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Caçadores de aventuras

A travessia do pior mar do mundo em um barco a remo é o exemplo mais recente da dificuldade dos exploradores de encontrar feitos inéditos

Publicado por: Amauri Segalla em 24/01/2020 às 06:00 - Atualizado em 24/01/2020 às 06:00

No primeiro dia de janeiro de 2019, o alpinista e triatleta americano Colin O’Brady incluiu em sua lista de metas para os doze meses seguintes um desafio que chamou de “insano”: ser o primeiro a atravessar a temível Passagem de Drake apenas com a força da propulsão humana. Ali, naquela área marítima de cerca de 800 quilômetros no extremo sul do planeta, onde o Pacífico e o Atlântico se encontram, as rajadas de vento podem chegar a 300 quilômetros por hora e as ondas atingem até 15 metros de altura. Detalhe: O’Brady nunca havia pisado em um barco a remo na vida. Com a ajuda de outros cinco aventureiros com experiência nesse esporte (a turma ia se revezando nas pás em trios), partiu de Cabo Horn, no Chile, em 9 de dezembro e, dezesseis dias depois, em pleno Natal, fez história ao chegar ao continente antártico. “Eu sempre procuro algo que parece impossível”, disse O’Brady a VEJA. “Sou atraído por coisas que nunca foram feitas.”

A exemplo do americano, os exploradores da era moderna têm deparado com um desafio cada vez mais intransponível: encontrar aventuras inéditas. Para muitos especialistas, a era das grandes expedições foi encerrada em 1953, quando o neozelandês Edmund Hillary e seu guia xerpa Tenzing Norgay atingiram o pico do Monte Everest. A partir daí, o mundo deixou de ser uma página em branco. Isso não significa, porém, que os aventureiros encontraram o seu limite. “O desafio não é mais chegar a um lugar nunca explorado, mas como ir até lá”, afirma O’Brady.

POSE VITORIOSA – A chegada
ao Polo Sul: onze dias de viagem @colinobrady/Instagram

O jeito é inventar as próprias aventuras, como fez o sul-africano Mike Horn, que ficou famoso em 2000 ao completar uma viagem individual de um ano e seis meses ao redor do Equador sem nenhum transporte motorizado e, em 2006, junto com o norueguês Borge Ousland, tornou-se o primeiro homem a cruzar o Polo Norte, a pé, em pleno inverno — ou seja, sob escuridão total. Em janeiro, Horn completou mais uma travessia desse continente, apenas com o auxílio de esquis. O brasileiro Amyr Klink também usou de criatividade (e ousadia) para colocar seu nome no panteão dos grandes exploradores. Em 1984, saiu sozinho em um pequeno barco a remo da costa da África e desembarcou na Bahia 100 dias depois, após um percurso de quase 7 000 quilômetros. Em 1998, estabeleceu nova façanha, também solo: a circum-navegação polar a bordo do veleiro Paratii.

Se acima da superfície há poucos lugares inalcançados, abaixo dela podem estar guardadas as grandes aventuras deste século. Primeira pessoa a mergulhar em cavernas subaquáticas da Antártica, a canadense Jill Heinerth planeja fazer novas expedições desse tipo em 2021. A ideia dela é explorar regiões submersas do continente gelado para chegar a lugares remotos jamais visitados por humanos. “Nós sabemos mais sobre o espaço do que sobre regiões submersas do planeta”, disse ela em uma entrevista recente.

MITO – O sul-africano Mike Horn: o primeiro a cruzar o Polo Norte a pé no inverno @mikehornexplorer/Instagram

As cavernas são outro ponto envolto em mistério que desperta o interesse dos aventureiros. Para muitos deles, trata-se das últimas fronteiras geográficas inexploradas do planeta, impenetráveis por GPS ou imagens de sonares. Um dos grandes objetos de desejo é a Caverna Son Doong, no Vietnã, por enquanto considerada a maior do mundo. Uma expedição realizada em maio do ano passado por três mergulhadores britânicos — os mesmos que ajudaram no resgate do time de futebol preso em cavernas na Tailândia em 2018 — descobriu um túnel subaquático secreto que conecta Son Doong a outra grande caverna, adicionando assim 1,6 milhão de metros cúbicos ao total de cavernas já desbravadas pelo homem naquela região. “Seria como se alguém encontrasse uma montanha no topo do Everest”, disse à rede americana CNN Howard Limbert, um dos mergulhadores que participaram do projeto. A ideia dele é partir em nova expedição pela Son Doong antes do fim de 2020.

Colin O’Brady é o exemplo perfeito dos aventureiros da era moderna. Suas façanhas são completadas com o máximo de segurança possível — a travessia da Passagem de Drake foi acompanhada de perto por um barco motorizado — e fartamente documentadas nas redes sociais. Obviamente, isso não tira o mérito de sua conquista. O manual da Marinha americana diz que a força dos ventos de Drake é comparável à energia gerada no interior de um ciclone tropical. Como se não bastasse, a área tem uma das mais baixas visibilidades do globo e fortes correntes que desorientam instrumentos de navegação. Para fazer a travessia, é preciso se esquivar de icebergs e suportar temperaturas de 25­ graus negativos. Em suma: as águas congelantes do lugar constituem o mar mais perigoso do mundo e, não à toa, ali repousam cerca de 130 embarcações naufragadas e muitas vidas perdidas. Aos 34 anos, O’Brady está longe de parar. Resta saber por quanto tempo ainda haverá no mundo marcas e feitos a ser superados.

Publicado em VEJA de 29 de janeiro de 2020, edição nº 2671

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