Caso Fifa: empresário brasileiro confessa ter subornado dirigentes
José Margulies fechou acordo de delação premiada com a Justiça dos EUA e deu detalhes sobre os crimes cometidos a partir de 1991
A Justiça dos Estados Unidos tornou público na noite desta segunda-feira o depoimento de dois executivos de empresas de marketing que admitiram o pagamento de propina a dirigentes de futebol em troca dos direitos de transmissão de competições sul-americanas. Um deles foi o brasileiro José Margulies, que fechou acordo de delação premiada para tentar evitar a pena de 20 anos de prisão. Ele revelou ao Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, que as propinas foram pagas a partir de 1991 em negociações com a empresa brasileira Traffic e a argentina Torneos y Competencias, mas não citou o nome dos dirigentes envolvidos no caso de corrupção que abalou a Fifa a partir de maio do ano passado.
Nos documentos liberados pelos americanos, Margulies, argentino naturalizado brasileiro e mais conhecido no país como José Lázaro, deu detalhes sobre como funcionou o esquema de corrupção. Ele confessou que trabalhou diretamente com José Hawilla, dono da Traffic e um dos principais delatores do caso, para conseguir direitos de transmissão de jogos. “Começando em 1991, eu ajudei a pagar propinas em nome da Traffic para vários dirigentes da Conmebol”, disse Margulies ao juiz.
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“Eu sabia que esses dirigentes estavam usando suas posições de autoridade para se enriquecer. Eu também sabia que essas propinas foram feitas para garantir que a Traffic tivesse e mantivesse os direitos comerciais sobre esses eventos, assim como para várias edições das Eliminatórias para a Copa do Mundo”, explicou. Segundo Margulies, esses pagamentos foram feitos “de forma regular até 2007” e outras propinas também foram feitas em nome da empresa argentina Torneos y Competencias, que também comprava direitos.
“Começando em 2000 e até 2015, fiz transferências de dinheiro de forma periódica em nome de empresas conhecidas pela Torneos”. Margulies contou que utilizou duas empresas, chamadas Valente e Somerton, para realizar as transações. O brasileiro afirmou sentir “remorso pelos problemas que causou para minha família, para o mundo do futebol e para os EUA”. “Com meu reconhecimento de culpa, eu tomo o primeiro passo para reparar esses problemas”, enfatizou o empresário de 76 anos, que nasceu na Argentina, mas tem nacionalidade brasileira desde a década de 70.
Segundo a agência de notícias Bloomberg, que teve acesso ao depoimento de Margulies, o empresário disse que jamais recebeu comissões pelas transações que ajudou a realizar. Margulies pagou 10 milhões de dólares (35 milhões de reais pela cotação atual) de fiança, para escapar da prisão.
O outro empresário a confessar os crimes foi o argentino Alejandro Burzaco, que foi CEO da Torneos y Competencias. Ele afirmou que o pagamento de propinas já ocorria na empresa antes de sua chegada, em 2005, e admitiu ter “se equivocado” ao manter a prática ilegal.
“Entre 2005 e 2015 paguei propinas para vários dirigentes da Fifa, da Conmebol e de várias de suas afiliadas para que minha empresa obtivesse e mantivesse os direitos de várias competições, como Copa Libertadores, Copa América, Copa Sul-Americana e Eliminatórias das Copas do Mundo de 2018, 2022, 2026 e 2030, e para vários jogos amistosos. Eu sei que esses dirigentes usavam seus cargos de comando para enriquecer. Eu me beneficiei pessoalmente deste esquema, que movimentou dezenas de milhões de dólares”, disse Burzaco em seu depoimento.
O ex-presidente da Concacaf e ex-vice-presidente da Fifa, Jefrrey Webb, também confessou à Corte de Nova York que participou do pagamento de subornos. Os reús ouvidos pelo juiz Raymond Dearie não citaram nomes de outros envolvidos. Entre os réus está também José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Marco Polo del Nero, atual presidente da entidade, também foi indiciado.
(com Estadão Conteúdo)