Exportação de modismos
Nem só de biquínis vive a exportação carioca de modismos. Nos esportes, banhistas de sunga ou biquíni e mais nada também criaram invenções que se espalharam pelo mundo. Patrimônio imaterial do Rio desde 2015, o frescobol, tal qual foi criado em 1945, entre os postos 2 e 3 da Praia de Copacabana, é um retrato da informalidade local: joga-se uma bolinha para lá e para cá, de raquete na mão, e ninguém ganha nem perde. Praticante nos anos 1960, o escritor Millôr Fernandes, autor de motes memoráveis, parafraseou à sua maneira o lema das Olimpíadas, cunhado pelo barão de Coubertin, para definir o espírito do frescobol: “Importante é nem competir”.
Outro exercício carioca que correu o mundo foi o futevôlei, hoje praticado até nas areias da Tailândia. O jogo nasceu em 1965, herdeiro de outro hobby em que ninguém ganha de ninguém, a “altinha” — uma alternância de embaixadinhas informal à beira da água. Por força dos protestos dos banhistas incomodados (com razão, diga-se), frescobol e altinha foram banidos para a faixa de areia próxima à calçada, onde ganharam quadras, regras e até escolinhas. O futevôlei é jogado em duplas em um espaço de 18 por 9 metros, cortado ao meio por uma rede. As partidas duram de trinta minutos a uma hora e o jogador usa os pés para o “saque” — no resto do tempo, apara a bola com braços, tórax, pernas e cabeça. O saque deve ser executado por meio do toque com os pés e tem de atravessar a rede por cima, chegando à área da quadra adversária. No caso do frescobol, a adaptação, batizada de beach tennis, é praticada também em duplas, em quadra, com raquete e bola próprias. Sim, contam-se pontos nos dois casos e um lado sai vencedor. Millôr não ia gostar nada, nadinha mesmo, dessa coisa de vitória.
Publicado em VEJA de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672
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