Grêmio promete recorrer depois da eliminação por racismo
Também nesta quarta, torcedores falaram à polícia sobre as ofensas a Aranha
O presidente do Grêmio, Fábio Koff, afirmou nesta quarta-feira que o clube gaúcho pretende recorrer da eliminação da equipe da Copa do Brasil por causa dos insultos racistas de seus torcedores contra o goleiro Aranha, do Santos, na partida de ida das oitavas de final do torneio, na última quinta-feira, em Porto Alegre. A punição foi decidida à tarde, de forma unânime, pela 3ª Comissão Disciplinar do STJD. “O Grêmio respeita a decisão, embora discorde dela tecnicamente”, disse Koff, que participou da defesa do clube no julgamento desta quarta. “Vamos recorrer. Houve um exagero na interpretação da regra. É preciso entender de maneira diferente a injúria racista da manifestação através de cantos da torcida. O Grêmio já fez o possível para identificar os autores, que foram entregues à polícia. Acho que fomos punidos duas vezes”, disse o cartola ao explicar a decisão de recorrer.
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O presidente do Grêmio disse o clube vem fazendo sua parte para tentar inibir as manifestações racistas. “Eu venho apelando aos torcedores para que ajudem o Grêmio, pois isso acaba prejudicando nossa posição nos tribunais”, disse Koff. Um de seus vice-presidentes, porém, atrapalhou a posição do clube no caso ao afirmar, no Twitter, que Aranha não foi alvo de ofensas racistas – apesar de imagens de TV mostrarem claramente isso – e que o goleiro fez uma encenação. Ao recorrer da condenação decidida nesta quarta, o Grêmio irá a um novo julgamento, agora no Pleno do STJD, quando será dada a sentença definitiva do caso. Com a decisão mantida, o Santos avança automaticamente às quartas de final, onde enfrentará o vencedor do confronto entre Ceará e Botafogo. A partida de volta, que já estava cancelada por causa do julgamento, ocorreria nesta quarta, na Vila Belmiro.
Polícia – Também nesta quarta, três torcedores do Grêmio ouvidos pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul prestaram depoimento e negaram participação nas ofensas racistas contra o goleiro Aranha,. Todos estavam no setor em que fica a torcida organizada Geral do Grêmio, de onde saíram os gritos ofensivos e as imitações dos ruídos de macaco nos minutos finais da vitória santista por 2 a 0. A 4ª Delegacia de Polícia investiga o caso. Um dos torcedores ouvidos nesta quarta, Rodrigo Rysdyk, conhecido como “Alemão da Geral”, apontado como líder da organizada, confirmou que estava no estádio no dia do incidente, admitiu conhecer “de vista” alguns frequentadores do setor e garantiu que não viu manifestações racistas. Ao deixar a delegacia, ele não quis conversar com os jornalistas, limitando-se a dizer que havia informado tudo o que sabia sobre o caso à polícia.
Outro torcedor, Eder Braga, que é negro, admitiu ter gritado bastante para pressionar Aranha a acelerar o jogo – o goleiro foi acusado pelos gremistas de fazer cera para garantir a vitória do Santos -, mas assegurou não ter cometido injúrias raciais contra o jogador da equipe adversária. Fernando Ascal, gremista também ouvido na tarde desta quarta, negou ter presenciado atos racistas. Ouvidos no dia anterior pela polícia, os torcedores Tiago de Oliveira e Rodrigo Rychter também negaram ter ofendido o goleiro do Santos. Nesta quinta-feira será a vez da torcedora Patrícia Moreira, flagrada pelas câmeras de uma emissora de televisão gritando a palavra “macaco”, dar suas explicações. Desde que sua imagem foi mostrada na TV, ela foi alvo de xingamentos e ameaças pela internet, teve sua casa apedrejada e acabou se refugiando nas residências de parentes e amigos, sem dar entrevistas.
(Com agência Gazeta Press e Estadão Conteúdo)