Brasil admite tensão e peso, mas garante não temer queda
Depois de afirmar que título era ‘obrigação’, Felipão diz que eliminação precoce contra chilenos não deve ser vista como tragédia: ‘Não é para se jogar no poço’
“Não ficaremos �nada orgulhosos e nada satisfeitos se não passarmos. Mas se eles forem melhores do que nós, não podemos abaixar a cabeça. É preciso seguir a vida”, disse Felipão
Desde que reassumiu o comando da seleção brasileira, no final de 2012, o técnico Luiz Felipe Scolari disse publicamente, em várias ocasiões, que vencer a Copa do Mundo era uma “obrigação” para a equipe da casa. Antes da estreia na fase eliminatória do torneio, porém, Felipão mudou de discurso, afirmando que a equipe não pode encarar o duelo contra o Chile, neste sábado, às 13 horas (de Brasília), em Belo Horizonte, como essa carga excessiva de cobrança. “Se eles forem melhores do que nós, não podemos abaixar a cabeça. Não pode se jogar no poço”, disse o treinador, tentando aliviar um pouco da carga pesadíssima depositada sobre os ombros dos seus jogadores. Mesmo admitindo a ansiedade e o nervosismo antes do começo das oitavas de final, Felipão garantiu que sua equipe não entrará em campo com medo do fiasco, mas sim consciente do que está em jogo. “Tentamos explicar aos jogadores as qualidades do Chile, mas também valorizar e mostrar todo o nosso potencial. É preciso deixá-los tranquilos para jogar seu futebol”, explicou, na véspera do jogo, no Mineirão.
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Felipão é considerado um especialista em disputar partidas eliminatórias: além das várias conquistas em torneios de mata-mata, como a Libertadores, só perdeu um duelo de segunda fase em Copas do Mundo, quando treinava Portugal, numa semifinal contra a França, em 2006. Antes, tinha eliminado Holanda e Inglaterra. Pelo Brasil, em 2002, ele comandou vitórias contra Bélgica, Inglaterra e Turquia antes da final contra a Alemanha. Ainda assim, até mesmo o técnico de 65 anos confessou sua apreensão nos momentos que antecedem o duelo deste sábado. “Algumas coisas ainda mexem com a gente, mesmo tendo experiência. É normal que a gente sinta algum incômodo, uma ansiedade, quando começa essa fase, que é quando não podemos errar nem perder. Ficamos mais envolvidos, um pouco mais assustados, um pouco mais nervosos. Mas é o normal de uma competição assim. Não é por ser no Brasil, é por ser uma Copa. Ninguém, em sã consciência, fica totalmente tranquilo”, contou. Felipão revelou ainda que faz o máximo para “não transmitir aos atletas qualquer ansiedade”. “Quando estou sozinho, fico um pouco nervoso. Quando estou com eles, não: aí já estou passando minha confiança.”
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Risco constante – Se não é suficiente para espantar a tensão, a experiência serve pelo menos para saber como lidar com ela dentro do grupo. “Temos algumas estratégias. Às vezes, optamos por acelerar um processo; em outras, dependendo do grupo, a gente tira um pouco da pressão. Depende de como o time está jogando e do momento de cada um.” A atenção aos jogadores, ensina o técnico, deve ser sempre� personalizada. “É claro que um ou outro sempre exige alguma pequena conversa, um carinho maior, um detalhe ou outro a mais.” Scolari se mostra razoavelmente tranquilo em relação ao estado emocional dos jogadores antes das oitavas de final, lembrando que não será a primeira vez que a equipe vai a campo sob o risco de eliminação nesta Copa. “Já jogamos uma classificação no Mundial, �contra Camarões, porque não estávamos garantidos nas oitavas e poderíamos ter encerrado nossa participação ali. Estamos jogando assim desde a partida passada.” E ele admitiu algo inescapável: a ameaça de dar adeus à Copa já neste sábado, depois de apenas duas semanas de competição, está na cabeça do time, ainda que sem desespero ou descontrole.
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“É claro que passa na cabeça que não seguimos adiante se não ganharmos. Desde que iniciamos a competição sabíamos que seria assim. E será assim sempre, até a final, é o regulamento da competição. É assim, agora é isso: se não ganharmos, não continuamos”, afirmou o técnico, com seu costumeiro pragmatismo. “Não ficaremos �nada orgulhosos e nada satisfeitos se não passarmos. Mas estamos fazendo o nosso trabalho com dedicação, alegria e amor, assim como o oponente, que também está fazendo o mesmo. Qualquer que seja o resultado, é preciso seguir a vida.” Falando em nome dos jogadores, Thiago Silva também adotou um discurso similar: “Gostamos de estar aqui porque somos apaixonados por jogar futebol, �e do outro lado tem uma equipe que tem os mesmos sonhos que os nossos. É lógico que a frustração �será muito grande caso uma eliminação aconteça, mas o futebol é apaixonante por causa disso: você nunca pode dizer antes quem vai ganhar ou quem vai perder. Temos de controlar nossos sentimentos da melhor maneira possível.”