Craques, golaços e tensão: 9 Boca x River que entraram para a história
Rivais decidem a Libertadores pela primeira vez neste sábado. No passado, duelos marcantes e apimentados dividiram a Argentina
Boca Juniors e River Plate, os clubes mais tradicionais da Argentina, fazem no próximo sábado, dia 10, no estádio La Bombonera, o primeiro jogo da final da Copa Libertadores da América de 2018. Será o primeiro “Superclássico”, como é chamado o dérbi de Buenos Aires, em uma final internacional, além de ser a primeira decisão do torneio entre rivais de uma mesma cidade – o bastante para que o jogo seja tratado como o maior clássico de todos os tempos pela imprensa local.
Apenas duas vezes na história houve finais entre Boca e River. A primeira se deu em 1976, pelo Torneio Nacional: vitória do Boca por 1 a 0, no estádio do Racing, com gol de falta de Rubén Suñé. Por causa desse título, o Boca se classificou para jogar e ganhar a primeira de suas seis Libertadores, em 1977.
A segunda decisão aconteceu há oito meses, pela Supercopa Argentina, entre o campeão argentino (Boca) e o campeão da Copa Argentina (River) de 2017. O River Plate venceu por 2 a 0, em Mendoza, com gols de Gonzalo “Pity” Martínez e Ignacio Scocco.
Em 371 jogos realizados, o Boca Juniors soma 134 vitórias, contra 122 do River Plate, além de 115 empates. Pela Libertadores, o Boca Juniors também leva vantagem: 10 triunfos, sete derrotas e sete empates.
Craques como Diego Armando Maradona, Daniel Passarella, Enzo Francescoli, Juan Riquelme, Martín Palermo, Carlos Tevez, Ariel Ortega, Marcelo Gallardo (atual treinador do River Plate), Guillermo Schelotto (comandante do Boca Juniors), além de alguns brasileiros, já brilharam na história do duelo. Relembre abaixo, alguns dos mais memoráveis “Superclasicos”
1962 – Gol brasileiro e tragédia para Delém
Os rivais estavam igualados na liderança da competição, o que dava ares de final ao Superclássico decidido em duas cobranças de pênalti de atletas brasileiros. O gol da vitória do Boca Juniors foi do carioca Paulo Valentim, maior artilheiro do Boca Juniors na história do clássico, com 10 gols. O gaúcho Delém teve a chance de empatar o jogo para o River Plate faltando cinco minutos para acabar o jogo na Bombonera, mas seu chute forte parou na defesa do goleiro Antonio Roma. O lance marcou negativamente a carreira de Delém, que seguiu vivendo em Buenos Aires até sua morte em 2007. Antes, ele “se redimiu” com o sucesso que fez ao trabalhar nas categorias de base do River, onde lapidou craques como D’Alessandro, Mascherano e Maxi López, entre outros.
1969 – Primeira volta olímpica na casa do rival
Com dois gols de Norberto Madurga (que, três anos depois, seria campeão brasileiro pelo Palmeiras), o Boca Juniors empatou em pleno Monumental de Núñez e se sagrou campeão por ter dois pontos de vantagem sobre o rival. Foi a primeira e única volta olímpica dos xeneizes na casa do River. Alfredo Di Stéfano, ídolo do River e do Real Madrid quando jogador, era o técnico do Boca Juniors.
1978 – Rivais se cruzam na Libertadores
Boca e River se encontraram pela primeira vez em uma fase final do maior torneio da América na fase semifinal de 1978. Em 19 de setembro, na Bombonera, empate em 0 a 0. Quase um mês depois, na partida decisiva no Monumental de Núñez, os visitantes venceram por 2 a 0, com gols de Ernesto Mástrangelo e Carlos Salinas. Na final, o Boca bateu o Deportivo Cali, da Colômbia, e se sagrou bicampeão.
1986 – a bola laranja de Beto Alonso
O clássico disputado em 6 de abril de 1986 entrou para o folclore do futebol argentino pela festa do River na Bombonera e por uma novidade apresentada pela fornecedora Adidas: uma bola laranja, criada para se diferenciar do papel branco, tradicionalmente jogado pelos torcedores nos gramados do país. O River já havia conquistado o título, mas queria vencer na casa do rival e dar uma volta olímpica e o fez com dois gols de Beto Alonso, grande ídolo do time. O primeiro, de cabeça, foi marcado com a bola laranja, que 30 anos depois inspiraria um uniforme do River. No segundo tempo, já com uma bola branca, ele fechou a vitória por 2 a 0 em cobrança de falta. Aquele time do River conquistaria a Libertadores e o Mundial de Clubes.
