o futebol mexicano, mas acabei indo para o Criciúma, no qual pela primeira vez disputei o Campeonato Brasileiro da primeira divisão, em que também fui muito bem.

PLACAR: O sonho já era realidade…

M A: Sim, agora o menino de Aporá, que ouvia jogos pelo rádio, passou a fazer parte daquilo tudo.

PLACAR: Então veio o Fluminense.

M A: Verdade. Depois do campeonato, recebi propostas de muitos times. Quase fui para o Corinthians, a pedido do técnico Vanderlei Luxemburgo, mas meus empresários na época acabaram preferindo que eu fosse para o Fluminense, que tinha acabado de ser rebaixado para a Série B.

PLACAR: As coisas não vinham nada bem pelas Laranjeiras, como foi viver aquele momento?

M A: Apesar de estar na Segunda Divisão do Brasileiro, o Fluminense era time grande e ainda tinha o Campeonato Carioca, torneio Rio-São Paulo, Copa do Brasil, que todo mundo assistia. Queria me projetar, chegar ao Tricolor foi motivo de muito orgulho para mim. Ainda assim, as coisas estavam bem complicadas no clube, com salários atrasados e muitos jogadores sendo contratados e dispensados, o que atrapalhava muito as coisas em campo.

PLACAR: Aí veio novo rebaixamento para a Série C. Os dirigentes tricolores chegaram a afirmar que iam dispensar todo mundo. Chegou a achar que as coisas voltariam a andar para trás?

M A: Quando se perde, estas coisas acontecem, mas eu acabei ficando no Fluminense. Eu sabia que tristezas e frustrações faziam parte e que as vitórias logo voltariam. Fomos campeões brasileiros da Terceira Divisão em 1999, com o Carlos Alberto Parreira como técnico. Sempre lembro quando ele, que é tricolor, falava para todos nós que aquele não era o lugar do Fluminense. Ele foi muito importante naquele momento.

Magno Alves (na foto no Umm-Salal do Qatar em 2009) fez sucesso no futebol asiático, onde atuou por quase sete anos, sempre marcando muitos gols – Revista Placar

PLACAR: O ano 2000 foi o seu maior momento na carreira?

M A: Na verdade, foi quando o Brasil inteiro passou a me conhecer melhor do que eu seria capaz. Deu tudo certo. Fui artilheiro da Copa João Havelange (NR.: o Campeonato Brasileiro daquele ano) com 20 gols, cheguei a marcar 5 gols em uma partida (NR.: 25 de outubro de 2000, Fluminense 6 x 1 Santa Cruz) e passei a ser cotado para ser convocado para a seleção brasileira, o que viria a acontecer no ano seguinte, quando o Leão me chamou para a Copa das Confederações.

PLACAR: Acredita que se Leão tivesse ficado para a Copa do Mundo de 2002, você teria sido convocado?

M A: Rapaz, viver a seleção brasileira foi a realização de um sonho, algo incrível estar no meio de tanto craque. Mas jogar no Brasil é complicado, é muito jogador bom, a concorrência é muito grande. Eu tenho minha autocrítica e sabia que não teria como tomar a posição daqueles nomes que foram campeões na Copa.

PLACAR: E daí, saiu do país…

M A: Sim, fui para a Ásia em 2003, onde fiquei por quase sete anos. Atuei no Japão, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Catar. Fui muito bem por lá, fiz muito gol, fui campeão. Viver no exterior me propiciou aprender muito culturalmente, estava muito bem lá, até que veio o convite de voltar ao futebol brasileiro e jogar na equipe do Ceará, que iria disputar a Série A do Campeonato Brasileiro de 2010. Eu tinha 34 anos e não perdi a chance de voltar, ainda mais para atuar em um clube como o Ceará, com uma torcida tão apaixonada.

Em 2011, Magno Alves passou por Belo Horizonte, onde atuou pelo Atlético Mineiro – Revista Placar

PLACAR: Aliás, foi no Ceará que você virou o ‘Magnata’? Você é idolatrado por lá.

