VEJA seguirá a Olimpíada de perto: os resultados, as surpresas, os relatos de superação e, sim, eventuais problemas de um torneio em plena pandemia
“De tanto organizar a XXII Olimpíada de Moscou, os líderes soviéticos esqueceram-se de dar-lhe, também, uma alma.” Assim a enviada especial de VEJA, a jornalista Dorrit Harazim, começava a reportagem a respeito do início dos Jogos de 1980, em julho daquele ano, boicotados pelos Estados Unidos e por outros 64 países em protesto contra a invasão do Afeganistão — o troco viria em 1984, com catorze nações do bloco comunista ausentes da competição em Los Angeles. Numa das edições de setembro de 1972, durante a Olimpíada de Munique, esta Carta ao Leitor lamentava o atentado cometido por um grupo terrorista palestino contra a delegação de Israel: “A chacina é o espelho fulgurante da situação sociopolítica da humanidade de hoje, dos estranhos humores que percorrem um mundo cada vez mais descrente”.
A Olimpíada de Tóquio, prevista para começar na próxima sexta-feira, 23, faz parte de uma família de Jogos, como os de Moscou e Munique, cujas circunstâncias globais a tornam retrato indelével de seu tempo. Pela primeira vez na história haverá um torneio em plena pandemia, com estádios e ginásios vazios, sem torcedores, nem mesmo os cidadãos locais. Assistiremos, claro, a momentos inesquecíveis dos atletas, construídos pela glória das vitórias e pelo drama das derrotas, como em toda Olimpíada — mas esta agora se inicia de modo evidentemente heterodoxo. Só o tempo dirá como ficará marcada no futuro. Sabe-se, no aqui e agora, que a população japonesa, preocupada com o risco de disseminação do vírus da Covid-19, preferia o cancelamento. E, no entanto, o trem não parou. A repórter Fatima Kamata, que vive no Japão há mais de duas décadas, explica na reportagem que começa na página 56 os motivos para a realização do evento. Há decisivos argumentos econômicos. Uma expressão em inglês, “too big to fail”, grande demais para quebrar — comumente atribuída a instituições financeiras que não devem fechar as portas porque provocariam danos severos —, poderia ser aplicada ao raciocínio para a manutenção da Olimpíada, transferida de 2020 para 2021. Mas há também aspectos culturais colados à civilização oriental. Os japoneses não gostam de interromper algo sem a entrega final. Uma vez iniciado um processo, ele precisa seguir o seu fluxo natural, até o fim. “O esforço para que tudo saia perfeito foi monumental. Mas é uma pena que a pandemia tenha atingido o objetivo primordial dos organizadores locais: abrir o Japão para o mundo. Isso, infelizmente, ficou comprometido”, diz Fatima.
Até 8 de agosto, como a Olimpíada ocupará corações e mentes, entre o esporte e o incômodo dia a dia da cidade-sede, VEJA seguirá tudo de perto na revista, no site e nas redes sociais, minuto a minuto: os resultados, as surpresas, os relatos de superação e, sim, eventuais problemas de saúde. Para iluminar o cotidiano de Tóquio, convidamos Piti Koshimura, nikkei que mora no Japão e produz conteúdo sobre o país há mais de cinco anos, para escrever diariamente o blog Janela para Tóquio. A ideia é mostrar, a partir da quarta-feira 21 de julho, a alma que terá a 32ª Olimpíada da Era Moderna, tão diferente de todas as outras.
Publicado em VEJA de 21 de julho de 2021, edição nº 2747
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