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Dos pés à cabeça

Não somos nós que falamos de Maracanazo? Que qualificamos qualquer resultado que não seja o título como ‘fiasco’?

Pois eu acho que o problema do Brasil é apenas técnico. Olhe o currículo de cada um e a tese da imaturidade vira piada. O time não está jogando o que pode por dois defeitos pontuais

Muitos críticos defendem que a seleção brasileira está com problema de cabeça. Por isso – e não por outro motivo banal como o adversário bom de bola, por exemplo, que montou o que é considerado seu melhor time de todos os tempos -, complicamos ao limite da eliminação a partida de oitavas de final contra o Chile, anteontem, no Mineirão.

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Nossos jogadores, imaturos, estariam pilhados demais, abrindo o bico diante da pressão gigantesca para vencer a Copa do Mundo que o país organiza depois de 64 anos. Um time que chora quando entra em campo, chora no hino, chora na cobrança de pênaltis, chora na comemoração da vitória, chora na entrevista depois do jogo. Um grupo, enfim, que teria vontade de mais e equilíbrio de menos.

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Pois eu acho que o problema do Brasil é apenas técnico. Olhe o currículo de cada um e a tese da imaturidade vira piada. O time não está jogando o que pode por dois defeitos pontuais: falta de criação no meio de campo e ineficiência no comando do ataque. Em relação à equipe que ganhou a Copa das Confederações, a queda de rendimento de Paulinho foi crucial para a piora. Fernandinho entrou em seu lugar, mas não entregou, contra os chilenos, o que prometeu depois do ótimo segundo tempo que fez diante de Camarões.

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Oscar, muito dedicado à marcação, vem deixando a desejar na criação. O resultado é a redução das opções de jogo. Sobram a tal ligação direta, o chutão de David Luiz para Fred e Hulk, e os lances individuais de Neymar. Ramires não é alternativa para melhorar a criação. Hernanes é. Ambidestro, tem um drible raro que é a pedalada com a bola parada, e sai para qualquer um dos lados porque arremata com a perna que quiser. É um desmonta-retrancas. Tem passe, sabe lançar e chuta muito bem. Mas parece que Felipão o considera a última opção. O pecado de Hernanes é ser diferente demais.

Fred é o outro ponto fraco. Ele mal está pegando na bola. Nas raras vezes em que ela chega, ele não consegue dominar nem ajeitar para quem vem de trás. O reserva Pinilla fez pelo Chile, no fim do jogo, o que Fred deveria ter feito pelo Brasil – pivô e arremates. Como Jô mostrou que não é opção, Felipão deve insistir com seu titular. Uma variação seria jogar sem centroavante. Há opções para isso. Mas aí caímos no perfil do técnico brasileiro. Felipão tem convicções bem rígidas sobre futebol. De volante de marcação e centroavante, não abre mão. Foram essas ideias que o fizeram vencedor, a elas é fiel.

A ausência de Luiz Gustavo será sentida contra a Colômbia. Além de ele estar muito bem, não há no elenco outro primeiro volante. Fernandinho e Paulinho são “segundos volantes”, saem mais para o jogo. Ramires é um coringa. Escolher dois entre esses três para compor o meio com Oscar mudará a pegada no setor-chave do campo. Não me surpreenderei se Henrique começar o jogo como titular. Assim, Felipão manteria o esquema em que acredita.

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Contra o Chile, o Brasil começou muito bem, e o gol não demorou a sair. Dava para pressentir uma vitória tranquila, o Chile se apequenava. Mas, por uma falha individual, um erro que nada tem a ver com as lágrimas nem com o hino a capela, muito menos com o Maracanazo, sendo apenas uma falha corriqueira no futebol, Hulk devolveu curto o lateral de Marcelo e Vargas aproveitou, cruzando para a conclusão de Sánchez. Aí o jogo mudou, o Chile cresceu e o Brasil mostrou suas falhas técnicas – não de espírito, não de maturidade.

Não deixa de ser uma crítica curiosa essa de que os garotos estão por demais emocionados. Ou não somos nós que falamos de Maracanazo em todos os jornais, telejornais, revistas? Que qualificamos qualquer resultado que não o título em uma Copa do Mundo como “fiasco”? Que elegemos culpados em todas as derrotas? Que creditamos, por exemplo, a derrota na final da Copa de 1998 à convulsão de Ronaldo, e não ao fantástico time da França, de Zidane e Henry, que jogava em casa com uma pilha semelhante à desse time atual, querendo seu primeiro título mundial (como temos dificuldade em reconhecer o mérito do outro, céus!).

Não somos nós que vivemos criticando a mercantilização do futebol, dizendo que jogador só quer saber de dinheiro? Não consigo imaginar nenhum desses jogadores da seleção beijando maços de dólares. Quem bota a pressão somos nós – imprensa, publicidade, torcida. Tudo é épico, tudo é questão de vida e morte, todos são guerreiros. Você duvida de que, se o Brasil perder para a Colômbia, chamaremos o jogo de A Tragédia do Castelão e consideraremos todos fracassados?

Aí, quando esses moleques começam a dar a vida em campo, sentindo tudo o que é possível sentir, correndo todos os riscos por isso, acertando e errando, passamos a chamá-los de desequilibrados. Ora, bolas… O time não engrenou até agora por problemas nos pés, não na cabeça.

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