M A: A torcida do Vozão sempre foi muito carinhosa comigo, vivi grandes momentos por lá, tanto é que no ano seguinte fui contratado pelo Atlético Mineiro e depois voltei para o Catar. Em 2012, os dirigentes do Ceará foram me trazer de volta e esta relação com a torcida ficou ainda mais forte. Foram quase 100 gols (NR.: 93 gols), sendo que em 2014 fui artilheiro da Copa do Nordeste e da Série B do Brasileiro, me tornando o artilheiro do Brasil, com 37 gols. Também fui campeão cearense duas vezes, em 2013 e 2014, e da Copa do Nordeste no ano passado.

PLACAR: Além dos gols e das grandes atuações, lá você conseguiu ser admirado até mesmo pelos torcedores das equipes rivais. A que você deve isso?

M A: Não sei se por ser nordestino também, sou baiano, eu me identifiquei muito com os cearenses. Além disso, sempre mantive um comportamento exemplar não apenas como atleta, mas também como pessoa. Para você ter uma ideia, que eu me lembre, aqui no Brasil fui expulso de campo apenas uma vez (NR.: em 14 de junho de 2015, Palmeiras 2 x 1 Fluminense). Busco ser um exemplo para os mais jovens.

PLACAR: Logo após conquistar a Copa do Nordeste no ano passado, já com 39 anos, o Fluminense foi trazê-lo de volta às Laranjeiras. Voltar para um time da Série A ainda fazia parte das suas expectativas?

M A: O pessoal do Fluminense já estava namorando comigo fazia tempo e devo confessar que sempre sonhei acabar a minha carreira aqui. Apenas o Tricolor poderia me tirar do Ceará. E sabia muito bem que tinha condições de atuar em alto nível na Série A.

PLACAR: Então, ano que vem o Fluminense terá um atleta com 41 anos de idade?

M A: Meu contrato vai até o final do ano, o que acontecerá a partir daí está nas mãos de Deus, Ele proverá.

PLACAR: O que você sugeriria para um menino do interior do Nordeste que sonha ser jogador de futebol?

M A: É preciso ter foco, e principalmente autocrítica, para saber se é capaz de se tornar um jogador de futebol. Pensando nisso, eu criei, já faz quase dez anos, lá na minha cidade, a Fundação Magno Alves, que já chegou a ter 200 crianças. Desejo ajudar a criar condições para ajudar as crianças de lá, não apenas para serem atletas, mas cidadãos. Que elas consigam descobrir o dom delas e perseverar para seguir em frente.

PLACAR: Ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo, você é um dos três atletas em atividade com maior número de gols marcados em clubes. Qual deles você escalaria para jogar ao seu lado no ataque.

M A: Messi, ele é diferente, é incrível.

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PLACAR: Então teríamos Messi e Magno Alves?

M A: Sim, Messi e o Magnata.

GOLS DE MAGNO ALVES POR TIME (437 gols)

PERÍODO

TIME

GOLS

1995-1996

Valinhos-SP

16

1996-1997 

Independente-SP

11

1997

Araçatuba-SP

8

1997

Criciúma

8

1998-2002

Fluminense

114

2003

Jeonbuk-COR

27

2004-2005

Oita Trinita-JAP

29

2006-2007

Gamba Osaka-JAP

36

2007-2008

Al Ittihad-ARA

14

2008-2010

Umm Salal-CAT

47

2010

Ceará

9

2011

Atlético-MG

18

2012

Umm Salal-CAT

6

2012

Sport

0

2012-2015 

Ceará

84

desde 2015 

Fluminense

10

MAGNO ALVES DE ARAÚJO

Local de nascimento: Aporá (BA)Data: 13/1/1976 – 40 anosPeso: 70 kg | Altura: 1,76 mPé preferencial: ambidestroPosição: atacanteClube atual: FluminenseGols na carreira: 4378º maior artilheiro da história do Ceará9º maior artilheiro da história do Fluminense

Em 2000, Magno Alves ganhou o Bola de Prata como artilheiro do Brasileirão – RICARDO CORREA

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