Quadros de Pedro Nuin retratam jogadas marcantes e fazem sucesso entre torcedores e atletas. A VEJA, ele exibe seu processo de criação
Para o bem ou para o mal, há momentos do futebol que ficam guardados para sempre na memória dos torcedores. Quando a lembrança é agradável, seja um gol, um drible ou uma defesa milagrosa de seu goleiro, é fácil recorrer a fotos ou a vídeos da jogada para reviver aquela alegria. O artista Pedro Nuin propõe uma nova experiência: observar o lance de um ângulo inédito, cheio de cor e riqueza de detalhes. O hobby por desenho virou profissão e, desde março deste ano, o paulistano de 31 anos largou a carreira de jornalista para se dedicar exclusivamente ao Eterno Futebol, o site onde vende suas ilustrações.
“Tento fazer a pessoa bater o olho e se lembrar da experiência que aquele lance proporcionou. Para isso, capricho em elementos essenciais como o uniforme, o posicionamento do corpo, a arquitetura do estádio… cada detalhe conta”, afirmou Pedro. “Gosto de história em quadrinhos, dos traços nas poses de ação, e imaginei os jogadores nessa posição de herói, como se houvesse uma câmera dentro do campo. Pensei em fazer isso principalmente em lances antigos, que têm poucos registros.”
O empreendimento de Nuin começou quase por acaso. Ao mudar de casa em 2015, sofreu para encontrar quadros a seu gosto para decorar a sala. – “Só encontrava Romero Britto e fotos de Nova York em preto e branco” –, e decidiu recorrer à sua paixão por desenho e futebol. Seu primeiro desenho foi o gol do título do Corinthians no Campeonato Paulista de 1977, marcado por Basílio. Depois de familiares e amigos descobrirem o trabalho, as encomendas para outros lances começaram a chegar e o artista decidiu investir em seu dom.
Pedro faz seus desenhos no programa Adobe Illustrator e cria tudo no mouse. Para cada ilustração, são cerca de três dias de trabalho e mais outros dois para produzir textos e editar vídeos dos lances. Um QR Code estampado na moldura dos quadros oferece aos clientes estas informações adicionais. Até hoje o desenhista já reproduziu nos traços mais de 30 lances diferentes. Curiosamente, os campeões de venda não são gols, mas defesa de goleiros: a do corintiano Cássio em chute do vascaíno Diego Souza, na a Copa Libertadores de 2012, e a do são-paulino Rogério Ceni em cobrança de falta de Steven Gerrard, do Liverpool, no Mundial de Clubes de 2005. Tanto o ídolo corintiano quanto o tricolor já receberam as obras de Pedro de presente.
Pedro é torcedor do Corinthians, mas já realizou trabalhos até para o Palmeiras e recriou diversos lances “traumáticos”. Segundo ele, o trabalho tem uma função “terapêutica”. “Comecei fazendo Corinthians e seleção brasileira. E quando pensei em fazer algo mais comercial, decidi expandir para São Paulo, Santos e Palmeiras. É engraçado que fiz de todos os rivais celebrando contra o Corinthians – a pedalada do Robinho, o 100% gol do Rogério Ceni e o pênalti de Marcelinho defendido por Marcos – que eram lances que me incomodavam, mas retratá-los limpou o trauma, foi quase uma terapia.”
O sucesso do empreendimento fez com que Nuim extrapolasse as fronteiras. Já criou obras para vascaínos (gol de Juninho contra o River Plate na Libertadores de 1998), tricolores cariocas (gol de barriga de Renato Gaúcho na decisão do Carioca de 1995), cruzeirenses (gol de letra de Alex na Copa do Brasil de 2003), atleticanos (defesa de Victor contra o Tijuana na Libertadores de 2013), colorados (festa de Adriano Gabiru na final do Mundial contra o Barcelona) e gremistas (a defesa de Marcelo Grohe contra o Barcelona, do Equador, na semifinal da Libertadores de 2017) .
Uma de suas últimas criações, que já se aproxima das campeãs de vendas, retrata o gol de Gabigol, que deu o título da Libertadores ao Flamengo diante do River Plate.
A pedido de VEJA, Pedro Nuim recriou um dos gols mais célebres de todos os tempos, o de Carlos Alberto Torres na final da Copa de 1970 diante da Itália, da perspectiva de Pelé, o autor da assistência. Confira, abaixo, o processo de produção do quadro.