Em cerca de um mês, ex-dirigente gastou mais de 80 mil reais do Corinthians com gastos pessoais, incluindo cerveja e remédios para ereção; saiba como funciona o modelo associativo
O Corinthians arcou com diversos gastos pessoais do ex-presidente Duílio Monteiro Alves, comandante do clube entre 2021 e 2023. Segundo apuração do ge nesta terça-feira, 22,, foram R$ 86.524,62 gastos entre 26 de setembro de 2023 a 31 de outubro de 2023, que constam em relatórios de despesas oficiais.
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Foram repassados R$ 80.000 em espécie à presidência divididos em três vezes. Com duas parcelas de R$ 30.000 (nos dias 2 e 30 de outubro) e uma de R$ 20.000 (no dia 16), Duilio ainda teria direito a um reembolso de R$ 6.524,62, gastos a mais durante o período.
Mais de R$ 57.000 reais das compras foram feitas em estabelecimentos de alimentação e mercados. O comércio mais recorrente foi o “Oliveira Minimercado”, localizado a 35 km da sede do Timão, que somou R$ 32.580 em sete notas fiscais.
No entanto, a reportagem esteve no local e moradores do imóvel negaram a existência de estabelecimentos comerciais no local nos últimos anos. Além disso, nove dias antes da primeira nota ser emitida, a empresa se chamava Oliveira Obras, no ramo da Alvenaria.
No período, também foram trocados os sócios. Saiu Geovana Batista de Oliveira e entrou Alexsander Marques Canudo.
Duílio Monteiro Alves enquanto presidente do Corinthians – Rodrigo Coca / Agência Corinthians
Outra loja muito recorrente foi o Oba Hortifruti, que registrou 38 compras. Cerveja, sorvete e picanha constam nas notas fiscais obtidas.
Já no ramo da saúde, há registro de despesas em salões de beleza, barbearias e farmácias. Há três compras que aparecem remédios para a disfunção erétil: Tadalafia (em duas) e Cialias (em uma).
Ainda assim, os valores referentes às contas daquele ano foram aprovados pelo Conselho Deliberativo. No entanto, antes o Conselho Fiscal e o Conselho de Orientação (Cori) haviam aceitado as declarações com ressalvas.
A divulgação das informações, no entanto, levanta outro debate: a remuneração dos presidentes de clubes do Brasil. No Corinthians, não existe previsão no estatuto para pagamento de salários a dirigentes desse cargo. Duílio é filho de Adilson Monteiro Alves, que foi diretor de futebol durante a Democracia Corinthiana nos anos 1980. Formado em publicidade e propaganda, não trabalhou na área, e trabalhava como empresário do ramo de bares e restaurantes, enquanto geria o clube.
Essa realidade ultrapassa os muros do Parque São Jorge e chega a diversas equipes do país. Isso, pois, em grande parte dos clubes associativos, como Palmeiras, Flamengo e Fluminense, os presidentes não recebem recompensações financeiras (ao menos formalmente).
A justificativa por trás disso está no próprio caráter dos clubes, que são associações sem fins lucrativos, com base voluntária. Ainda assim, a Lei 13.155/2015, sancionada pela presidente Dilma Roussef, passou a permitir que dirigentes desse tipo de entidade pudessem ser remunerados (desde que com exercício de função de gestão, dedicação exclusiva e valores compatíveis com o mercado, também não ultrapassando o teto do funcionalismo público).
Isso abriu caminho para a adoção desse modelo em clubes relevantes no cenário nacional. O São Paulo, por exemplo, paga atualmente cerca de R$ 26.000 para o presidente Júlio Casares.
Julio Casares, presidente do São Paulo – Rubens Chiri / São Paulo FC
O valor foi divulgado pelo próprio dirigente, em entrevista à Folha de São Paulo, em fevereiro de 2024: “Eu ganho um salário, um pró-labore, que não chega à metade do que os meninos da base ganham quando são promovidos. Recebo em torno de R$ 26 mil, líquidos. Mas não reclamo. Eu ganhei muito dinheiro na televisão, eu vivo dos aluguéis dos imóveis que comprei. Eu me viro”,
Já no caso das Sociedades Anônimas de Futebol (SAF’s), a realidade é outra, mais ligada às práticas empresariais. Em times como Botafogo, Cruzeiro e Bahia, a função de CEO (diretor executivo) é remunerada, sem tantas restrições e exigências como no caso dos clubes associativos.
O Fluminense, por exemplo, vem avançando na possibilidade de virar um SAF. Segundo informações de José Ilan, apresentador do programa PLACAR Aberto, o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, planeja se tornar o CEO de uma possível SAF, com rendimentos de R$ 250 000 mensais.
O debate ganhou força no fim da última década, com a crescente de buscas por “gestões profissionais”. Por outro lado, nos últimos anos as práticas de remuneração para dirigentes de clubes ganharam novas facetas com os modelos de Sociedades Anônimas do Futebol.