Investigação revela manipulação de resultados na elite do tênis
Apostadores italianos e russos são acusados de pagar mais de R$ 200.000 para acertar resultados. Dezesseis tenistas Top 50 estariam envolvidos no escândalo
Torneios e partidas de elite no tênis, incluindo competições de Grand Slam, como Wimbledon e o Aberto da Austrália, podem ter sido manipulados para garantir a apostadores milhões de dólares em lucros. Uma investigação publicada nesta segunda-feira pela emissora britânica BBC e pelo site BuzzFeed News aponta que 16 tenistas entre os 50 melhores do mundo foram flagrados mais de uma vez por investigadores diante das suspeitas de que tenham entregado partidas em troca de dinheiro nos últimos dez anos.
Em 2015, mais de 50 jogos foram colocados em uma lista de suspeitas de manipulação. Segundo a investigação, pagamentos de mais de 50.000 dólares (cerca de 200.000 reais) foram oferecidos aos jogadores em seus quartos de hotéis. No centro da investigação estariam grupos de apostadores na Rússia e na Itália. Pelo menos três partidas ocorreram em Wimbledon.
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A imprensa inglesa não revelou os nomes dos envolvidos, mas aponta que, entre os 16 suspeitos, estão inclusive vencedores do Grand Slam. Apesar disso, eles foram autorizados a continuar competindo. Os documentos, segundo a BBC, teriam sido obtidos a partir de investigações internas da ATP – fato negado pela entidade.
“Rejeitamos qualquer sugestão de que evidências de manipulação de resultados tenham sido abafadas por qualquer razão”, disse o presidente da ATP, Chris Kermode, que apontou que 14 milhões de dólares (cerca de 56 milhões de reais) foram investidos pela entidade para combater a corrupção. “Nossa posição é de tolerância zero com qualquer forma de corrupção. Não somos indulgentes, estamos vigilantes”, completou.
Em 2008, uma investigação interna sugeriu que 28 jogadores envolvidos nessas apostas deveriam ter sido alvo de um inquérito, mas nada foi feito. Dois jogadores chegaram a ser investigados – Nikolay Davydenko e Martin Vassallo Arguello – mas foram inocentados. Agora, os documentos apontam para mais de 80 mensagens trocadas entre o argentino Arguello e grupos de apostadores na Sicília, recolocando os dois jogadores no centro da controvérsia.
As revelações foram divulgadas poucas horas antes do início do Aberto da Austrália, primeiro torneio de Grand Slam da temporada. De acordo com a imprensa britânica, oito tenistas incriminados, mas que não receberam punição da ATP, estão no torneio disputado em Melbourne.
Segundo um dos investigadores, Mark Phillips, um grupo de quase 10 jogadores “estava na origem do problema”. “As evidências eram fortes, existia uma boa oportunidade para acabar com a corrupção na raiz, de criar uma forte dissuasão e eliminar os elementos corruptores”, disse.
Respostas – As duas maiores estrelas do tênis mundial fizeram questão de se distanciar das revelações. “Só posso falar por mim. Se essas coisas acontecem, eu não sei”, afirmou a americana Serena Williams, número 1 do ranking da WTA. Novak Djokovic também negou qualquer envolvimento no escândalo, mas admitiu que, em 2007, soube que apostadores lhe ofereceriam 200.000 dólares (800.000 reais pela cotação atual) para perder uma partida.
“Não se aproximaram de mim diretamente. Eu fui contatado por pessoas que trabalhavam comigo na época. É claro que recusamos. Aquilo nem chegou a mim”, contou, em entrevista coletiva no Aberto da Austrália.
“Pessoalmente, nunca fui abordado diretamente, então não tenho mais nada a dizer a respeito. Aquilo fez eu me sentir péssimo, porque não quero estar ligado a este tipo de coisa. Há quem chame isso de oportunidade; para mim, é um ato de antidesportividade, um crime no esporte, sinceramente”, completou o sérvio, líder do ranking da ATP.
(com Estadão Conteúdo e AFP)