1997 – o último tango de Maradona
O maior ídolo do futebol argentino também fez história no Superclássico e, inclusive, se despediu do futebol pelo Boca diante do River. Foi em 25 de outubro de 1997, no Monumental de Núnez. Diego Armando Maradona não planejava que essa fosse sua última partida oficial, mas, cansado das críticas e lesões, decidiu parar por cima, com a última lembrança de uma vitória sobre o rival. O camisa 10 jogou apenas 45 minutos, sem grande brilho, e foi substituído por problemas físicos – em seu lugar entrou o velho parceiro Claudio Caniggia, ainda que, para romantizar uma suposta passagem de bastão, muitos digam que quem entrou em seu lugar foi um jovem Juan Román Riquelme – a súmula registra que o sucessor de Maradona no coração dos boquenses entrou, na realidade, no lugar de Vivas, também no intervalo. O Boca venceu, de virada, por 2 a 1, com um gol de outro jovem que se tornaria uma lenda no clube: Martín Palermo. Após a partida, Maradona provocou a torcida do River. E dias depois, ao completar 37 anos, anunciou o fim de sua gloriosa carreira.
2000 – Show de Palermo e Riquelme
No primeiro dos anos dourados do “bicho-papão” da América do século XXI, o Boca eliminou o maior inimigo nas quartas de final da Libertadores. Depois de perder o primeiro jogo por 2 a 1 no Monumental, o clube dirigido por Carlos Bianchi desbancou o River com uma vitória por 3 a 0, com atuações históricas de Juan Román Riquelme e Martín Palermo – o camisa 9 voltava aos gramados após seis meses se recuperando de lesão e marcou o terceiro gol. Aquele Boca venceria a Libertadores contra o Palmeiras e o Mundial contra o Real Madrid.
2004 – Provocação e festa inimiga no Monumental
O Boca também venceu o duelo mais apimentado dos últimos anos, pela semifinal da Libertadores, em jogo com requintes de crueldade para os torcedores millionarios. Na ida, vitória do Boca por 1 a 0, na Bombonera. No Monumental, o River conseguiu levar a decisão para os pênaltis, com um gol aos 49 do segundo tempo e vitória por 2 a 1. No entanto, o goleiro Roberto Abbonzanzieri defendeu a cobrança de Máxi López e o Boca calou o estádio tomado apenas por rivais. Esse jogo ficou marcado pela comemoração do atacante Carlos Tevez, que imitou uma galinha (forma pejorativa como os torcedores do River são chamados pelos rivais) e por isso foi expulso, a poucos minutos do fim.
2014 – Barovero garante vingança do River
Dez anos depois daquela frustração na Libertadores, o River foi à forra pela semifinal da Copa Sul-Americana. Depois de empate em 0 a 0 na Bombonera, o time de Marcelo Gallardo – que iniciou ali seu ciclo de conquistas como treinador – venceu por 1 a 0 com gol de Leonardo Pisculichi e graças também à defesa do goleiro Marcelo Barovero em cobrança de pênalti de Emmanuel Gigliotti quando o jogo ainda estava empatado. Na final, o River conquistou o título inédito batendo o Atlético Nacional, da Colômbia. Esse seria o primeiro título internacional do River Plate desde 1997.
2015 – Gás de pimenta define o duelo
O Superclássico que não terminou garantiu a classificação do River às quartas de final da Libertadores. O clube da casa venceu o primeiro jogo no Monumental por 1 a 0, com gol de pênalti do uruguaio Carlos Sánchez, hoje no Santos. O jogo de volta terminou empatado em 0 a 0 e não teve segundo tempo: na volta do intervalo, um torcedor do Boca, Adrián Napolitano, conhecido como “Padeiro”, atirou gás de pimenta nos atletas do River, que, com tontura e problemas de visão, se negaram a jogar. A Conmebol declarou vitória do River, que se sagraria tricampeão da Libertadores ao bater o Tigres, do México, na final.