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Cilinho, o último romântico do futebol, pelas páginas de PLACAR

O perfeccionismo e vanguardismo do técnico do São Paulo chamaram a atenção do país em 1985 e foram retratados pela revista

A edição número 774 de PLACAR, publicada no dia 22 de março de 1985, trazia uma matéria intitulada “Sou o último romântico”. A frase era de Otacílio Oliveira Pires de Camargo, o Cilinho, então técnico do São Paulo. O treinador comandava uma das equipes que jogava o futebol mais bonito do Campeonato Brasileiro e tinha um dos melhores ataques. O problema era que também tomava muitos gols e a situação na competição não era boa.

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Um dos momentos mais críticos da campanha aconteceu no dia 9 de março, após derrota do São Paulo por 1 a 0 no Morumbi. Cilinho ouviu gritos de “Fora!”, mas estava frustrado apenas com uma coisa. “O que eu lamento é que mais de 2.000 garotos vieram ao estádio, arrastaram seus pais e saíram frustrados pela derrota do São Paulo – o time pelo qual eles estão começando a torcer. Se tivéssemos vencido, certamente eles teriam voltado no próximo jogo, e no próximo, e no próximo…”, afirmou o técnico na matéria assinada por Mário Sérgio Della Rina.

Cilinho tinha certeza do que estava fazendo e sabia que aquele trabalho com o time dos “Menudos” do Tricolor iria dar resultado cedo ou tarde. “O tempo vai mostrar que eu estava certo”, afirmou na reportagem. Ele tinha razão. Aquele time que não conseguiu passar da primeira fase do Brasileirão daquele ano, acabou campeão paulista em 1985 e revelou craques com passagens pela seleção brasileira, como Silas e Müller. 

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As qualidades do treinador campineiro eram valorizadas por quem trabalhava com ele. “É um revolucionário, um educador e tem uma determinação incrível”, contou o goleiro Barbiroto. “Onde ele vai, arruma a casa”, complementou o zagueiro Oscar, outro com passagens pela seleção.

Reportagem sobre o técnico Cilinho na edição 774 de PLACAR, de 22 de março de 1985 Reprodução/Placar

Cilinho acreditava no romantismo do futebol. “Sou de um tempo em que os grandes craques iam dormir com a bola debaixo do travesseiro”, disse na época. Ele gostava de times que jogavam para frente e elencava os motivos para o baixo nível jogado no futebol brasileiro em 1985. “O cabeça-de-bagre se nivela ao craque por culpa do juiz, que não coíbe a violência”; “Paga-se bicho por um empate de 0 x 0. Quem vai se arriscar a perder esse dinheiro?”; “O técnico que perde duas partidas é demitido”.

O São Paulo soube esperar e as derrotas no Brasileirão no primeiro semestre não derrubaram o técnico. Meses depois, Cilinho comemorava o título do Campeonato Paulista com seus “Menudos”. Antes da conquista da taça, o repórter Ari Borges analisou aquela equipe em reportagem da edição número 807, de 08 de novembro de 1985.

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“Uma jogada de risco” fala sobre o sucesso do jovem time no Paulistão e na “aposta alta” de Cilinho ao deixar o craque Paulo Roberto Falcão, recém-chegado da Itália, no banco de reservas. O texto conta a volta por cima do treinador após o começo do ano de incertezas, seu talento para revelar bons jogadores por onde passou e até o interesse da seleção brasileira em contratá-lo, apesar de, naquela altura da carreira, nunca ter conquistado nenhum título.

A foto que estampa a matéria de Ari Borges mostra como Cilinho foi vanguardista. O técnico explicava para Müller, Silas, Pita, Sidnei e Careca como queria que fosse a disposição do time em campo a partir de uma mesa de futebol de botão, algo inédito e inovador na época. O método inovador de treinamento, por vezes com bolas de tênis e ovais, também surpreendiam pelo ineditismo.

Cilinho dá instruções a Müller, Silas, Pita, Sidnei e Careca: “A equipe só mostrará tudo o que pode em seis meses” Reprodução/Placar

Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, morreu nesta quinta-feira 28, em Campinas (SP). Aos 80 anos, o ex-técnico, que teve boas passagens no São Paulo e na Ponte Preta, enfrentava problemas de saúde e chegou a sofrer um AVC no ano passado.

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