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Depois do difícil Maradona, Argentina agora é do calmo Sabella

País estreia na Copa às 19 horas deste domingo no Maracanã contra a Bósnia

Sabella era tão bom aluno que foi porta-bandeira de sua escola, prêmio pelas boas notas e comportamento. Estudou advocacia por dois anos na Universidade de Buenos Aires, a mais concorrida da capital

A passional Argentina estreia na Copa do Mundo neste domingo olhando para o banco e encontrando, além de um técnico inteligente, muita calma, bem diferente de quatro anos atrás.

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Se contou com o explosivo Diego Maradona na África do Sul, a figura à beira do campo agora é o afável Alejandro Sabella, de 59 anos – e treinador apenas há quatro. Ele participou da Copa de 1998 como assistente do titular Daniel Passarella, e sua tranquilidade já salvou o país em uma tensa ocasião.

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Naquele Mundial, Passarella era quem aparecia e mandava; Sabella, muitas vezes era quem enxergava e sugeria. Nas oitavas de final contra a Inglaterra, Passarella tirou o desafeto Batistuta para colocar o protegido (e lesionado) Crespo. A substituição desarrumou o time, e a Argentina esteve muito perto de ser eliminada. A situação só mudou quando o desesperado Passarella seguiu os conselhos de Sabella para reorganizar a equipe, que se classificou nos pênaltis.

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Temperamento hereditário – A calma que Sabella carrega vem da família. Sua mãe, Nelly, era professora, e seu pai, Jorge ‘Toto’ Luis, um estudioso do futebol que lhe passou esta paixão. Bom jogador, o menino Sabella era ainda melhor aluno – foi porta-bandeira da escola, prêmio pelo bom comportamento e boas notas. Era meticuloso, observador e organizado, como o pai. O jeito familiar de curtir o futebol é contado no livro Sabella, do jornalista argentino Román Lucht (veja trechos abaixo). Enquanto a mãe de Alejandro se arrumava nos vestiários do clube no domingo à noite, o pai acendia os faróis de seu jipe para iluminar o gol onde brincava com o hoje técnico da seleção.

Sabella não abandonou os livros nem quando jogava profissionalmente pelo River Plate – embora o coração, na infância, fosse do Boca Juniors. Estudou dois anos de advocacia na Universidade de Buenos Aires, a mais concorrida da capital argentina. “Gosto de ensinar e de passar as ideias que aprendi. Me alegra mais que o dinheiro”, costuma dizer.

Sua vocação pedagógica o aproximou da segunda mulher, Silvana, ex-diretora de colégio que hoje ensina crianças com dificuldade de aprendizado. Alejandro é pai de três filhas (duas advogadas e uma bailarina que dança na Europa) e um menino (estudante), e em sua casa não há time único. Há quem torça para o Vélez, para o River. Ou para o Estudiantes.

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O Estudiantes de La Plata, aliás, foi o clube onde estreou como técnico, há apenas cinco anos. Logo no primeiro semestre, ganhou a Copa Libertadores da América derrotando o Cruzeiro em pleno Mineirão. No Mundial de Clubes, esteve a dois minutos de derrotar o Barcelona de Messi. Seguiu na equipe até 2011, quando assumiu a seleção argentina no lugar de Sérgio Batista.

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“Ele é um sábio. Sua cultura e sua forma de falar sempre me encantaram”, afirmou Daniel Passarella à VEJA.com. “Trabalhamos muito bem juntos. Somos amigos há 40 anos e nunca brigamos. O que, admito, é muito difícil”, brincou.

‘Muito inteligente’ – Outro que conta boas histórias de Sabella é o ex-volante Matías Almeyda. Certa vez, ele pulou o muro da concentração do River Plate para se divertir e foi flagrado por Sabella na volta. Em vez de afastar o jogador – ainda juvenil -, Sabella bancou sua participação naquela partida. Em troca, ganhou o comprometimento de Almeyda dali por diante. “O cérebro de Alejandro é especial para ver o futebol. Suas decisões são tranquilas e honestas. Ele é muito inteligente e pensa demais antes de decidir.”

É sob seu comando que a Argentina sonha em dar a volta olímpica do tri. Sonhar é algo que Sabella faz com frequência. Seu apelido é “pachorra” – em português, “indolente, tranquilo” -, por gostar de dormir depois do almoço. Até seus apelidos giram em torno da cultura. O anterior, ainda na adolescência, era “cabeção”, pela inteligência.

Veja trechos do livro Sabella, do jornalista argentino Román Lucht​:

Os pais não tinham razão para se preocupar

Excelente aluno com notas que o levaram a ser porta-bandeira, Alejandro era responsável e não gerava maiores preocupações a seus pais. Até por isso, jamais esqueceu do dia em que, confiando na escassa presença de carros na rua Vidt, atravessou sem olhar para os lados, para cumprimentar o avô, Antonio. Sabella esteve a ponto de ser atropelado. Tinha oito anos. Tamanho foi o susto que sua reação o levou a voltar voando à sua casa, esconder-se debaixo da cama e chorar desconsoladamente imaginando a tragédia. Histórias de crianças, travessuras naqueles anos da década de 60 em pleno bairro de Palermo.

‘Seo Toto’, seu mestre

‘Meu pai era meu observador mais exigente. Como ele era um jogador simples e muito prático, me pedia para jogar rápido para evitar os pontapés. Ele me corrigia e me ensinava, mesmo coisas que não gostava, como a marcação. Ele amava tanto o futebol que aos domingos pegava um papel e montava uma tabela artesanalmente. Enquanto escutava os jogos pelo rádio, anotava todos os gols da rodada, como se fosse um jornalista desses que levam todas as estatísticas. O autor do gol, o adversário, os minutos de jogo: tudo figurava nos seus dados. As pessoas que passavam por ali sabiam do seu costume e muitas vezes lhe perguntava para saber como estavam as equipes. Era um grande personagem.’

Euforia com o Boca

Seu amigo, Hugo Bassi, conta uma ótima anedota: “Eu era fanático pelo Boca, assim como Sabella. Em 1969, em um River x Boca que valia o título, Alejandro pensava que este partido ganharia o River, que descontaria a vantagem do Boca e forçaria um jogo desempate. Saímos do nosso clube com os ouvidos tapados para não saber como ia a partida. Não queríamos que ninguém nos dissesse nada. Mas o Boca estava ganhando com gols de Madurga e eu estava feliz, mas quando o River empatou, Alejandro começou a me dizer que estava dando o resultado que ele dizia, que haveria a virada. Ao fim do jogo, quando soubemos que o Boca havia sido campeão, festejamos no jipe do pai dele na rua ao lado do clube, com uma bandeira.”

O primeiro treino com Messi

A primeira sensação que tive quando fizemos a viagem à Índia e eu o vi treinar foi que ele era uma mescla única. Do ponto de vista físico, parecia um carrinho do game da Scalextric. No aspecto técnico, parecia um jogador de Playstation. Tinha uma velocidade de aceleração na saída realmente impressionante. O 0-100 dele era algo fora do normal. Uma explosão que jamais havia visto. E também parecia um jogador dos games porque seu domínio neuromuscular era excepcional e a bola era um prolongamento do seu corpo.

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