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Beckham na praia, ‘Palmeiras Casablanca’ e mais curiosidades do Mundial de 2000

Para além do título do Corinthians e do brilho de Edmundo no torneio, primeiro Mundial da Fifa, há exatos 25 anos, foi repleto de aleatoriedades e surpresas; relembre

Há exatos 25 anos, em 14 de janeiro de 2000, chegou ao fim a primeira edição do Mundial de Clubes da Fifa, realizada no Brasil. O Corinthians conquistou o título com um triunfo nos pênaltis após empate em 0 a 0 com o Vasco da Gama, no Maracanã. Que as equipes brasileiras deixaram pelo caminho Real Madrid e Manchester United, com shows de Edílson Capetinha e Edmundo, a maioria dos torcedores já sabe… mas muitos talvez não saibam ou não se lembrem que o torneio apresentou uma série de momentos inusitados.

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O Mundial de Clubes de 2000 registrou fatos curiosos, como o passeio dos craques do Manchester United pelas praias e pontos turísticos do Rio, a presença de clubes até então desconhecidos dos brasileiros, como Al-Nassr (atual time de Cristiano Ronaldo) e o Raja Casablanca (que, reza a lenda, vestiu um uniforme “emprestado” pelo Palmeiras), e o início de carreira de figuras que se tornariam bastante conhecidas, como Samuel Eto’o e Ange Postecoglou.

Relembre 7 momentos do Mundial de Clubes de 2000:

Beckham e outros craques na praia

O Manchester United, campeão da Liga dos Campeões e do Mundial Interclubes de 1999 foi uma das atrações do Mundial de Clubes de 2000. Sediado no Rio, o clube inglês enfrentou o Necaxa, do México, na estreia no Maracanã e ficou no empate por 1 a 1. O jogo foi marcado pela expulsão do astro David Beckham ainda no primeiro tempo.

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Durante sua folga no torneio, o astro inglês aproveitou para visitar as praias do Rio de Janeiro e também o Cristo Redentor com o elenco. Em sua biografia, Beckam chegou a dizer que a “alma do futebol” reside nas areias de Copacabana.

“Estar no Brasil foi fantástico. Eu lembro de caminhar pela praia de Copacabana sozinho um dia […] “A praia se alongava no que pareciam milhas de distância. Havia traves e refletores por toda a extensão dela. Até onde se podia ver, havia crianças – milhares delas – jogando futebol na areia. Não é à toa que o Brasil é campeão do mundo”, escreveu o camisa 7. “Se o futebol tem uma alma, é ali que ela vive: naquela praia. Nunca vou esquecer daquele dia com os garotos.”

Curiosamente, a presença do Manchester United na competição provocou uma série de protestos no Reino Unido, pelo fato de o Manchester United ter aberto mão de disputar a FA Cup (Copa da Inglaterra), do qual era o atual campeão, para vir ao Brasil. A atitude foi considerada um desrespeito aos torcedores ingleses e ao futebol local.

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Os Diabos Vermelhos ameaçaram boicotar a competição, mas recuaram por temer represálias da Fifa na eleição da sede da Copa de 2006 (na qual a Alemanha acabaria vencendo a candidatura inglesa).

O Palmeiras deveria ter participado?

Até hoje a presença do Corinthians e ausência do Palmeiras no torneio é alvo de polêmicas. A edição inaugural da competição foi disputada por 8 equipes divididas em dois grupos de quatro participantes. A Europa foi representada pelo Manchester United(campeão da última Champions) e pelo Real Madrid, que entrou como convidado pelo título da Liga dos Campeões de 1998. Faria sentido, portanto, que os representantes sul-americanos fossem os campeões da Libertadores de 1998 (Vasco) e Palmeiras (1999), mas não foi bem assim…

A escolha dos participantes foi tomada dias antes da final da Libertadores de 1999 e dias depois do título do United na Liga dos Campeões. Na verdade, Fifa, Conebol e CBF sempre trabalharam com a ideia de ter um representante do país-sede no torneio (critério que se repetiria nos Mundiais seguintes, a partir de 2005). O Corinthians, então, foi o escolhido por ter sido campeão brasileiro de 1998 – coincidentemente, repetiria a dose em 1999, já com os grupos definidos.

O outro sul-americano deveria ser o campeão da Libertadores de 1999, mas aí entrou em cena o dirigente vascaíno Eurico Miranda, que conseguiu incluir o Vasco na condição de campeão continental de 1998. A mudança seria uma forma de garantir uma equipe carioca e assim atrair mais atenção para os duelos no Maracanã e não correr o risco de ter apenas um brasileiro, já que o Deportivo Cali, da Colômbia, ainda poderia vencer o Palmeiras na final de 1999.

À época, o Palmeiras acatou a decisão sob a promessa de que disputaria o Mundial de Clubes seguinte, a ser realizado em 2001, mas a competição acabou cancelada.

Raja ‘Palmeiras’ Casablanca

O Verdão acabou sendo uma presença indireta no Mundial, ao menos no figurino. O Raja Casablanca, clube marroquino que ganharia fama em 2013 ao eliminar o Atlético-MG no Mundial, estreou no torneio vestindo um uniforme muito semelhante ao do Palmeiras, produzido justamente pela fornecedora do time brasileiro, a  Rhummel.

