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“Foi muito mágico”, diz primeira brasileira no topo do K2

Aos 37 anos, a médica de resgate paulistana Karina Oliani fala sobre a conquista da montanha mais perigosa do planeta, no Paquistão

Por que se pôr em risco subindo uma montanha? A experiência é transformadora. Ao sair da montanha, eu me sinto resiliente. Passa-se a dar maior valor às pequenas coisas. O montanhista se torna um indivíduo paciente e contemplativo. No caso do K2, foi muito mágico.

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O que sentiu ao se ver no topo da montanha mais perigosa do mundo?  Pensei: “Fiz isso”. É algo que transforma a perspectiva do que se pode realizar na vida. À primeira vista, o monte K2 é intimidante, parece completamente impossível subi-lo. Depois de dois meses nessa tarefa, chegando ao cume, olhei para baixo e concluí: “Se consigo isso, qualquer coisa é possível”.

Teve vontade de desistir no caminho? Quase cedemos, eu e meu grupo, a 500 metros do destino. Éramos 120 montanhistas quando presenciamos uma avalanche perigosa. Voltamos, descendo, até a base, após cinco dias de subida. No fim, só quinze montanhistas tentaram novamente. Atingimos o topo em 25 de julho, às 4h40.

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Descer é mais fácil? Não. É na descida que acontecem 80% das fatalidades desse esporte. Ao descer é preciso redobrar os cuidados. Quando o Sol nasce, o gelo se derrete e rola. As coisas se complicam. Tínhamos escalado a noite inteira. Estávamos cansados. Ficamos vinte minutos no pico, e na descida o Sol já estava derretendo a neve.

Antes do K2, a senhora já havia sido a primeira sul-americana a escalar o Monte Everest, a montanha mais alta do planeta, por suas duas faces. Foi maravilhoso chegar lá em cima com todos os meus dedos. É uma aventura que, para muitos, não dá tão certo. Um desafio em que se vence a si mesmo — não a montanha ou os colegas.

Como se preparar para tal façanha? O único jeito é escalando outras montanhas. Há também o exercício físico, com treinos funcionais. Só que, muito mais que isso, o fundamental é conhecer o próprio corpo e suas capacidades.

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Já sofreu preconceito nessa profissão por ser mulher? Não há muita diferença entre os gêneros no montanhismo, por se tratar de uma atividade que depende menos de força e mais do estado psicológico. Mesmo assim, fui alvo de preconceito várias vezes. Numa delas, estava com uma amiga, da minha idade, no acampamento-base do Aconcágua (na Argentina). Percebemos um murmurinho. Descobrimos que os montanhistas estavam apostando sobre onde desistiríamos. Naquela temporada, chegamos ao cume antes de todos eles.

Publicado em VEJA de 28 de agosto de 2019, edição nº 2649

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