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Cairo Santos, o primeiro e único brasileiro na NFL

O kicker paulista espera continuar sua carreira na liga profissional americana e ampliar a porta de entrada de brasileiros no esporte dos Estados Unidos

Se os Los Angeles Rams baterem os New England Patriots neste domingo no Super Bowl 53, os brasileiros poderão dizer que um compatriota fez parte da campanha vitoriosa da equipe da NFL, a liga de futebol americano. O kicker paulista Cairo Santos, que ingressou entre os profissionais há cinco anos, jogou duas partidas pelos Rams na atual temporada. Das seis tentativas de field goal (o chute que vale 3 pontos), Cairo converteu cinco. Uma delas, inclusive, garantiu uma vitória ao time da Califórnia durante a fase de classificação do campeonato. Com a recuperação do jogador titular da posição, Greg Zuerlein, o brasileiro de 27 anos foi cortado da equipe finalista.

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Mesmo assim, arrebatado por um senso de merecimento e humildade, Cairo diz que não espera um anel pela conquista – no universo do futebol americano, cada jogador da equipe vencedora do Super Bowl costuma ganhar pelo feito um anel cravejado de diamantes e pedras preciosas. “Acho que muita coisa aconteceu desde que eu saí de lá. Não quero ganhar crédito algum depois disso”, afirma. “Mas acho que vou ficar checando a minha caixa de correio para ver se algo chega pra mim.”

Revelado pela Universidade de Tulane, do Estado americano da Louisiana, Cairo venceu o prêmio de melhor kicker do futebol universitário em 2012. Tal reconhecimento garantiu uma oportunidade na franquia Kansas City Chiefs (equipe derrotada este ano na semifinal pelos Patriots), em 2014. Foram quatro temporadas pelos Chiefs, mas em 2017 o kicker brasileiro acabou lesionando seu principal instrumento de trabalho, a virilha, que lhe garantia toda a potência de seus chutes.

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Desde então, suas atuações tem sido esparsas: depois de ser cortado pelos Chiefs, Cairo vestiu a camisa do Chicago Bears (onde se lesionou novamente e acabou dispensado), New York Jets (onde não chegou a atuar), Los Angeles Rams (pelo qual fez apenas três jogos) e, finalmente, o Tampa Bay Buccaneers, time pelo qual encerrou a temporada 2018-2019. “Estou mais feliz pela minha saúde”, diz Cairo. “Tenho certeza que vou poder continuar jogando por muito tempo.” VEJA conversou com o jogador antes da grande decisão do futebol americano.

Você está 100% curado da lesão que o tirou das últimas duas temporadas? Eu tive uma pubalgia, o que eles chamam aqui de hérnia esportiva, ainda quando estava nos Chiefs, lá no início da temporada de 2017. Naquela época, pela ânsia de jogar eu acabei forçando demais a lesão e acabei cortado por lesão. Depois fui contratado pelo Chicago Bears, mas acabou acontecendo a mesma coisa, o músculo ainda não estava forte o suficiente para a rotina. Foi aí, então, que me levaram a um especialista na Filadélfia e quando decidimos que a cirurgia seria a melhor opção.

E foi mesmo? Foi, fiquei muito contente de ter feito porque agora me sinto mais saudável. Sinto que toda a região da virilha está mais estável e mais forte. Não há a compensação de uma área pela outra. A única parte negativa é que a recuperação foi mais demorada, que foi de dezembro de 2017 a agosto de 2018. Demorou, mas foi o tempo certo. Ainda essa temporada tive a oportunidade de jogar com os Los Angeles Rams e terminar a temporada com o Tampa Bay. Estou mais feliz pela minha saúde. Por ter passado por aquele momento difícil em 2016 ainda nos Chiefs, mas agora tenho certeza que vou poder continuar jogando por muito tempo. Meu contrato com o Tampa Bay Buccaneers foi só para a temporada passada, mas se encerra oficialmente agora em março. Espero continuar, apesar de não termos começado a conversar. O time ainda está formando o staff, a comissão técnica. mas acho que é um lugar ótimo pra mim. Eu moro na Flórida oficialmente há 11 anos, já me sinto em casa aqui em Jacksonville.

