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As crianças e os adolescentes que devem brilhar nos Jogos Olímpicos

Talentos precoces, elas superam atletas mais velhos e surpreendem pelo desempenho excepcional


RAYSSA LEAL -
RAYSSA LEAL – Mauro Pimentel/AFP

Rayssa Leal
13 anos, skatista

Vice-campeã mundial, foi indicada em 2019 para o Laureus, prêmio dado aos esportistas de maior destaque. Ganhou elogios até de Tony Hawk, lenda do skate: “Ela é fora da curva”, afirmou. A “Fadinha”, como é conhecida, está perto de garantir sua vaga nos Jogos de Tóquio — a classificação depende do ranking mundial e há ainda alguns torneios em andamento.

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A voz fina e meiga não deixa dúvida: Rayssa Leal ainda é uma criança. E também é uma das maiores promessas do esporte olímpico brasileiro. Em Imperatriz, no interior do Maranhão, a menina que acaba de completar 13 anos se esforça para equilibrar os estudos, a vida de skatista — ela já é uma das mais destacadas do país — e os momentos de lazer na companhia dos irmãos. A forma descontraída e leve como trata o esporte não é desinteresse, apenas o comportamento inerente à idade. Em 2019, aos 11 anos, Rayssa surpreendeu o mundo, sagrando-se a campeã mais jovem de uma etapa da Street League Skateboarding, uma das principais competições da modalidade, em Los Angeles. Sentiu a pressão? Nada disso. “Nasci preparada”, ela brinca.

Mas Rayssa não está para brincadeira e não é um caso isolado. A americana Cori Gauff, então com apenas 15 anos, superou a poderosa Venus Williams na primeira rodada de Wimbledon em 2019 e hoje se apresenta como uma das principais promessas do tênis. A chinesa Zhang Jiaqi acumula medalhas de ouro em torneios de saltos ornamentais desde 2018, quando tinha apenas 14 anos. A síria Hend Zaza, nascida em 2009, já está classificada para o tênis de mesa da Olimpíada de Tóquio e será uma das atletas olímpicas mais novas a competir desde a participação da patinadora artística romena Beatrice Hustiu nos Jogos de Inverno de 1968, quando tinha apenas 11 anos.

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ZHANG JIAGI -
ZHANG JIAQI – Lintao Zhang/Getty Images

Zhang Jiaqi
16 anos, saltadora ornamental

O primeiro ouro veio no campeonato asiático de saltos ornamentais em 2018. No mesmo ano, também venceu as duas provas na plataforma de 10 metros da Copa do Mundo, em Wuhan. No Mundial de Esportes Aquáticos do ano seguinte, conseguiu mais uma medalha de ouro para a coleção

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Tanta precocidade levanta um debate: não seria um fardo pesado demais para um corpo em desenvolvimento? Os especialistas afirmam que não. Alguns fatores são preponderantes para que as crianças possam competir em alto nível. “Não vamos ver um atleta de 13 anos numa final olímpica dos 100 metros rasos”, afirma Gustavo Cardozo, diretor da clínica Decordis e estudioso da maturação de jovens atletas. Modalidades que demandam força física requerem a formação completa do corpo. Outras, como o skate, a ginástica e saltos ornamentais, dependem mais da técnica empregada pelos esportistas. “Quando novos, eles têm alta capacidade de aprendizado e treinamento”, diz Cardozo.

Nem toda criança, porém, consegue se desenvolver como atleta. Três fatores são primordiais para o sucesso. O primeiro é o genótipo: já nascer com favorecimento neuromotor e cognitivo. O segundo é o fenótipo, ou seja, o ambiente em que ela está envolvida — na prática, treinamento e alimentação adequados. Por fim, a epigenética, área de estudo dos estímulos internos e externos misturados e a capacidade de aprendizado. A maturação do atleta é outro ponto decisivo. Uma criança de 12 anos pode já ter a idade biológica de 19, dependendo da evolução muscular e hormonal. Seu corpo pode estar pronto para certas atividades e a tecnologia permite que os preparadores identifiquem isso. Uma criança com flexibilidade, força e resistência desenvolvidas cedo tende a ser um atleta de alto rendimento.

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CORI “COCO” GAUFF -
CORI “COCO” GAUFF – Julian Finney/Getty Images

Cori “coco” Gauff
16 anos, tenista

Apareceu como promessa em 2019 ao derrotar Venus Williams e avançar até a quarta rodada em Wimbledon, perdendo para a campeã Simona Halep. Vem de uma família de atletas: o pai jogou basquete; a mãe foi ginasta e também competiu no atletismo

A chave é o tipo de treinamento. “A carga tem de ser individualizada. Se a criança tem característica para ganho de força, pode-se aumentar a carga e a frequência de treino”, avalia Paulo Zogaib, especialista em medicina esportiva e fisiologia da Universidade Federal de São Paulo. Isso vale também para campeões adultos, como Rayssa provavelmente se tornará.

Publicado em VEJA de 3 de fevereiro de 2021, edição nº 2723

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