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Finanças, saúde e racismo: PLACAR de junho debate o futebol pós-pandemia

Edição do mês destaca década perdida do São Paulo, o drama do Cruzeiro e elabora um índice de saúde financeira dos clubes. Seu time corre risco de quebrar?


A edição do mês de junho da Revista Placar Divulgação/Placar

Como será o futebol depois do coronavírus? A bola já voltou a rolar em alguns países e de maneira precipitada no Rio de Janeiro, ainda que os números da pandemia por aqui sugerissem maior cautela. A edição de junho de PLACAR, nas bancas a partir desta sexta 19 (já disponível para dispositivos iOS e também Android), mira adiante, destrinchando a crise econômica que já afeta os clubes brasileiros, em especial Cruzeiro e São Paulo.

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As sempre conturbadas contas do futebol nacional ganham destaque em dez páginas. O jornalista Arnaldo Ribeiro rememora a “década perdida” do São Paulo Futebol Clube, cuja situação caótica na política e nas finanças é acompanhada de um longo jejum de títulos. De Belo Horizonte, Guilherme Piu elenca as “raposas” que levaram o clube celeste da cidade para o buraco e investiga a questão: o Cruzeiro vai falir? Ainda em seu pacote econômico, PLACAR se uniu ao Itaú BBA, por intermédio do economista Cesar Grafietti, e criou um índice inédito que mede a qualidade da gestão de 24 grandes clubes do país.

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A última edição também discute os protocolos que proporcionaram a retomada do Campeonato Alemão, e que devem der replicados nos Estaduais do Brasil, a retomada dos objetivos de Neymar, e traz um ensaio fotográfico exclusivo de dentro do hospital de campanha do Pacaembu. No velho templo do futebol paulista, médicos, enfermeiros e outros funcionários contam como é fazer parte do time que se dedica a vencer a luta contra o coronavírus e relembram as alegrias que já viveram no estádio, antes e durante a pandemia.

As manifestações pró-democracia e contra o racismo ao redor do mundo não ficaram de fora. O entrevistado do mês é o atacante Richarlison, do Everton e da seleção brasileira, que relembra sua infância difícil em Nova Venécia (ES) e diz que o que ocorreu com George Floyd e com o menino João Pedro, ambos mortos em ações da polícia, em Minneapolis, nos EUA, e no Rio de Janeiro, respectivamente, poderia ter acontecido com ele. “As pessoas que estão nas ruas estão no direito delas de protestar e pedir justiça. Se estivesse lá, faria o mesmo”, disse o atacante. As questões raciais também são debatidos pelo nosso colunista PC Caju.

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Na seção Prorrogação, são relembrados fatos históricos, como a tragédia que vitimou a equipe do Torino no fim da década de 40 e o título brasileiro do Botafogo em 1995, além de páginas originais de PLACAR (com destaque para o nascimento do “fenômeno” Ronaldo, ainda no Cruzeiro), dicas culturais e imagens deliciosas.

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Leia abaixo a íntegra da Carta ao Leitor publicada na edição de junho de PLACAR:

‘EU TENHO UM SONHO’

Poucas vezes, na história do esporte, houve mistura tão evidente dos profissionais dos campos, das quadras e das pistas com o cotidiano político e social. Em maio, depois do assassinato de um negro, George Floyd, por um policial branco, em Minneapolis, nos Estados Unidos, uma onda de protestos se espalhou pelo mundo — e chegou ao futebol, nas comemorações dos gols feitos em partidas sem público, em decorrência da pandemia, e nas sessões de treinamentos realizadas com o devido distanciamento social. Repetiu-se, em forma de contágio, o gesto de ajoelhar-se, como fez o jogador de futebol americano Colin Kaepernick em 2016, durante a execução do hino americano, ao revelar desconforto com a violência racista desdenhada por Donald Trump. “Não consigo respirar”, a última frase de Floyd, asfixiado pelo joelho do guarda, ecoou o “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King, como anotou Roberto Pompeu de Toledo em VEJA (em sua coluna de 10 de junho).

No Brasil, onde os casos de Covid-19 batem tristes recordes e o o presidente Jair Bolsonaro ainda trata o surto como mera “gripezinha”, irresponsavelmente, coube a parte das torcidas organizadas dos times de futebol sair às ruas, de máscaras, pedindo manutenção da democracia e respeito à saúde pública. Não que todas as agremiações de torcedores sejam bons exemplos de civilidade — e, como em tudo na sociedade, há sensatos e insensatos —, mas as passeatas ecoaram, de algum modo, movimentos como o da Democracia Corinthiana, deflagrada na véspera da campanha das “Diretas já”, no início dos anos 1980.

É bom que o esporte dê as mãos para a política, e esse é um dos legados do terrível momento a que a humanidade foi submetida, com a disseminação do novo coronavírus. É um avanço, evidente constatação de que o futebol, por exemplo, não pode ser apenas o “ópio do povo”, para lembrar uma máxima um tanto batida. Não há no Brasil, hoje, sinal mais nítido da aproximação entre os dois mundos do que a transformação do lendário Estádio do Pacaembu, agora controlado pela iniciativa privada, em hospital de campanha. É a triste e urgente lembrança de que, mesmo com a imensa vontade de retomada dos jogos (que saudade!) e as pressões financeiras, o que vem em primeiro lugar é a saúde. O repórter Luiz Felipe Castro e o repórter fotográfico Egberto Nogueira permaneceram cinco horas nas instalações do velho templo da bola para registrar o cotidiano dos heróis de jaleco, que momentaneamente substituem os gigantes de chuteiras. Diz Castro: “O ambiente é menos carregado do que eu imaginava, provavelmente por não ter pacientes em estado grave, por haver alta para muitos curados. E ainda se respira o ar do futebol, os rituais de outro tempo, com gente de branco circulando pelos vestiários, passando pelos túneis que dão acesso ao gramado”. Esta edição especial de PLACAR pretende manter a vigília pela responsabilidade, sem pressa para reiniciar o que ainda não pode ser reiniciado, mas com o otimismo dos pacientes que, ao deixarem o Pacaembu pelo portão principal, são recebidos pelos familiares com festa e flores — como se tivessem marcado um gol de Pelé. É o caso de repetir Luther King: “Eu tenho um sonho”.

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