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Edina Alves: ‘Não sou coitadinha, quero ser tratada como qualquer árbitro’

Primeira mulher a apitar um jogo do Campeonato Brasileiro em 14 anos, a paranaense falou sobre como é ser uma árbitra no futebol masculino

O inverno foi longo. Foram catorze anos de espera para que uma mulher voltasse a apitar uma partida do Campeonato Brasileiro. Edina Alves Batista, 39 anos, foi a árbitra central na vitória por 1 a 0 do CSA sobre o Goiás, na noite da última segunda-feira, 27, em jogo válido pela sexta rodada. Na equipe do árbitro de vídeo, estava Silvia Regina de Oliveira, a última a atuar pela primeira divisão em um Fortaleza 1 x 2 Paysandu, em 2005. Mulheres desbravadoras em um universo predominantemente masculino que conquistaram um espaço antes impensado no esporte.

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“Não quero ser tratada como a Edina mulher, não quero ser coitadinha, quero ser tratada como qualquer árbitro”, desabafou por telefone, de dentro de um avião com destino à França. Poucas horas depois da partida no estádio Rei Pelé, em Maceió, a juíza e suas duas assistentes, Neuza Back e Tatiane Camargo, já estavam no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O trio vai representar o Brasil na Copa do Mundo de futebol feminino, que começa no próximo dia 7. Nesta entrevista, Edina falou sobre sua atuação no jogo, a relação com os jogadores homens em campo e as dificuldades da vida de árbitra.

Antes da partida histórica, Edina recebeu conselhos de Silvia Regina e realizou uma arbitragem tranquila. “Admiro muito a Silvia. Uma mulher que está na história e temos de respeitá-la. Ela me orientou e me ajudou em tudo o que precisei. Falou da época dela, como as coisas funcionavam, como é estar nesse momento vivendo tudo isso.”

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Edina, Neuza Back e Tatiane Camargo Kin Saito/CBF

Edina distribuiu quatro cartões amarelos e anulou um gol do CSA por impedimento – corretamente. A auxiliar Neuza marcou a infração e a árbitra não precisou nem recorrer ao tão criticado VAR. “O mérito é todo da Neuza. A partir do momento em que ela apontou o impedimento, não tive mais dúvida nenhuma, porque ela é a melhor assistente do mundo.”

O carinho pela colega não é gratuito. Neuza foi uma das responsáveis por Edina ter se tornado árbitra. De 2001 a 2014, atuou como bandeira e chegou a atuar em partidas de primeira divisão. Porém, a vontade era apitar. Em uma conversa com a amiga e o então presidente da comissão de arbitragem, Sérgio Corrêa, durante um curso da CBF, Edina desabafou sobre seu sonho. “Ele me deixou seguir meu coração.” 

A partir daí, o caminho foi árduo. Edina teve de começar do zero. Como no início da carreira como auxiliar, passou a atuar em partidas sub-13 e sub-15, e em jogos da última divisão do Campeonato Paranaense, seu estado de origem. “Aceitei o desafio. Amo apitar.” O esforço deu resultado. Em 2017, entrou no processo de seleção para apitar a Copa do Mundo de futebol feminino ao lado das duas assistentes, e o trio foi selecionado. Para melhorar o desempenho da equipe, Edina deixou o Paraná e Neuza saiu de Santa Catarina para se juntarem a Tatiane em São Paulo.

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Edina vive hoje na capital paulista apenas com o que recebe por partida apitada. “Não temos um salário. Damos o máximo, economizamos para arcar com despesas de alimentação, fisioterapia. É preciso estar bem para os jogos. Somos tratadas como atletas. Queremos representar bem nosso país e fazer grandes jogos.”

O sonho é apitar por mais quatro anos e voltar a representar o Brasil na Copa do Mundo de futebol feminino de 2023. E ela pode realizar o sonho em casa, pois o Brasil entrou na disputa para sediar a competição. Para conseguir, espera atuar mais vezes no Brasileirão. “Nada é impossível, a partir do momento que você se dedica e se doa. Tudo depende de nós.”

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