Doria desmente Bolsonaro e diz que o futuro da F1 ainda está em aberto
Governador diz lamentar frustrar o presidente, mas diz que brigará pela permanência da prova da maior categoria de automobilismo do mundo em Interlagos
Ao som do Tema da Vitória, a faixa instrumental tocada a um vencedor brasileiro nas transmissões de Fórmula 1, o governador de São Paulo, João Doria, encerrou o encontro que teve com o diretor-executivo da maior categoria de automobilismo do mundo, o americano Chase Carey. Após o encontro a portas fechadas no Palácio dos Bandeirantes, Doria disse confiar na permanência da corrida no Autódromo de Interlagos, na capital paulista, após 2020, quando se encerra o atual contrato com a F1. E fez questão de desmentir o que foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro nesta segunda, que o destino da prova estava 99% fechado com o Rio de Janeiro.
“Lamento frustrar o presidente Bolsonaro, mas não há decisão tomada (sobre o futuro do GP Brasil de F-1 após 2020)”, disse o governador Doria. “Não é uma disputa política, eleitoral ou institucional. A nossa ação não significa cair em nenhuma desrespeito ou desafio ao presidente da República. Nem desmerecer o Rio. Mas é meu dever, como governador, ter a obrigação de defender o Estado de São Paulo e os brasileiros que vivem aqui, disse Doria ao rebater as falas do presidente de que o governador paulista deveria ser patriota. “Sou brasileiro, presidente, ao defender São Paulo, cumpro com a minha obrigação de governador dos brasileiros que moram aqui. Assim como Bruno Covas defende sua obrigação ao defender a cidade de São Paulo. Juntos podemos fazer melhor”, disse.
Doria diz não ter conversado com Bolsonaro antes de se reunir com os chefes da Fórmula 1, mas afirmou que sua amizade com o presidente não está abalada. “Pelo menos de minha parte”, disse o governador de São Paulo. Mesmo assim, fez questão de cutucar o chefe do Palácio do Planalto, ao comparar a forma como o governo federal e o estadual fazem a gestão de seus patrimônios. “Se há uma coisa que nós sabemos fazer é captar recursos com o setor privado, vide o Museu da Independência e o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Um está nas cinzas o outro está com 220 milhões de reais em conta”, disparou o chefe do Palácio dos Bandeirantes.
Ao mesmo tempo, Doria ironizou o bairro do Rio de Janeiro onde se baseia o projeto do novo autódromo, que poderia receber eventualmente as corridas de F-1. “Avalio que os meios de comunicação deveriam visitar Deodoro para ver se há condições de fazer qualquer coisa neste prazo. Não há pauta eleitoral, não há disputa com o presidente. Há o sentimento de que o Brasil deve manter o GP. Recomendo que visitem e sobrevoem o local. Até porque não há estrada, só dá para chegar lá a cavalo. Mas não quero desmerecer a opção do Rio. Mas não há nada lá, nem acesso, nem energia, nem saneamento”.
A nova reunião entre as partes aconteceu nesta terça-feira, uma hora antes da coletiva promovida pelos governos estadual e municipal, no Palácio dos Bandeirantes. Estava marcada inicialmente para segunda, mas um choque de agenda justamente com o Rio de Janeiro adiou o encontro. Carey esteve no Palácio do Planalto, em Brasília, onde se reuniu com Bolsonaro e com o governador do Rio, Wilson Witzel. Também estiveram presentes o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o empresário José Antonio Pereira Junior, presidente do Rio Motorsports, consórcio que venceu a licitação para construir o novo circuito do Rio.
A disputa com o Rio de Janeiro vem se tornando uma “novela” desde que Bolsonaro anunciou no início de maio que assinara um termo de compromisso com a F-1 para trazer de volta a categoria à capital fluminense. No evento, ele esteve acompanhado do prefeito Marcelo Crivella e de Witzel.
Desde então, novas ações foram anunciadas para atingir este objetivo, como a licitação do futuro autódromo. Ainda no mês passado, autoridades foram até Montecarlo para se encontrar com Carey no final de semana do GP de Mônaco. Lá entregaram o projeto do circuito e um cronograma de obras, que não foi tornado público.
Há, contudo, obstáculos para acertar o eventual retorno da F-1 ao Rio de Janeiro. O primeiro é o pagamento do circuito, estimado em R$ 700 milhões. Segundo os responsáveis pelo projeto, ele será todo bancado pela iniciativa privada. Os investidores, porém, não foram divulgados. O tempo de construção da estrutura também preocupa. Em média, um circuito de F-1 exige ao menos dois anos de obras, que ainda não começaram. E, como o projeto carioca é receber a prova a partir de 2021, o prazo estaria curto.
O tempo poderá ficar ainda menor por eventuais questões ambientais na Justiça. Isso porque no local que pretende receber o novo autódromo está a Floresta do Camboatá. Recentemente, a Câmara dos Vereadores apresentou projeto de lei para transformar o terreno em Área de Proteção Ambiental (APA), por ser um dos últimos locais de Mata Atlântica em área plana na cidade.
O GP do Brasil de Fórmula 1 é disputado em São Paulo desde 1990. Entre as década de 70 e 80, o Rio de Janeiro recebeu 10 edições da corrida no autódromo localizado em Jacarepaguá, também na zona oeste da cidade. O local foi desativado em sua totalidade para a construção do Velódromo, utilizado nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
(com Estadão Conteúdo)