Fifa teme que erros do Brasil prejudiquem próximas Copas
Prazos ignorados, obras incompletas e acordos rompidos abriram precedentes perigosos, acredita Valcke, que espera que Rússia e Catar não sigam o exemplo
Para Valcke, a entidade perdeu moral para cobrar, por exemplo, que os estádios fiquem prontos seis meses antes dos jogos, conforme havia sido combinado
Depois do Brasil-2014, a Copa do Mundo pode nunca mais ser a mesma – e a Fifa não esconde mais sua preocupação com isso. Na avaliação da entidade, os maus hábitos dos organizadores da edição deste ano podem ter um impacto direto nos próximos Mundiais, já que as futuras sedes podem repetir os mesmos problemas dos brasileiros sabendo que a Fifa não tomará medidas drásticas, como levar o torneio para outro país ou excluir as cidades com estádios mais atrasados. O receio dos dirigentes estrangeiros já era sentido nos últimos meses, durante os eventos prévios da Copa, como o sorteio dos grupos, no fim do ano passado, na Bahia, e o seminário das seleções, neste ano, em Florianópolis. Nesta semana, porém, o temor sobre a repetição do jeitinho brasileiro nos próximos torneios (as sedes já definidas são Rússia-2018 e Catar-2022) foi abordado de forma mais direta e pública. Antes, só o presidente da Fifa, Joseph Blatter, tinha insinuado essa preocupação, ao falar que “talvez tenha sido um erro” conceder ao Brasil a chance de receber o evento.
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“Foi uma lição para nós”, disse o secretário-geral Jérôme Valcke na quinta-feira, depois de mais uma rodada de reuniões com os brasileiros, no Rio de Janeiro, ao comentar os problemas enfrentados na relação com o país-sede. O desprezo aos prazos acordados, o descumprimento das promessas referentes às obras e o rompimento de contratos – como no caso das estruturas temporárias dos estádios, o assunto espinhoso da vez – são as principais queixas da entidade. “Definitivamente será preciso agir de outra forma a partir da Rússia”, completou o cartola francês, que reconheceu que a Fifa abriu um precedente perigoso para ela própria ao ceder em repetidas situações de atrito com os brasileiros. Para Valcke, a entidade perdeu moral para cobrar, por exemplo, que os estádios fiquem prontos seis meses antes dos jogos, conforme havia sido combinado – afinal, se no Brasil isso não provocou a exclusão das arenas (duas serão entregues a menos de dois meses do torneio), não haveria motivo para um país-sede concluir as obras com tanta antecedência.
O francês garante, entretanto, que esses prazos tão rigorosos não são um mero capricho dos cartolas em Zurique, e sim a condição ideal para que tudo seja concluído e testado a tempo, assegurando que o famoso “padrão Fifa” seja mantido nas arenas. Valcke chegou ao país na segunda e pretendia ir embora com as pendências sobre as estruturas provisórias totalmente resolvidas. Não conseguiu. Na entrevista coletiva concedida antes de voltar à Suíça, Valcke foi questionado por um jornalista estrangeiro sobre o assunto. O correspondente estava perplexo com o fato de os donos dos estádios terem simplesmente recuado do que foi combinado – caberia a eles pagar a conta pelas estruturas, mas tanto Corinthians como Internacional tentaram fugir da despesa milionária. “Sim, o acordo foi fechado há muito tempo, tudo está escrito e assinado, não deveria haver surpresas. Bom, aqui foi assim. É algo que devemos trabalhar para 2018”, disse o francês, que não detalhou o que pretende fazer para evitar que os russos repitam o que fizeram os brasileiros.