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Kaká: era uma vez um ídolo adolescente

Sócio do São Paulo, ele foi lançado nos profissionais com 19 anos. PLACAR estava lá, acompanhando o passo a passo da promessa que virou craque

(Reportagem publicada na seção Primeiros Passos da PLACAR de novembro de 2020)

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Aproveitando a onda de sucesso da banda adolescente KLB (sim, existiu uma banda com esse nome e, sim, ela fazia sucesso), um trio de boleiros prometia “conquistar a torcida inteira”. Em primeiro plano, o já consagrado Leonardo (tinha estado nas Copas de 1994, como lateral-esquerdo do São Paulo, e de 1998, como meia do Milan), o L da nova trinca. Logo atrás, duas jovens promessas: Júlio Baptista (o B) e Kaká (o K), ambos integrantes da seleção brasileira que disputara o Mundial Sub-20 na Argentina, no mês anterior. Mais do que a esperança de um novo ciclo de bom futebol para o torcedor tricolor, a revista, de julho de 2001, ficou nos arquivos como a primeira em que Ricardo Izecson dos Santos Leite, o tal Kaká, apareceu na capa de PLACAR.

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No texto, assinado por Arnaldo Ribeiro, eles eram apresentados como “os favoritos das adolescentes são-paulinas” e o time, que havia acabado de chegar à final da Copa dos Campeões, se preparava com afinco para o Campeonato Brasileiro (terminou a primeira fase em sétimo lugar e caiu nas quartas de final para o então Atlético Paranaense, que seria o campeão) e a Mercosul (não passou da fase de grupos). “O meio-campo, o coração do time, deve mudar, e muito, para melhor”, cravou a revista.

Na época, o elenco contava com nove meio-campistas: além dos três já citados, Carlos Miguel, Fabiano, Fabio Simplício, Harison, Reinaldo e Souza. “A concorrência é sempre uma boa. Você nunca se acomoda dessa forma”, dizia Kaká, que já era assediado para sair do clube. “O São Paulo não quer vendê-lo agora. O Kaká também não quer sair. O objetivo dele é se firmar como titular e buscar um espaço na seleção principal”, explicava seu empresário, Wagner Ribeiro. Criado no Morumbi, o jovem meia tinha apenas 12 anos em 1994, quando Leonardo deixou o tricolor para atuar na França, e já jogava futebol de salão e futebol de campo no departamento social do clube.

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Checando e-mails (sua conta era kk_08@hotmail.com) 
Checando e-mails (sua conta era [email protected]) Ricardo Correa/Placar

No fim de agosto, Kaká estava novamente na capa de PLACAR. Dessa vez, sozinho pela primeira vez. A pergunta era direta: “Sai daqui um Raí?”. Menos de dois meses haviam se passado e ele já era destaque e artilheiro do tricolor. Vale lembrar que, no início do ano, Kaká havia feito dois gols na final do Torneio Rio-São Paulo e, mais uma vez, a revista apostou alto na “promessa”. “A posição em campo é a mesma; a vocação para fazer gols, também; o carisma junto aos torcedores, parecido; a pinta de bom moço, idem; o assédio dos (ou das) fãs se assemelha…” Logo em seguida, havia uma tentativa de se dissociar das comparações. “Como Caio, hoje no Fluminense, ele mo ra no Morumbi (bairro nobre de São Paulo), completou o colegial e entrou no São Paulo como sócio do clube. Como Marcelinho Carioca, é evangélico. Como Romário, é míope e usa óculos.”

Nas fotos, aparecia jogando tênis com o irmão Rodrigo, quatro anos mais novo. “PLACAR levou Kaká à academia Play Tennis, bem próximo à casa do jogador, para praticar. Chegando lá, foi reconhecido e pôde escolher até o piso. Grama sintética, concreto ou saibro? ‘Grama, né? É com o que estou acostumado’.” Na época, o jovem craque era também o que mais recebia carta  no clube: de dez a quinze por semana, com “todo tipo” de comentários e pedidos. O menino de 19 anos estava ganhando corpo (tinha passado de 72 para 76 quilos), o que o ajudava a se impor em campo. Nas palavras do técnico Nelsinho Baptista, “o Kaká tem qualidade, não é só um momento que ele está passando”.

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Ainda era novembro, 2001 nem havia terminado e já estava Kaká novamente em destaque na revista. O “xodó” do tricolor tinha feito dez promessas um ano antes, e sete haviam sido cumpridas:

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  1. Voltar a jogar futebol (ele sofrera um acidente num parque aquático que resultou numa fratura de uma vértebra da coluna cervical).
  2. Subir para os profissionais.
  3. Figurar entre os 25 que fazem parte do elenco.
  4. Brigar por uma vaga entre os dezoito que sempre se concentram

para os jogos.

  1. Ganhar uma vaga de titular.
  2. Jogar o Mundial Sub-20.
  3. Manter-se como titular do São

Paulo.

Ainda faltavam três sonhos, mas eles não dependiam só dele mesmo: ser convocado para a seleção principal, jogar na seleção principal e transferir-se para Itália ou Espanha. Carlos Alberto Parreira estava cotado para ser o coordenador técnico na Copa de 2002, disputada na Coreia do Sul e no Japão, e disse o seguinte a PLACAR naquela edição de novembro de 2001: “Kaká não pode ficar fora do Mundial porque é a maior revelação do futebol brasileiro dos últimos tempos”. O meia são-paulino foi de fato convocado, entrou em campo por alguns minutos, no jogo contra a Costa Rica (o último da fase de grupos), e se tornou um dos pentacampeões.

Pela seleção, Kaká disputou o Mundial Sub-20 na Argentina, em 2001: as boas atuações não evitaram a derrota para Gana, nas quartas de final
Pela seleção, Kaká disputou o Mundial Sub-20 na Argentina, em 2001: as boas atuações não evitaram a derrota para Gana, nas quartas de final Ricardo Correa/Placar

Em maio de 2003, um novo dilema se instalou: por um lado, ele já estava consagrado no São Paulo, por outro, enfrentava o assédio da mídia e das fãs, a cobrança excessiva da torcida, contusões e o ciúme dos colegas (inclusive do “muito dinheiro” que ganhava todo mês). Foi nessa edição que Kaká, então com 21 anos, surgiu ao lado da jovem Caroline Lyra (a revista não publicou o outro sobrenome, Celico), de 15 anos, como “sua primeira namorada oficial”. O resto é história.

Ainda em 2003, transferiu-se para o Milan. Seis anos depois, seguiu para o Real Madrid. Ficou mais quatro temporadas e voltou ao Milan, antes de fechar contrato com o Orlando City, de 2014 a 2017. Ainda jogou, por empréstimo, no bom e velho São Paulo de sempre, no segundo semestre de 2014. Teve dois filhos com Carol Celico, Luca e Isabella, antes da separação, em 2015. Pela seleção principal, fez 91 partidas e anotou 31 gols, entre 2002 e 2016 (esteve também nas Copas de 2006 e 2010). Disputou 86 jogos pela Uefa Champions League (é o sétimo brasileiro nesse ranking) e marcou trinta gols (é o segundo, atrás apenas de Neymar).

Em 2007, no auge da carreira, ganhou os prêmios de melhor jogador do mundo pela Fifa e o Ballon d’Or, entregue pela revista francesa France Football, que mais tarde seriam unificados. De lá para cá, em doze anos, apenas três jogadores levaram o troféu (que hoje se chama The Best) para casa: Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Luka Modric.

Capa da edição de novembro da Revista Placar -
Capa da edição de novembro da Revista Placar – Divulgação/Placar
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