Reza a lenda da época que as camisas seriam na verdade um protótipo recusado da camisa usada pelo Palmeiras em 1999 e que teria sido oferecido ao Raja Casablanca para promover a fornecedora brasileira durante o torneio.

Raja Casablanca nas páginas da PLACAR de fevereiro de 2000 - reprodução
Raja Casablanca nas páginas da PLACAR de fevereiro de 2000 – Reprodução

O Raja caiu no grupo A e deixou a competição com três derrotas no Morumbi: 3 a 1 para o Real Madrid, 4 a 3 para o Al-Nassr (atual time de Cristiano Ronaldo) e 2 a 0 para o Corinthians.

Khoubbache, do Raja Casablanca, de Marrocos, contra All Nassr, da Arábia Saudita, no Estádio do Morumbi – Alexandre battibugli/PLACAR

Postecoglou x Vasco e United

Um dos grandes técnicos da Premier League na atualidade também esteve presente no Mundial de Clubes de 2000. Com apenas 34 anos e em seu primeiro trabalho como treinador, o australiano Ange Postecoglou  comandava o South Melbourne, de seu país, que integrava o Grupo B da competição ao lado de equipes como Manchester United, Vasco da Gama e Necaxa.  O representante da Oceania deixou a competição com três derrotas, um gol marcado e sete sofridos.

Zebra mexicana com talento de Aguinaga

O Necaxa, do México, então campeão da Concacaf, foi uma das surpresas do Mundial de Clubes de 2000. Liderado pelo carismático e talentoso meia equatoriano, Alex Aguinaga, conhecido por sua visão de jogo e passes precisos, a equipe da cidade de Aguascalientes terminou a competição com a medalha de bronze.

O Necaxa surpreendeu ao exibir um futebol sólido e competitivo, e depois de eliminar no saldo de gols o Manchester United na primeira fase, bateu o Real Madrid na disputa pelo terceiro lugar, nos pênaltis. Este é considerado um dos grandes feitos da história do futebol mexicano.

Real Madrid perfilado com o Necaxa, do México, na decisão do terceiro lugar do Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, Maracanã – PLACAR

Eto’o no Real Madrid

O atacante camaronês Samuel Eto’o fez história no Barcelona, com as conquistas da Liga dos Campeões de 2006 e 2009 (repetiria a dose pela Inter de Milão em 2010). No entanto, ainda que poucos se lembrem, o artilheiro africano iniciou sua trajetória na Europa no rival Real Madrid e recebeu oportunidades justamente no Mundial de Clubes de 2000.

Eto’o entrou na decisão de terceiro e quarto lugares e inclusive converteu seu pênalti na decisão (assista no vídeo abaixo). O goleador deixou o clube da capital espanhola com apenas 7 jogos disputados e sem balançar as redes antes de deslanchar pelo Mallorca.

Boicote da Globo ao Mundial

O primeiro Mundial de Clubes da Fifa representou um pesadelo para a Rede Globo – e um sonho para a Band, transmissora oficial do evento em TV aberta.

Durante os dez dias do torneio, a emissora carioca optou por ignorar o máximo possível o evento organizado pela Fifa, cujos direitos de transmissão pertenciam à Traffic, empresa de marketing esportivo responsável pelo departamento de esportes da Band. Apenas o canal SporTV, na TV fechada, transmitiu as partidas.

A final entre Vasco e Corinthians, que começou às 20h e terminou nos pênaltis, mais de duas horas e meia depois, resultou na vitória da Band na audiência, com média de 35 pontos no Ibope (e pico de 50 no momento em que Edmundo chutou para fora a última penalidade do Vasco), contra 30 da novela ‘Terra Nostra’, que costumava dar 20 pontos a mais.

Kléber, Dinei, Marcio Costa, Augusto, e Gilmar, do Corinthians, comemorando a vitória da finalíssima contra o Vasco, no Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, no Maracanã.

Meia-profecia de Romário

A PLACAR de janeiro de 2000, Romário demonstrava grande confiança de que o retorno da polêmica dupla com Edmundo levaria o Vasco à conquista do Mundial de Clubes em 2000, motivo que fez o artilheiro do Flamengo aceitar a proposta do rival. Ele chegou a comparar o torneio realizado no Brasil ao maior título de sua carreira. “O Mundial de Clubes será tão importante quanto ganhar a Copa do Mundo, em 94.”

Entrevista de Romário na edição de janeiro de 2000
Entrevista de Romário na edição de janeiro de 2000

Como se sabe, apesar de ter se destacado, a dupla não ficou com o título. No entanto, naquela entrevista Romário disse que a PLACAR teria que dar ao final da temporada uma chuteira de ouro para cada um. Edmundo não levou, mas o Baixinho sim. Com uma temporada espetacular pelo Vasco (foi campeão da Copa João Havelange, o Brasileirão daquele ano, e da Mercosul e marcou 73 gols em 73 jogos), Romário foi eleito Bola de Ouro e Chuteira de Ouro pela revista.

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