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Como foi essa vida de andarilho, passando por quatro equipes diferentes no período de um ano? O frustrante para mim foi que acabei não perdendo minha vaga por uma competição interna, por ter perdido algum chute. Mas sim pelo fato de não ter estado 100% para desempenhar meu jogo. Foi isso o que mais me doeu. Toda vez que eu conseguia chutar, a bola ia direitinho. Ou seja, na parte técnica ainda estou muito confiante. Mas o ritmo de jogo ainda não era o ideal.

Cairo Santos jogou nesta temporada pelo Los Angeles Rams, finalista da NFL Dustin Bradford/Getty Images

Por ter jogado alguns jogos nessa temporada pelos Rams, se eles ganharem o campeonato você terá direito a um anel de campeão? Olha, estou um pouco perdido. Acho que vou ficar checando a minha caixa de correio para ver se algo chega pra mim. Mas, falando sério, ouvi dizer que se você jogou metade da temporada regular (oito jogos), você tem direito a um anel. Menos que isso acho que fica a critério do time a premiação. Mesmo assim, fiquei muito feliz de ver os Rams chegarem a final. Sei como é difícil alcançar uma vaga no Super Bowl, então achei incrível a façanha. Apesar de ter dado um chute que deu uma vitória para o time, acho que muita coisa aconteceu desde que eu saí de lá. Não quero ganhar crédito algum depois disso. Mesmo assim, todos me agradeceram bastante quando eu deixei a equipe.

Você chegou a pensar que sua carreira estava ameaçada? Isso nunca passou pela minha cabeça durante todo o processo. Para me acalmar, fui falando com alguns kickers que também passaram por essa situação e todos me falaram que era desse jeito mesmo, era parte do processo. Minha maior frustração foi mesmo no período que estive no Jets, que não pude aproveitar pelo fato de não conseguir treinar. Meu condicionamento não permitia. Mesmo assim, quando sai eles deixaram as portas abertas para mim. Por todos os lugares que eu passei mantive boas relações. Os times se comunicam e acho que consegui deixar uma boa impressão de comportamento.

Você acha que sua presença na liga aumentou a popularidade do esporte no Brasil? Acho que tive, sim, uma influência positiva. E, claro, ajudou o investimento dos canais de televisão em transmitirem as partidas, um número cada vez maior de jogos por semana. Os sonhos de quem trabalha com futebol americano às vezes vão muito longe, como por exemplo trazer um jogo para o Brasil, mas existe uma dificuldade muito grande para fazer isso acontecer. Então, cada 1% de audiência que é conquistado deve ser bastante comemorado pelos brasileiros que amam o esporte. No nosso futebol às vezes não acontecem tantos lances emocionantes quanto em uma partida da NFL, acho esse um trunfo enorme dessa modalidade. Espero continuar ajudando ainda como jogador.  Minha trajetória pode servir de exemplo para outros jovens que tenham vontade de tentar a sorte nesse esporte. Também tenho vários projetos em mente, que visam criar essa ponte entre a NFL e um brasileiro que queira ingressar no esporte.

Cairo Santos está com 27 anos e seu contrato com o Tampa Bay Buccaneers acaba agora em março Cliff Welch/Icon Sportswire/Getty Images

Já existe um outro brasileiro bem próximo de ingressar na liga, o matogrossense Durval Neto. Sim, eu li sobre ele. Torço muito para que ele consiga entrar na liga, principalmente por ser de uma posição diferente de kicker. Acho que todo mundo sabe que os brasileiros são bons chutando uma bola. Portanto, ao ingressar na liga, isso abrirá ainda mais os olhos dos olheiros para jogadores do nosso país. Já estão fazendo isso na Austrália, vários olheiros de faculdades americanas estão indo lá buscar jogadores de rugby. É muito legal que eles comecem a ver o Brasil como uma “fábrica” de jogadores, seja pela técnica, seja pelo porte físico. Essa também é uma boa narrativa para os times, ao trazer um jogador de fora dos Estados Unidos. Aqui eles valorizam essa atitude, de pensar fora da caixa e ter sucesso com essa iniciativa.

E quem ganha o Super Bowl? Acho que é uma visão um pouquinho apaixonada, mas acho que os Rams ganham. Os Patriots jogaram melhor na final de conferência, mas se você analisar o talento total da equipe, acho que os Rams levam vantagem. É claro que existe um cara chamado Tom Brady, que parece vinho: quanto mais velho, melhor.

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